Febraban tenta desfazer mal estar com governo
Ao tratar dos juros, economista-chefe da entidade disse que "você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água"
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) – entidade que representa os grandes bancos do país – procurou minimizar nesta terça-feira a repercussão negativa causada na véspera por uma declaração, em relatório divulgado a clientes, do economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg, sobre a pressão do governo para forçar a queda dos spreads bancários.
Em um determinado trecho, o texto assinado pelo economista e mais dois analistas afirma que “é possível criar condições mais favoráveis à expansão do crédito reduzindo as taxas básicas, mas uma ampliação efetiva das operações passa por uma postura mais agressiva, tanto dos emprestadores como dos tomadores de crédito, que por sua vez depende de expectativas econômicas mais otimistas”. Em outro trecho, o relatório afirma: “Alguém já disse que você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”.
Segundo a edição do jornal O Globo desta terça-feira, um interlocutor próximo da presidente Dilma Rousseff teria retrucado que “o cavalo poderia morrer de sede”.
A afirmação de Sardenberg desagradou não só a presidente, mas também ao ministro da Fazenda. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, teria telefonado para Guido Mantega, tentando contornar a reação negativa causada pelo relatório.
Segundo comunicado distribuído pela entidade nesta tarde de terça-feira, o relatório assinado por seu economista-chefe baseou-se em dados públicos, bem como na pesquisa sobre expectativas, projeções e opiniões de analistas de mercado, as quais que não poderiam ser interpretadas como “um posicionamento oficial”. A Febraban também manifesta que está empenhada com o crescimento robusto e positivo dos financiamentos no país.
De acordo com a assessoria de comunicação da Federação, não há contradição entre o documento divulgado nesta segunda-feira, no qual faz uma critica indireta ao governo, e na nota distribuída nesta terça.
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Desarticulação interna – O episódio voltou a mostrar a desarticulação entre a Febraban e seus bancos sócios desde que o governo deflagrou no mês passado uma ofensiva com os bancos públicos, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, para forçar uma queda do spread bancário no país – diferença entre o custo de captação das instituições financeiras e as taxas cobradas dos clientes finais. Atendendo a ordens do Palácio do Planalto, Caixa e BB cortaram agressivamente as taxas em várias linhas de crédito.
Na época, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, foi a Brasília apresentar a Mantega uma lista de pré-condições ao governo antes que os bancos privados seguissem o movimento. A lista incluía assuntos como redução dos depósitos compulsórios. Um dia depois do encontro, o HSBC anunciou cortes de juros, copiando o que já haviam feito Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil posteriormente seguiram o movimento que, na prática, desautorizou Portugal.
Sardenberg fica – A assessoria de comunicação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também afirmou nesta terça que a posição oficial da entidade é que Rubens Sardenberg permanece no cargo e em nenhum momento foi cogitada sua demissão.
(com Reuters e Agência Estado)