Inflação de 33% e desvalorização cambial de 47%: o lado B da economia da Nigéria
PIB da Nigéria foi o que mais cresceu no período em comparação com o mesmo período do ano passado, mas país enfrenta graves problemas econômicos e sociais
Com um avanço de 2,4% no último trimestre, o PIB da Nigéria foi o que mais cresceu no período em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo ranking divulgado pela agência de classificação de risco Austin Rating. O resultado é duas vezes e meia maior do que o avanço da economia do Brasil nos últimos meses, que teve uma expansão semelhante de crescimento que a China, com alta de 0,9%.
País mais populoso da África com cerca de 222 milhões de habitantes, a taxa anualizada de crescimento do PIB da Nigéria é de 3,46% no terceiro trimestre de 2024, aumento em relação ao mesmo período do ano anterior. A projeção da Austin Rating é que o país cresça 2,9% em 2024 e 3,2% em 2025.
O resultado do crescimento da economia é uma notícia positiva para um país que enfrenta graves problemas sociais e econômicos. A taxa de inflação anual está na casa dos 33%, segundo dados divulgados em outubro e a moeda nacional sofreu uma desvalorização de 47% frente ao dólar, neste ano. Embora a taxa de desemprego seja baixa, de 4,3%, a informalidade no país é alta: 93%.
Para tentar conter o avanço da inflação, o Banco Central do país tem subido a taxa de juros, que está em 27,5%. O país também sofre com a questão fiscal, e tem passado por reformas econômicas para reduzir as despesas públicas, desde que o presidente Bola Tinubu assumiu em maio de 2023. Uma das mudanças que ele fez foi colocar fim aos subsídios para o preços dos combustíveis, que subiram até 200% em algumas partes do país e levaram a inflação nas alturas. Em julho do ano passado, Tinubu chegou a decretar estado de emergência por conta da elevação dos preços e a consequente falta de comida na mesa da população do país.
Embora a dúvida pública tenha correspondido ao 40% do PIB em 2023, a dívida tem um custo alto e consumiu 111%, das receitas do ano passado, segundo dados do Banco de Desenvolvimento da África. Ou seja, apenas para pagar o custo da dívida o país gastou mais do que arrecadou no ano passado.
Nesta terça-feira, 3, o país voltou ao mercado internacional e se endividou mais um pouco. É que o país anunciou que emitiu 2,2 bilhões de dólares em dívida pública, pagando juros em torno de 10%. Essa emissão foi a primeira desde 2022 e gerou uma demanda muito superior à oferta, com investidores interessados oferecendo mais de 9 bilhões de dólares.
Desempenho por setores no PIB da Nigéria no 3º trimestre
O setor de Serviços foi responsável por mais da metade do total de riquezas geradas no país: representa 53,58% do PIB total, registrando um crescimento de 5,19% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo os dados do Escritório Nacional de Estatísticas no país.
O setor agrícola, que havia crescido 1,30% no terceiro trimestre de 2023, registrou um aumento de 1,14% em 2024. O setor industrial apresentou um crescimento de 2,18%, um desempenho também superior ao aumento de 0,46% registrado no terceiro trimestre de 2023.
Maior produtor de petróleo da África, a indústria petrolífera representa 5,57% do PIB no período.O país registrou uma produção média diária de petróleo de 1,47 milhão de barris por dia (mbpd), 0,02 mbpd a mais do que a média diária de 1,45 mbpd registrada no mesmo trimestre de 2023 e 0,07 mbpd superior ao volume de produção do segundo trimestre de 2024, que foi de 1,41 mbpd.
O crescimento real do setor de petróleo da Nigéria foi de 5,17% (na taxa anualizada) no terceiro trimestre de 2024. A alta é de 6,02 pontos percentuais em relação à taxa registrada no mesmo período do ano passado, mas 4,98 pontos percentuais menor do que o resultado registrado no segundo trimestre.
Já a indústria não-petrolífera da Nigéria cresceu 3,37% no terceiro trimestre de 2024. O relatório do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS) aponta que essa taxa foi superior aos 2,80% registrados no segundo trimestre de 2024 e 0,62 ponto percentual maior do que os 2,75% registrados no mesmo trimestre de 2023.
O setor não-petrolífero contribuiu com 94,43% do PIB nacional no terceiro trimestre. percentual inferior à participação registrada no terceiro trimestre de 2023, que foi de 94,52%, mas superior ao segundo trimestre de 2024, que foi de 94,30%”, afirma o relatório.