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‘Governo tem de ter papel de liderança na proteção de dado’, diz executivo

Especialista no tema, o americano Mark Forman defende uma política que envolva autoridades, acadêmicos e empresas para que a segurança se torne mais eficaz

Por da Redação
27 set 2019, 15h36

Episódios como o vazamento de conversas privadas do ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça Sergio Moro com procuradores da Operação Lava Jato colocam em evidência a vulnerabilidade das informações na internet. Embora a população e a sociedade estejam cada vez mais atentas à importância da privacidade e da proteção de seus dados pessoais, é preciso que haja uma política que envolva governos, o mundo acadêmico e empresas privadas, com compartilhamento de informações estratégicas entre eles, para que a segurança de dados se torne mais eficaz. A afirmação é do americano Mark Forman, um dos maiores especialistas do mundo no tema.

Vice-presidente para a área de governo digital da Unisys, uma das líderes globais em TI (tecnologia da informação), Forman foi o primeiro executivo-chefe de informação (CIO) do governo dos Estados Unidos, no mandato de George W. Bush. Forman deu a sua visão sobre o que o governo brasileiro tem de priorizar ao fazer a sua transformação do mundo analógico para o digital: “As autoridades devem fazer pesquisas para entender como podem melhorar a vida das pessoas. É o que as empresas fazem no mundo dos negócios. Governos precisam simplificar seus processos”, diz o executivo. A seguir, a entrevista que Forman deu a VEJA por telefone:

A sociedade e as pessoas estão discutindo de maneira apropriada o tema da segurança dos nossos dados na internet? Todo ano, nós analisamos globalmente, e dentro de cada região, a visão das pessoas sobre cibersegurança. Não há dúvida de que, nos últimos dois anos, houve um crescimento acelerado da preocupação delas com suas identidades online e em como protegê-las. Elas também estão preocupadas em saber se grandes instituições como os governos são capazes de proteger seus dados pessoais e garantir a sua privacidade.

Qual a maior ameaça que as pessoas enfrentam na internet? Não importa quantas vezes tenhamos tentado, como sociedade, lidar com a cibersegurança, o fato é que nós sempre queremos estar mais conectados. Surgiu tanta inovação para nos conectar às outras pessoas que é impossível pensar em abrir mão da internet.

Não parece que as pessoas queiram sair da internet. O que é possível fazer para aumentar a segurança? Nós acreditamos que é necessária uma nova forma de lidar com a questão. O CEO da Unysis, Peter Altabef, esteve envolvido na criação de uma iniciativa com o governo americano, que chamamos de Cyber Moonshot. Está construído em torno de seis pilares: tecnologia, comportamento, educação, ecossistema, privacidade e políticas públicas. É preciso engajar líderes nas esferas de governos, na academia e na indústria para que eles descubram juntos os passos ideais e se envolvam com as iniciativas necessárias nos seis pilares para que a evolução da segurança se torne possível.

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O que quer dizer quando fala em educação? Crianças têm que assistir a aulas de conteúdo cívico, aprender como funciona o governo e o que são as leis. Por que não somos ensinados sobre cibersegurança e em como proteger nossos aparelhos? As crianças já crescem em um mundo totalmente conectado.

Quanto tempo será necessário para que as pessoas fiquem seguras? Estamos falando em um projeto de longo prazo. Vamos pensar na evolução dos computadores e das redes dos anos de 1990 até os dias atuais. São processos que levaram 25, 30 anos. Os problemas se tornaram mais complexos. E as tentativas de solucioná-los também ficaram mais complexas e caras.

E enquanto isso toma forma, o que pode ser feito no curto prazo para proteger os dados das pessoas?Uma lei de proteção de dados é um elemento chave, mas isso é só uma parte. As companhias têm um incentivo para proteger os dados das pessoas, mas não para atuar em conjunto quando toda a indústria está sendo atacada. Eu considero que os governos têm que desempenhar um papel de liderança e propiciar um ambiente em que a informação possa ser compartilhada rapidamente em momentos em que a indústria esteja sendo atacada, para que medidas de contenção sejam tomadas.

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E no nível das pessoas comuns? Da perspectiva do cidadão, de identidades relacionadas a fraudes bancárias e roubos, é como se fosse uma nova era de cumprimento das leis. Uma das descobertas que tivemos trabalhando com alguns dos maiores departamentos de polícia ao redor do mundo é como lidar com roubos no ambiente atual de segurança cibernética. Antigamente, uma pessoa roubava um banco e o departamento de polícia local cuidava do caso. Mas, atualmente, ladrões podem afetar contas em bancos diferentes, sem qualquer presença física no país em questão. Vemos o advento de novas ferramentas para o cumprimento das leis internacionalmente, para que seja possível identificar os criminosos, em uma ação conjunta com bancos e a comunidade.

É possível que, no futuro, as pessoas ainda continuem vulneráveis? Sim e vou dar um exemplo. Vamos olhar para o número de ciber ataques contra departamentos de polícia: são mais de 200 000 casos diariamente. As pessoas estão dispostas a enviar informações e denúncias de crimes ao departamento de polícia por meio dos canais digitais, seja por meio de mensagem de texto ou fotos. Mas nossas pesquisas mostram que os cidadãos não querem fazer isso se não confiam que sua privacidade será preservada. A proteção de dados pelo departamento de polícia é algo que deveria ser fundamental.

Existe alguma nova tecnologia mais eficaz para prevenir ciber ataques? As tecnologias continuam a evoluir. Ironicamente, muitos governos e provedores estão se voltando para a criptografia. Tem sido uma das tecnologias de salvaguarda há mais tempo adotada e nós acreditamos que é uma das maneiras mais fortes de proteger dados que estão em trânsito, seja informações que estão em um telefone celular ou no data center de um governo.

O governo brasileiro anunciou a intenção de acelerar a transformação digital dos serviços públicos. O senhor liderou esse processo nos Estados Unidos. Quais lições podem ser tiradas? Tudo tem a ver com a qualidade e a eficácia do serviço para o cidadão e para quem faz negócios. Eu divido o processo de implantação em duas fases. Na primeira, é preciso identificar os serviços prestados e descobrir como melhorar a relação custo-benefício e a qualidade da TI para os órgãos públicos. A segunda fase é mostrar de maneira prática para os cidadãos como a transformação digital reduz custos e aumenta a eficiência dos governos. As autoridades devem fazer pesquisas para entender como podem melhorar a vida das pessoas. É o que as empresas fazem no mundo dos negócios. Governos precisam simplificar seus processos regulatórios. É a mudança da papelada para o mundo digital. Ela é movida pelo que os cidadãos querem e por aquilo de que o país precisa para aumentar o crescimento econômico, tomando vantagem de ferramentas como inteligência artificial e blockchain para dar mais eficiência aos serviços e reduzir custos.

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