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Gestores encaram o Brasil com desconfiança, diz economista do Itaú

Participantes do mercado financeiro reconhecem tentativas do governo de cumprir metas fiscais, mas encaram o tema com cautela

Por Juliana Machado Atualizado em 15 out 2024, 13h20 - Publicado em 15 out 2024, 13h19

Apesar de reconhecerem as sinalizações para um ajuste fiscal do atual governo, com prováveis medidas de controle de despesas a serem anunciadas após as eleições, gestores e economistas ainda expressam preocupação e ceticismo quando o assunto é o cenário econômico nacional, com uma visão ainda muito cautelosa, afirmou Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em coletiva com jornalistas nesta manhã para tratar de pontos discutidos no Macro Day, evento realizado ontem.

“Os gestores participantes expressaram preocupação e uma visão bem mais sombria, eu diria, sobre o cenário econômico nacional, especificamente na questão fiscal”, afirmou Mesquita. “Houve uma tentativa também de implementar o Vale Gás fora da contabilidade do Arcabouço Fiscal e isso foi apontado como um risco fiscal importante, porque são gastos que vão acabar tendo que ser pagos independentemente da contabilidade, além de dificultar o acompanhamento da evolução da política fiscal.”

O evento Macro Day contou com a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reforçou o compromisso com o Arcabouço Fiscal. Ainda assim, restam dúvidas entre participantes de mercado quanto ao cumprimento das metas fiscais, dado que o ministro, sozinho, “não controla todo o processo”, conforme Mesquita. “A sinalização é positiva, sem dúvida, mas a gente quer ver mais detalhes, quer ver os anúncios propriamente ditos para aí considerar revisões de cenário.”

Mesquita também destacou que, no governo e no Congresso, há pessoas profundamente avessas ao controle de gastos, que afirmam até mesmo que o Brasil tem excesso de receita. “O Brasil tem déficit público nominal dia sim e outro também. Excesso de receita é uma ficção”, disse.

O economista também abordou a troca de comando no Banco Central, que vai contar com a saída de Roberto Campos Neto neste ano e a chegada do atual diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, à presidência do órgão. De acordo com Mesquita, o mais importante para o BC é ver seus diretores tomando decisões, quaisquer elas sejam, em consenso, com o objetivo de mostrar alinhamento.

“Se você tem uma decisão com dissenso na próxima ou na reunião, ou na seguinte, essa preocupação com a mudança na política monetária depois da transição voltará. Então, acredito que há vantagem no rito [do BC] de poder construir credibilidade a cada reunião. Mas ela também pode ser perdida”, afirmou.

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