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GWI convoca cotistas a fazer novos aportes em fundo

Fundo que perdeu todo o seu patrimônio líquido na última semana, e ainda ficou negativo, deverá receber novos recursos de aplicadores

Por Ana Clara Costa
17 ago 2011, 07h31

Os cotistas do fundo GWI Private da gestora de recursos GWI – que teve seus oito fundos fechados no último dia 11 por perdas no mercado de ações – foram convocados a realizar novos aportes financeiros, segundo informações da administradora BNY Mellon. Como o Private operava com alavancagem (movimentando valores maiores que seu capital próprio), os prejuízos na BM&FBovespa, sobretudo em 8 de agosto, deixaram seu patrimônio negativo em 26 milhões de reais.

De acordo o artigo 13 da Instrução nº 409, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os cotistas devem responder inteiramente pelo patrimônio negativo de um fundo, sem que o administrador ou gestor seja responsabilizado. Isso significa que os seis investidores que aplicaram no GWI Private, no mínimo, 10 milhões de reais, e perderam a totalidade de seus investimentos, terão de colocar mais dinheiro para reequilibrar as perdas. Segundo informações do site da CVM, o fundo investia em ativos estrangeiros. Uma assembleia de investidores de todos os fundos fechados foi convocada pela administradora e deverá realizar-se no próximo dia 26 para definir os novos rumos da gestão.

O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), William Eid Junior, especialista em fundos, afirma que esta situação é rara no mercado brasileiro. Nada parecido acontece desde o final da década de 1990, quando um fundo do banco Garantia ficou com o patrimônio negativo, antes de a instituição fundada por Jorge Paulo Lemann ser vendida ao banco Credit Suisse. “O investidor que aplica em fundos alavancados assina um documento atestando que está ciente das perdas e que pode ser obrigado a colocar mais dinheiro, caso o fundo venha a quebrar”, explica.

Gestão controversa – A GWI, fundada pelo gestor coreano Mu Hak You, ficou célebre por operar fundos alavancados que faziam operações a termo – ou seja, firmavam contratos de compra e venda de ações a um preço e data de liquidação pré-determinados, mas sem terem o papel, de fato. No mercado financeiro, esse tipo de jogada arriscada pode dar ganhos astronômicos quando se acerta, mas também tem o poder de quebrar o fundo que erra a aposta. Na crise financeira internacional anterior, em 2008, a gestora chegou a fechar seus fundos de investimento para saques e resgates. Com posições fortes em papeis como Lojas Americanas e B2W, uma das carteiras da GWI chegou a perder 95% de seu patrimônio líquido em apenas um dia. Como foi fechada a tempo, não chegou a ficar negativa.

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Na época, a BNY Mellon – que é administradora dos fundos da GWI, o que significa que assume a custódia dos papéis, colocando-se como intermediária junto aos clientes – convocou uma assembleia de cotistas para votar a saída do coreano Mu Hak You da gestão. A instituição financeira confirmou ao site de VEJA que a maioria avassaladora dos investidores, que também eram de origem coreana, votou por sua permanência. “Se, naquele momento, ele pedisse para que as pessoas que estivessem naquela sala realizassem mais aportes, mesmo com o fundo quebrado, eles realizariam”, afirma um cotista que assistiu à assembleia, mas não quis se identificar. Procurada pela reportagem, a GWI não retornou o pedido de entrevista.

Entre 2008 e 2010, após reabrir os fundos fechados, a GWI criou novos, como o Dividendos, o High Growth e o Small e Mid Caps. Além disso, adquiriu participação em novas empresas, como os 5% da Marfrig comprados no início deste ano. A alavancagem continuou em sua estratégia de operação. Seu maior fundo, o Classic, conta com patrimônio líquido de 60 milhões de reais, 143 cotistas e acumula rentabilidade de mais de 2.000% desde sua criação em 1999. Já o Leverage, que tem 493 investidores, está praticamente liquidado, com perdas de 94% desde que foi lançado, em 2004 – ou seja, um investidor que tivesse aplicado 100 mil reais naquele ano estaria hoje com apenas 6 mil reais. A carteira desse fundo acumula perdas de 28 milhões de reais – ainda que seu patrimônio esteja positivo e não exija, até o momento, novos aportes de cotistas.

Apesar de ter se mantido na gestão, Mu Hak You não era querido por todos os cotistas. Depois de ganhar as páginas dos jornais devido às perdas de 2008, o gestor, conhecido por guardar um estilo de vida discreto e jamais falar com a imprensa, tomou atitudes controversas. Fontes afirmaram ao site de VEJA que You chegou a contratar seguranças para se proteger de possíveis compatriotas irritados com os prejuízos da GWI. Perante os investidores, decidiu adotar uma postura mais austera. Os comunicados mensais que detalhavam as posições das carteiras foram substituídos por cartas trimestrais apontando apenas a oscilação das cotas no período – informações que estão, inclusive, disponíveis no site da gestora. Se um investidor quisesse ter acesso aos detalhes da carteira, era instruído a enviar uma carta à sede da gestora para requerer os dados – mesmo as informações estando disponíveis no site da própria CVM.

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