Haddad, Tebet e Campos Neto se reúnem para tratar sobre a meta de inflação
Encontro do Conselho Monetário Nacional define as diretrizes; ministro da Fazenda defende uma alteração no modelo, com metas contínuas
O encontro do Conselho Monetário Nacional (CMN) marcado para a tarde desta quinta-feira, 29, está cercado de expectativas. O encontro acontece uma semana após a última manutenção da Selic em 13,75% e coloca frente a frente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto e os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, mas a atenção maior está voltado ao objetivo central da reunião: a definição das metas de inflação.
O encontro dessa quinta coloca em pauta a definição da meta de 2026 e também uma discussão sobre a mudança do regime de metas. Ao invés da definição ano a ano das metas, como é hoje — 3,25% para este ano e 3% para os dois próximos — o Ministério da Fazenda defende uma meta contínua.
O modelo é adotado em grandes economias, como nos Estados Unidos. Neste caso, se passaria a considerar a inflação acumulada em um determinado período de tempo de maneira contínua (se o mês é maio, então o BC analisaria os dados acumulados até maio). No país, atualmente, a meta de inflação se refere ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado de janeiro a dezembro, o chamado ano-calendário. Hoje, a meta perseguida é de 3,25%, com a inflação acumulada em 3,94% até maio. No entanto, a expectativa até o fim do ano é de 5,06%, segundo estimativas do mercado financeiro.
Caso haja uma sinalização de mudança, será a primeira a mexer na estrutura desse sistema, implementado em 1999. Em junho, o CMN costuma confirmar as metas dos dois próximos anos e anunciar a do terceiro ano seguinte. “[Vamos discutir] se é o caso ou não de tomar essa decisão sobre padronizar em relação ao resto do mundo o programa de metas de inflação do Brasil, que é sui generis, só no Brasil e mais outro país, acho que Turquia, que usa meta calendário”, disse o ministro da Fazenda em entrevista à Globonews.
Em relatório, o Itaú classifica como positiva a discussão da mudança do sistema da meta. Segundo o banco, essa mudança traria avanços ao alinhar o Brasil às melhores práticas internacionais. “A mudança para uma meta contínua pode trazer avanços, como institucionalizar a prática do BC de mirar um horizonte contínuo, evitar medidas ineficientes e alinhar o Brasil a melhores práticas internacionais”, diz Mario Mesquita, economista-chefe do banco Itaú em relatório.
No entanto, para implementar a meta contínua, será necessário redefinir o processo de verificação e possivelmente eliminar a necessidade de definir anualmente a meta pelo CMN. O banco ressalta que é importante manter um prazo de convergência adequado para evitar riscos de expectativas desancoradas e inflação acima da meta por um período prolongado. “Caso seja confirmada a meta contínua, espera-se que o BC continue buscando a convergência da inflação para 3% em cerca de 18 meses. Não seria apropriado alongar o prazo de convergência devido ao risco de expectativas desancoradas e inflação acima da meta por um período prolongado”, avalia Mesquita.
Para os especialistas, o sistema de metas no Brasil tem sido rígido por mais de duas décadas e necessita de atualizações. “Há muito tempo, venho defendendo a questão da mudança do ano-calendário. Imagine chegarmos em dezembro e haver um reajuste de combustíveis. Isso significaria que, mesmo estando dentro da meta durante o ano todo, no último mês, ela não seria cumprida”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.