Por Rodrigo Viga Gaier e Vivian Pereira
SÃO PAULO, 17 Jan (Reuters) – A inflação medida pelo Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) desacelerou a 0,08 por cento em janeiro, a menor taxa desde julho do ano passado, após alta de 0,19 por cento em dezembro, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) nesta terça-feira.
Apesar do recuo, em comparação com os outros IGPs (o IGP-M e o IGP-DI), surgiram os primeiros sinais de pressão sobre a inflação e, ao contrário de seus pares, o IGP-10 não se manteve no terreno negativo.
“A comparação mais normal e correta é com a mesma leitura do mês anterior, mas o IGP-10 teve uma desaceleração que outros IGPs já tinham mostrado, e ao se olhar na ponta se vê que a desaceleração não foi tão forte assim”, disse o economista da FGV Salomão Quadros.
“O fator novo dentro do ciclo de IGPs é a pressão agrícola, em especial da soja. A saída do IGP do terreno negativo não altera o panorama de inflação baixa nesse começo de ano. Não há pressão generalizada e só de algumas culturas agrícolas”, acrescentou.
Entre os componentes do IGP-10, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) caiu 0,27 por cento em janeiro, contra deflação de 0,03 por cento em dezembro. O IPA industrial passou de leve alta de 0,01 para recuo de 0,53 por cento, enquanto o IPA agropecuário reverteu a queda de 0,12 para elevação de 0,44 por cento.
MINÉRIO DE FERRO
Os grupos que mais contribuíram para a deflação mais forte do IPA em janeiro foram alimentos processados, combustíveis e matérias-primas brutas agropecuárias e minerais.
As principais quedas individuais de preços no atacado foram de minério de ferro (-6,04 por cento), bovinos (-3,85 por cento) e carne bovina (-3,06 por cento). Já as maiores altas foram de mandioca (9,5 por cento), banana (13,42 por cento) e soja em grão (1,29 por cento). “A entressafra de bovinos acabou e entre novembro e dezembro as carnes tiveram um repique que não era sustentável”, disse Quadros.
“O minério de ferro caiu no mercado internacional e, no caso dos combustíveis, o aumento da CIDE da gasolina para o produtor ficou para trás”, afirmou o economista. “O álcool também foi favorecido pela redução da mistura da gasolina e aumentou a oferta, embora a situação não seja ainda confortável”, apontou, lembrando que os preços da gasolina passaram de alta de 9,9 por cento em dezembro para estabilidade em janeiro e os do álcool recuaram 2,31 por cento, ante elevação de 1,61 no mês de dezembro.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançou 0,92 por cento, frente a elevação de 0,65 por cento no mês passado. Contribuíram para o aumento os grupos Educação, Leitura e Recreação, com alta de 1,92 por cento, e Alimentação, com incremento de 1,77 por cento.
“Podemos esperar uma inflação acima de um por cento nos demais IGPs”, previu Quadros. “Os focos vêm da educação e dos alimentos. É um período de alta sazonal e concentra no primeiro bimestre. Depois, o varejo deve ter taxas bem menores.”
Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) teve alta de 0,43 por cento, após elevação de 0,53 por cento antes, com o item mão de obra diminuindo o ritmo de alta para 0,56 por cento no período, contra 0,81 por cento anteriormente.
Em 12 meses, o IGP-10 acumula alta de 4,90 por cento e mantém a trajetória de desaceleração iniciada no começo de 2011. Segundo a FGV, há espaço para a continuidade desse movimento ao longo deste semestre. “Pelo menos nos próximos 2 meses isso é garantido, até porque tivemos no ano passado taxas elevadas, que não vão se repetir neste ano”, disse Quadros. Ele lembrou que, em fevereiro de 2011, o IGP-10 foi de 1,03 por cento e, em março, de 0,84 por cento.
NOVAS PONDERAÇÕES
A partir de fevereiro, entram em vigor as novas ponderações do IPC.
As mudanças nos pesos dos grupos e dos itens está diretamente ligada as alterações de ponderações promovidas pelo IBGE para o IPCA, índice de inflação oficial do país, usado no sistema de metas de inflação do governo. A FGV também baseou suas mudanças na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009, elaborada pelo IBGE.
Na semana passada, o IBGE revelou os novos pesos do IPCA e, entre as mudanças estão a maior relevância para grupos como transportes e habitação e uma perda de peso para o grupo educação, que normalmente pressiona os índices de preços no começo de cada ano.
As mudanças no IPCA já começam a ser incorporadas a partir da pesquisa de janeiro ao passo que os IGPs da FGV só começam a capturar as alterações nas divulgações de fevereiro.