Haddad diz que governo vê ‘corte consistente’ de juros a partir de agosto
Ministro da Fazenda citou preocupação com crescimento econômico a partir de 2024 e disse que os indicadores convergem para corte da Selic

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira, 29, que o governo federal espera “cortes consistentes” na taxa básica de juros a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária, agendada para agosto. A fala de Haddad aconteceu logo após a reunião do Conselho Monetário Nacional, onde foi mantida em 3% ao ano a meta de inflação para os próximos três anos e feita a alteração na aferição, de ano-calendário para horizonte contínuo a partir de 2025.
Segundo Haddad, há uma convergência de indicadores para o corte da Selic, atualmente em 13,75%, devido aos indicadores econômicos. A inflação está em processo de desinflação e acumulou 3,40% em 12 meses na prévia de junho. “Há uma preocupação muito grande com o resultado do crescimento da economia a partir do ano que vem. Há uma desaceleração e queremos garantir um 2024 melhor que 2023”, disse. “Praticar uma taxa de juros na casa de 9% em termos reais é algo que deveria ser revisto em proveito da sociedade, à luz dos indicadores”, continuou.
Para este ano, a estimativa do PIB é de 2,18%, segundo o mercado financeiro, e de 1,22% para o próximo ano. No resultado do primeiro trimestre, a economia avançou 1,9%, em grande parte pelos resultados do agronegócio. Já indicadores de demanda, como o consumo das famílias, desacelerou de 0,4% para 0,2% no período, movimento que foi visto também no setor de serviços, olhando pela ótica da produção.
O atual patamar da Selic é o grande ponto de fricção do governo federal na política econômica, gerando críticas duras vindas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados próximos. Em entrevista concedida à Rádio Gaúcha, Lula disse que não existe hoje nenhuma explicação “econômica, sociológica ou filosófica” para que a taxa de juros esteja a 13,75%. “Esse cidadão [Roberto Campos Neto] vai ter que pensar e o Senado vai ter que saber como lidar com ele”, disparou. Também nessa quarta, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que, se o BC fosse uma empresa privada, o presidente da autarquia já teria sido demitido.