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Fundos para pequeno investidor rendem abaixo da inflação

Juros em queda, inflação alta e taxas elevadas tiram a atratividade de fundos de renda fixa, DI e curto prazo voltados ao pequeno poupador em 2012

Por Lucas Sampaio
10 mar 2012, 10h00

Levantamento feito pelo site de VEJA junto aos seis maiores bancos do país mostra que cinco dos 40 fundos de investimento com aplicação inicial abaixo de 5 mil reais tiveram rentabilidade menor que a inflação; se descontado o IR do rendimento, o número sobe para 23

O início do ano não tem sido bom para o pequeno investidor. Aqueles que optaram por alguns fundos de investimento de grandes bancos viram a rentabilidade de suas aplicações serem vencidas pela inflação. Na raiz deste problema está uma combinação de altas taxas de administração – porcentagem cobrada pelo administrador para gerir o fundo – com o cenário desfavorável da economia brasileira.

Segundo levantamento feito pelo site de VEJA entre os seis maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, HSBC, Itaú e Santander), cinco das 40 aplicações com valor mínimo inicial inferior a 5 mil reais tiveram rentabilidade abaixo do dado oficial de inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Quando descontado o Imposto de Renda (IR) do ganho da aplicação – algo que só ocorre quando há saque do valor investido -, o número de fundos que inspiram atenção dos investidores sobe para 23.

Infográfico: Confira a rentabilidade dos fundos para o pequeno investidor em 2012

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Em outras palavras, a baixa rentabilidade do dinheiro aplicado em mais da metade desses fundos significa que a pessoa, se considerar a inflação, perde poder de compra quando sacar o que investiu. “O pequeno investidor não está nem empatando com a inflação”, afirma o professor e educador financeiro do Instituto Nacional de Investidores (INI) Mauro Calil. “As pessoas têm perdido dinheiro. É quase a mesma coisa que deixar o dinheiro embaixo do colchão”, lamenta.

O problema atinge milhares de poupadores no país. Segundo a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, as famílias brasileiras gastam quase tudo o que ganham (92%) com despesas do dia-a-dia, como alimentação, transporte, etc. Sobra para a formação de poupança, em média, 5,8% do rendimento. A realidade do brasileiro, portanto, é chegar o fim do mês com poucos recursos para aplicar.

Os especialistas alertam para o fato de que, no ano passado, já houve perda real líquida em alguns fundos para esse público – sobretudo entre os que cobram taxas mais ‘salgadas’. O cenário para este ano também não dá margem à tranqüilidade (veja comparativo de 2011 e 2012).

Calil aconselha aos pequenos investidores procurar fundos com taxas de administração reduzidas. Às vezes, a mesma instituição pode oferecer outros produtos com valores menores e igual valor inicial de aplicação. “As pessoas têm alternativas. Mas minha avaliação é que esses fundos de renda fixa deveriam ter, no máximo, 1% ao ano de taxa de administração”, critica.

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A taxa de administração é a porcentagem cobrada pelo administrador – no caso, a própria instituição financeira – para gerir o fundo. Entre as cinco aplicações que renderam menos que a inflação mesmo sem o abatimento do IR, essas taxas variam entre 3,5% e 5,5%. O fundo de melhor desempenho analisado por VEJA cobra taxa de 1,1%, mas exige valor inicial de investimento a partir de 2 mil reais. Quanto menor o valor mínimo de aplicação do fundo, maior a taxa cobrada pela instituição.

Fundos x poupança – Já a poupança rendeu 1,09% no bimestre, pouco acima da inflação do período, que ficou em 1,01%. Parece pouco, mas a tradicional aplicação sai-se melhor que muitos fundos de investimento. Há alguns com rentabilidade real líquida de apenas 0,56%. Isso acontece porque, enquanto a poupança é isenta de IR e taxa de administração, os fundos possuem ambos os descontos – o imposto, neste caso, incide sobre o ganho de capital quando há saque. O valor da alíquota do Imposto de Renda varia em função do tempo do investimento, entre 15% e 22,5% (veja quadro abaixo). Para saques de fundos com mais de 360 e menos de 720 dias, por exemplo, a taxa do IR é de 17,5%.

Regressão do IR

Quanto mais tempo o poupador deixa uma aplicação rendendo, menos imposto ele paga sobre a rentabilidade do fundo.

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Resgate Alíquota

Até 180 dias 22,5%

Entre 181 e 360 dias 20,0%

Entre 361 e 720 dias 17,5%

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Acima de 720 dias 15,0%.

