Em um movimento amplamente antecipado pelos mercados, o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), cortou sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, reduzindo para a faixa de 4,75% a 4,5%. Esta é a segunda redução consecutiva desde que sinais concretos de desinflação começaram a aparecer na economia dos Estados Unidos.
A inflação anual, que chegou ao pico de 9,1% em junho de 2022, recuou para 2,4% em setembro deste ano. A estratégia agressiva de aumento de juros, iniciada pelo Fed em 2022, se mostrou eficaz na contenção da inflação, revertendo o maior surto inflacionário das últimas quatro décadas.
A desaceleração dos preços ao consumidor indica que as pressões inflacionárias estão se dissipando. Entre março e setembro deste ano, a inflação caiu de 3,5% para 2,4%, confirmando que o aperto monetário vem surtindo o efeito desejado.
O corte de 0,25 ponto percentual foi decidido de forma unânime entre os membros do colegiado do Fed, sinalizando uma abordagem mais cautelosa da autoridade monetária, especialmente após o corte anterior de 0,5 ponto percentual. Essa moderação reflete a preocupação crescente com os riscos inflacionários decorrentes das incertezas globais, com conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia e com a liderança do novo presidente eleito Donald Trump, cuja política econômica tende a aumentar a pressão sobre os preços.
Em comunicado, o Fed reforçou seu compromisso com a estabilidade econômica: “O Comitê julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente em equilíbrio. A perspectiva econômica é incerta, e o Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu mandato duplo”. Além disso, o banco reiterou seu foco em trazer a inflação de volta à meta, ressaltando que está “fortemente comprometido em apoiar o emprego máximo e retornar a inflação ao seu objetivo de 2%”.
O Fed também destacou que continuará monitorando as implicações de novos dados econômicos e ajustará sua política monetária conforme necessário, caso surjam riscos que ameacem o alcance de suas metas.
O mercado de trabalho americano, um indicador crucial da saúde econômica, continua forte e deve permanecer sendo ponto de atenção da entidade. “Acreditamos que o mercado de trabalho segue sendo o principal ponto de atenção do Fed, visto que os indicadores recentes mostraram um aumento acima das expectativas no valor da hora de trabalho (fator este que pode dificultar o processo de desinflação) e a taxa de desemprego que ainda segue em níveis históricos baixos”, diz Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
O último relatório de empregos, o payroll, levantou preocupações sobre essa dinâmica. O relatório registrou a criação de 12.000 vagas, bem abaixo das 113.000 vagas esperadas. O relatório, no entanto, refletiu em grande parte os efeitos dos furacões na Flórida, dissipando os temores de uma recessão no mercado. “O comitê salientou que a atividade ainda continua a se expandir em ritmo muito sólido e que as condições de mercado de trabalho têm melhorado juntamente com uma taxa de desemprego maior, mas que ainda continua em patamares baixos”, diz Victor Furtado, chefe de alocação da W1 Capital.
O mercado agora aguarda o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, para conseguir ter uma leitura mais profunda da decisão do BC americano. “Outra expectativa do mercado é uma possível fala sobre a recente vitória de Trump na presidência, que pode trazer uma inflação um pouco maior”, diz Furtado.
O equilíbrio que o Fed tenta manter entre a contenção da inflação e a preservação do crescimento econômico será determinante para os próximos passos da política monetária, especialmente em um cenário global de incerteza.