Escolha da Argentina por congelar preços é ineficaz e de caráter político
Medida acontece em meio a disparada da inflação em setembro e a perda de popularidade do presidente Alberto Fernández
O governo de Alberto Fernández, da Argentina, vai congelar o preço de cerca de 1.245 mil produtos por um período de 90 dias na tentativa de conter a inflação no país, que soma 50,1% no acumulado de doze meses até agosto. Essa não é a primeira vez que o país lança mão do recurso, que é visto pelo mercado como uma medida ineficaz e puramente de caráter eleitoreiro.
A medida acontece em meio a aceleração da inflação no país, perto de 3% em setembro, o que vem pressionando ainda mais a inflação projetada para encerrar o ano em 48,4%, e causando a perda de popularidade de Fernández. Nas eleições primárias realizada no último domingo, a FDT, coalizão do atual presidente, saiu derrotada nas urnas. As primárias funcionam como uma espécie de termômetro da avaliação da gestão do presidente. Mas o governo ainda tem dois meses para recuperar o voto decisivo da população até as eleições em novembro. Para Patrícia Krause economista-chefe para a América Latina da Coface, a medida seria apenas de caráter eleitoreiro por não atacar a inflação. “Ela apenas posterga o aumento de preços para o próximo ano”, diz.
O congelamento já foi aplicado no país ao menos em sete momentos desde 1952, sendo que, nos últimos 40 anos, aconteceu no governo de Raúl Alfonsín (1983-1989), de Cristina Kirchner (2007-2015), e também na última gestão de Mauricio Macri em 2019 — quando houve congelamento de 60 produtos básicos e das tarifas de energia elétrica e do transporte público. No início da pandemia, o governo lançou o programa Preços Máximos travando os aumentos de 23 mil itens. Porém, a inflação no país segue descontrolada há anos.
Segundo Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, o congelamento de preços, também utilizado no Brasil durante o governo de José Sarney (1985-1990), já foi testado e comprovado como ineficaz no controle da inflação. “Ele traz um alivio momentâneo, mas depois pode criar um processo catastrófico, porque acaba instaurando um pânico no sentido de as pessoas estocarem os produtos para se proteger dos reajustes futuros”, aponta.