Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Governo corta R$ 28 bi do Orçamento. E o país não ganha nada com isso

Equipe econômica de Dilma ainda decidiu abater 45 bilhões de reais da meta de superávit primário - e oficializou a contabilidade criativa para fechar contas do ano

Por Gabriel Castro, de Brasília
22 Maio 2013, 12h28

O governo federal anunciou, nesta quarta-feira, um corte de 28 bilhões de reais no Orçamento deste ano, de 937,9 bilhões de reais. Parece um bom sinal, afinal, é um dinheirão a menos que sairá dos cofres públicos para sustentar a pesada máquina brasileira. Mas o que o governo faz é vender uma ideia de austeridade que não é cumprida na prática. “O governo sinaliza cortes para mostrar ao mercado que tem disciplina orçamentária, mas nada acaba acontecendo”, diz Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. “O corte de gastos é o que chamamos de ‘corte de vento’.”

A economia de gastos, por exemplo, é menor do que a realizada no ano passado, de 55 bilhões de reais. O motivo é que a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff praticamente oficializou o uso da chamada ‘contabilidade criativa’ para cumprir a política fiscal do ano. A manobra permite que o governo anuncie que o superávit primário previsto de 155,9 bilhões de reais cairá para 110,9 bilhões de reais. A diferença de 45 bilhões de reais virá especialmente dos descontos dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O mesmo artifício controverso foi utilizado no último dia do ano passado. Ou seja, embora o governo queira mostrar que reduziu a meta do superávit fiscal (economia obrigatória para pagar os juros da dívida pública), ela permanece em 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) – com ou sem artificialismos.

Para justificar as suas ações, o governo afirma que as medidas vão ajudar a estimular o crescimento da economia, garantindo mais verba para os investimentos federais. Porém, nem mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega pareceu convencido desse discurso. Durante a divulgação dos dados, Mantega admitiu que a projeção do governo para a expansão da economia, de 3,5%, é apenas um parâmetro – o que indica que o governo deve rever essa projeção nos próximos meses. De fato, as medidas anunciadas pelo governo nem começam a sanar os verdadeiros entraves para o crescimento do país. Nesta semana, pela primeira vez, o mercado financeiro cortou a prespectiva de alta do Produto Interno Bruto (PIB) para um patamar inferior a 3%.

Leia ainda: Em prévia, inflação desacelera em maio para 0,46%

Analistas dizem ao BC que inflação verdadeira supera 6%

O governo contraria o próprio discurso quando o assunto são investimentos federais. O Ministério do Planejamento prevê que os investimentos cresçam de 3,5% em 2012 para 6% neste ano. Os números de 2012, contudo, antecipam o que vai acontecer neste ano. No ano passado, a União investiu 46,9 bilhões de reais no exercício de 2012, apenas 40% dos 114,6 bilhões de reais previstos no Orçamento do ano. Desse montante, 25,3 bilhões de reais foram de restos a pagar, ou seja, de compromissos assumidos em anos anteriores mas não quitados nos respectivos exercícios. Os dados foram contra a promessa federal de que os investimentos seriam poupados em ano de contenção fiscal – em 2012, o corte no Orçamento foi de 55 bilhões de reais. O baixo ritmo de investimentos no ano passado influenciou o desempenho do PIB brasileiro, que cresceu menos de 1%.

É preciso, portanto, tratar dos problemas estruturais. Pouco foi feito durante o governo Dilma Rousseff para retirar barreiras como a complexidade tributária. Além disso, a interferência do governo em diversos setores, como nos bancos e nas empresas do ramo de energia, injetou uma boa dose de desconfiança nos investidores nacionais e estrangeiros. Empresário sem confiança no futuro não investe. O efeito é que, apesar de os juros e de o desemprego estarem em patamares reduzidos, a economia permanece virtualmente estagnada há dois anos.

Continua após a publicidade

Para se ter uma ideia, segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura de Base (Abdib), o Brasil precisaria investir 6% do PIB todos os anos em infraestrutura para manter o crescimento da economia em torno de 3%. A perspectiva no ano passado é de que o país conseguiria atingir essa relação investimento/PIB em 2016. Abaixo disso, a expansão começa a ser prejudicada. Somente o gargalo dos portos provoca uma perda de 83 bilhões de dólares para o país todos os anos.

Contabilidade criativa – Ao informar que o governo abaterá 45 bilhões de reais da meta de superávit, o ministro Mantega oficializa o uso da chamada “contabilidade criativa”, que garantiu o cumprimento da meta fiscal no ano passado. Tal manobra – legal, embora criticada por especialistas – inclui abatimentos dos investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), desonerações tributárias, entre outros. Antes mesmo do relatório orçamentário ser apresentado, o governo já publicara, na segunda-feira, no Diário Oficial da União, uma medida provisória que permitirá que o Tesouro faça uso antecipado de créditos de Itaipu para atingir a meta de superávit.

Dos 155,9 bilhões de reais da meta fiscal, o governo pode, por lei, abater até 65,2 bilhões de reais (45,2 bilhões de reais com o PAC e 20 bilhões com desonerações tributárias). Contudo, Mantega afirmou que não é intenção do governo usar a margem dos 65,2 bilhões prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Continua após a publicidade

Receita – No documento divulgado nesta quarta-feira, o governo ainda encurtou a estimativa de receita em 67,8 bilhões de reais, passando-a para 1,18 trilhão de reais. O dado reflete as inúmeras desonerações e incentivos fiscais e tributários que o governo anunciou temporariamente para setores específicos. Além disso, Mantega usou seu tradicional tom otimista para dizer que é possível ter uma surpresa positiva na arrecadação que permita um abatimento menor dos que os 45 bilhões de reais.

Leia mais:

Meta de superávit primário para 2013 é de R$ 108,091 bi

Continua após a publicidade

The Economist critica contabilidade criativa do governo brasileiro

Gastos – Na escolha por quais setores ajudariam o governo central a diminuir as despesas, os programas sociais foram poupados – os investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Minha Casa, Minha Vida e nas áreas de Ciência e Tecnologia, Saúde e Educação. O orçamento relativo à Copa do Mundo de 2014, à Olimpíada de 2016 e ao programa Brasil Sem Miséria também não foram alterados. Quem terá de apertar os cintos, contudo, serão, em volume absoluto, os ministérios das Cidades (5 bilhões de reais) e da Defesa (3,6 bilhões). Outros 5 bilhões foram retirados do total destinado a operações de crédito.

Segundo as contas federais, o corte de despesas não poderia ser muito grande, dado o fraco ritmo de arrecadação de tributos. Nos primeiros quatro meses deste ano, a Receita Federal recebeu 0,34% menos recursos, em termos reais, do que em igual período do ano passado.

Continua após a publicidade

Mas, o total contingenciado atinge diretamente as emendas parlamentares, em um momento em que o Congresso tem entrado em atrito com o Executivo: dos 22,7 bilhões previstos na lei orçamentária para este fim, 15,6 bilhões foram cortados – uma redução de 68,7%.

A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, tentou apresentar o corte com um viés positivo ao dizer que, em outros anos, as emendas foram quase que integralmente reduzidas – e que, desta vez, como o enxugamento dos gastos veio um pouco mais tarde, foi possível manter uma parte considerável das emendas: “Não há um contingenciamento total de emendas, que tradicionalmente se faz todo fevereiro. O contingenciamento tem uma lógica diferente nesse ano”, afirmou. O corte será informado ao Congresso por meio de um relatório enviado ainda nesta quarta-feira. Na semana que vem, o governo emitirá um decreto detalhando as reduções em cada área.

(com Estadão Conteúdo)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.