Para Marcelo Kfoury, superintendente do departamento econômico do Citibank, a poupança pode ficar ainda mais lucrativa que os fundos neste ano. “Se a taxa básica de juros ficar abaixo de 9% ao ano, a poupança vai ficar mais atraente para o pequeno investidor. Nos fundos você paga Imposto de Renda; na poupança, não”.

Em 2011, a poupança teve o pior desempenho anual desde o início do Plano Real, em 1994. Mesmo assim, embora o ganho real (descontada a inflação) tenha sido de apenas 0,94%, o rendimento da caderneta superou o de fundos com taxa de administração acima de 3%.

Marcelo Pereira, gestor da TAG Investimentos, aposta que o Palácio do Planalto deve tomar alguma medida para mitigar o problema. “O governo está estudando formas de tornar a poupança mais atrativa para o pequeno investidor”, afirma. A queda dos juros, lembra o especialista, é fator preponderante para a rentabilidade tanto da poupança, quanto dos fundos.

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Cenário desfavorável – Nesta quarta-feira, o Banco Central decidiu cortar em 0,75 ponto porcentual a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) para 9,75% ao ano. Como a maioria dos fundos está atrelada a ela – quer seja de renda fixa, ligados a títulos do governo, quer seja fundos referenciados, que acompanham a taxa dos Certificados de Depósitos Interbancários (CDI) -, uma combinação de juros em trajetória de queda e inflação relativamente alta diminui a atratividade desses produtos.

A ousadia do BC na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) fez o mercado rever as projeções para 2012 e 2013 e apontar um cenário ainda pior para o pequeno investidor. A taxa de juros pode cair para até 8,5% em dezembro (o menor valor da história) e, ainda que a inflação ceda nos próximos meses, a tendência é que ela volte a pressionar a rentabilidade dos fundos no fim do ano. Especialistas ainda apostam em um IPCA de 5,24% em 2012 (ante 6,5% no ano passado), mas, após a decisão do Copom, já revisaram a projeção para índice de 2013 de 5,3% para 5,8%.

“Estamos cristalizando uma inflação mais próxima de 6% para 2013. O BC já mostrou que está mais preocupado com o crescimento e o câmbio.” diz Flávio Serrano, economista-sênior do BES Investimentos. De fato, o Palácio do Planalto e o BC dão sinais de que apóiam medidas que acelerem o crescimento e reduzam a atratividade do país ao capital especulativo que vem de fora. “Uma inflação entre 5% e 6% é estrutural, não conjuntural. E o corte de juros a acaba alimentando”.

Rentabilidade abaixo da inflação – Para Luiz Felippe Generali, superintendente da corretora Banif, o pequeno investidor não tem muita opção. “Não tenho a menor dúvida de que ele está perdendo dinheiro. Eu não investiria em um fundo de renda fixa ou DI que cobre mais que 1% [de taxa de administração]”, aconselha.

Entre os fundos com altas taxas, dois se destacam. Tanto o Santander Classic DI – que cobra 5% ao ano – quanto o Bradesco FIC Referenciado DI Hiperfundo – 4,5% ao ano – não conseguiram repor a inflação do bimestre. Eles são também os dois maiores fundos voltados ao pequeno investidor do país. O patrimônio mensal líquido dessas duas aplicações nos últimos 12 meses representa 30% de todo o dinheiro investido nos 40 fundos pesquisados pelo site de VEJA – 8,9 bilhões de reais.

Procurado pela reportagem, o Santander, por meio de sua assessoria, disse não ter encontrado ninguém para falar sobre o Classic DI.

O Bradesco, em nota enviada por assessores, disse que se trata de um caso pontual. “A análise foi realizada em curto período, no qual teve a incidência da queda da taxa de juros e aumento da inflação, fatores que contribuíram para a baixa da rentabilidade dos fundos de toda a indústria”. O texto faz ainda uma recomendação: “Para análises mais apuradas, recomenda-se avaliação de períodos mais longos, de no mínimo doze meses”. Em 2011, os fundos de investimento com taxas de administração acima de 3% ao ano, caso do produto Bradesco FIC Referenciado DI Hiperfundo, também tiveram rentabilidade real negativa (veja comparativo 2011/2012). A nota termina citando um diferencial do fundo. “No caso do Hiperfundo, trata-se de aplicação diferenciada no qual o investidor concorre a prêmios diários”.

Na próxima quarta-feira, 14 de março, o site de VEJA publicará nova matéria para ajudar o pequeno investidor a proteger seu poder de compra e até ter alguma rentabilidade sobre a inflação.

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