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Inflação deve romper teto de 6,5% em agosto, alertam analistas

Setor de serviços deverá ser um dos principais motores da alta; quadro é agravado pela impossibilidade de absorver novos choques de oferta

Por Ana Clara Costa e Derick Almeida
4 mar 2011, 14h52

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no Brasil, divulgado nesta sexta-feira – com aumento mensal de 0,8% – reafirma opinião consensual dos economistas de que não será fácil desacelerar a tendência de alta dos preços. A elevação progressiva dos juros e novas medidas macroprudenciais poderão, quiçá, fazer com que o IPCA chegue ao final de 2011 dentro do número máximo estipulado pelo Banco Central, que é de 6,5%. Um grupo de instituições financeiras, mais pessimistas, acreditam que essa meta torna-se mais improvável a cada dia. A razão é que o ‘cobertor está curto’ – as medidas do governo mostram-se ineficazes no combate à alta dos preços; a inflação de serviços custa a ceder; e não há possibilidade de absorver mais nenhum choque de preços (como de alimentos e petróleo). Para 2012, um forte reajuste do salário mínimo deve botar mais combustível no cenário inflacionário.

O banco JPMorgan prevê que o índice deverá chegar a 6,9% já em agosto, no acumulado em 12 meses. “Enquanto é quase certo que o IPCA vai romper o teto da banda em julho ou agosto, também é esperado que ele desacelere no segundo semestre e feche o ano por volta de 6%”, afirma o economista-sênior do banco, Julio Callegari.

Antes que os brasileiros com memória inflacionária pensem que, do dia para noite, os preços começarão a ser remarcados nas prateleiras, é preciso entender que esse mal ainda está longe. No entanto, preocupa o fato de o país não conseguir, mesmo com medidas austeras de contração de crescimento, atingir a meta de inflação anual. “Há componentes rígidos muito acima do teto, como o setor de serviços, cuja inflação já supera 8%”, afirma Callegari.

Sem espaço para correções – Outra preocupação relacionada ao avanço inflacionário é a total ‘falta de espaço’ para que qualquer ‘choque de oferta’ – que se dá quando um problema pontual em determinado setor prejudica abruptamente a produção e faz disparar os preços – seja absorvido. Isso significa que, caso haja outra elevação forte e rápida nos preços dos alimentos, automaticamente o IPCA será contaminado.

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O grande temor dos economistas no momento refere-se ao recente aumento das cotações do petróleo. Nesta sexta-feira, o barril está cotado a 115 dólares, mantendo a tendência de elevação que perdura desde o final de 2010, e que foi aprofundada por conta da instabilidade no Oriente Médio e no Norte da África. Uma possível piora destas turbulências políticas poderiam dar novos impulsos aos preços.

Por enquanto, no Brasil, o risco está afastado porque a Petrobras acaba ‘absorvendo’ este choque – o preço do barril em alta não é repassado aos preços internos, o que acaba afetando as margens da petrolífera. Ainda é um mistério se a estatal manterá indefinidamente esta política e até quando ‘aguentará’ amargar prejuízo (justo num período em que precisa ter caixa para fazer frente a seu bilionário plano de investimento na camada pré-sal). Em comunicado enviado ao site de VEJA, a estatal afirmou que sua política é de “não repassar alterações no preço dos combustíveis no curto prazo”. A empresa reiterou que visa o longo prazo e “não passa a volatilidade do mercado para os preços atuais”.

“Na ocasião de um repasse de custos pela Petrobras, em virtude dos conflitos no norte da África e no Oriente Médio, a inflação poderia extrapolar o topo da banda”, afirma o economista-chefe do banco Barclays, Marcelo Salomon.

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A boa notícia é que o segundo semestre deve apresentar preços mais acomodados, em reação à desaceleração da economia doméstica. Por isso, os economistas trabalham com a possibilidade de a inflação acumulada em 12 meses recuar, de modo, que em dezembro, não ultrapassaria o topo da meta inflacionária (6,5%) neste ano. Mesmo assim, mais uma vez, o país continuaria distante do centro da meta (4,5%).

Futuro incertoSe a batalha de 2011 contra a inflação já parece perdida, a de 2012 tampouco será tranqüila. Apesar de ter apresentado o corte de 50 bilhões de reais no Orçamento da União, o governo não sinalizou um plano de contenção de despesas de longo prazo – o que faz com que as projeções para a inflação no ano que vem mantenham-se altas, em 4,8%, segundo o boletim Focus, do BC.

Para Julio Callegari, do JPMorgan, o acordo fechado entre o governo e as centrais sindicais no que se refere ao valor do mínimo é outro ponto preocupante. O pacto – transformado em lei até 2015 – prevê o reajuste anual da inflação acrescido da alta do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Isso significa que, em 2012, o mínimo poderá subir mais de 12%, graças à aceleração de 7,5% na economia brasileira em 2010 – o que afetaria de maneira expressiva as contas públicas e exerceria pressão adicional sobre a demanda.

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Ainda entre os fatores que podem impulsionar a alta da inflação está o dólar. Apesar de as previsões apontarem para uma estabilização no valor da moeda americana, caso alguma mudança aconteça e aumente o apetite dos investidores por dólares, levando-os a apreciar, os efeitos inflacionários seriam imediatos. A razão: as importações, que já somam 30,3 bilhões de dólares em 2011, respondem por boa parte da demanda interna.

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