Holding J&F desiste de comprar a Delta Construção
Empresa dos irmãos Batista diz que a deterioração dos negócios da construtora nos últimos dias embasa a medida

J&F nega que quebra de sigilo fiscal teria precipitado a decisão
A holding dos irmãos Batista, a J&F Participações, acaba de anunciar a desistência da compra da construtora Delta – empreiteira líder em obras do PAC, fundada pelo empresário Fernando Cavendish e que está envolvida nas denúncias que mostram as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos de todo o país. A companhia também comunicou que está de saída da gestão da construtora.
Em 8 de maio, o grupo havia anunciado a entrada na administração da Delta e apenas a intenção de adquiri-la. Uma decisão de compra definitiva só ocorreria após a conclusão de um processo de auditoria, conduzido na companhia pela KPMG, cujo objetivo era fazer um levantamento completo da situação financeira e dos contratos da Delta. No mercado, há rumores de que a desistência guarda relação com a quebra do sigilo fiscal da empreiteira, determinada pela CPI do Cachoeira. A assessoria de comunicação da Delta, contudo, nega a informação.
O comunicado da J&F explica que a desistência deve-se à própria deterioração dos negócios da Delta, sobretudo nos últimos dias. “O prolongamento da crise de confiança sobre a Delta tem deteriorado o cenário econômico-financeiro da construtora, gerando um fluxo financeiro negativo e alterando substancialmente as condições inicialmente verificadas”, diz o documento.
O texto também destaca que a holding dos irmãos Batista não está sujeita a multa por rejeitar o negócio. “Conforme estabelecido no contrato preliminar assinado entre a J&F e o controlador da Delta, a ocorrência de eventos inesperados ou adversos permite à J&F o direito de rescindir o memorando de entendimentos sem aplicação de multas ou penalidades”, ressalta o comunicado.
Segundo a J&F, outros negócios no setor de construção e infraestrutura serão avaliadas oportunamente.
Críticas – A proximidade da J&F do governo federal – o BNDES é acionista de uma companhia do grupo, o frigorífico JBS – levantou suspeitas sobre a operação. Tanto a companhia quanto o Palácio do Planalto negaram veementemente ter havido aval governamental para a transação. Contudo, o próprio José Batista Júnior, um dos controladores da J&F, encarregou-se de revelar essa ‘costura’ do governo Dilma em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
A J&F tinha ainda outro sério risco pela frente. A Controladoria-Geral da União (CGU) – que instituiu comissão para apurar o envolvimento da empresa com tráfico de influência na administração pública e fraudes no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – poderá declará-la em breve inidônea. Essa decisão teria o poder de proibi-la de firmar contratos com o governo. Em 21 de maio, a J&F apresentou recurso na CGU pedindo mais prazo para defender a construtora.