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Embargo da União Europeia ao frango ameaça 15 mil empregos no Brasil

Para adequar a produção às restrições ao mercado externo, a BRF vem concedendo férias coletivas para seus funcionários

Por Gilmara Santos
Atualizado em 25 abr 2018, 08h07 - Publicado em 25 abr 2018, 08h07

O embargo à importação do frango brasileiro pela União Europeia (UE) anunciado na semana passada ameaça empregos no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a medida deve levar ao fechamento de 15 mil vagas diretas e outras 15 mil indiretas. “Estamos festejando a geração de 56 mil postos de trabalho em março e podemos fechar 30 mil empregos em abril”, diz o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin referindo-se aos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho.

Além do risco de fechamento de postos, há preocupação também com as cerca de 130 mil famílias que atuam com a avicultura. “Hoje, 95% deles operam pelo sistema de produção integrada, em que a empresa fornece os insumos, o agricultor faz a criação do animal e ao final é calculado o pagamento”, explica o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucci. Com as restrições, a indústria começa a reduzir o repasse para os produtores, o que diminui o número de aves produzidas e, consequentemente, o valor que será recebido pelo agricultor.

“As empresas têm a política de tentar manter o produtor, mas já há excesso de mercadoria e estamos chegando ao nosso limite de carne congelada. Por isso, as indústrias estão optando pelas férias coletivas”, diz o diretor executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouveia.

Na semana passada, a BRF informou que concederá férias coletivas para mais 2.000 trabalhadores. A companhia já tinha anunciado férias para 8.200 funcionários para ajustar a produção durante o período em que foi proibida pelo Ministério da Agricultura de vender para a União Europeia. O ministério autorizou o retorno das comercializações, mas agora as exportações esbarram na proibição da própria UE.

Outro reflexo da suspensão das exportações está no preço do produto no mercado interno. De acordo com a CNA, neste ano o frango ficou cerca de 30% mais barato no varejo na comparação com o mesmo período do ano passado.

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“O preço, que já está baixo, deve cair ainda mais, mas isso não é sustentável. As empresas já estão adequando a produção para a nova demanda e para readequar os valores do produto”, diz Santin.

Impacto

Santa Catarina tem 11 mil produtores rurais, sendo que 90% atuam de forma integrada. “São produtores familiares que têm pequenas áreas e que, para ter mais segurança jurídica e comercial, optam pelo sistema integrado. Eles estão preocupados com a atual situação”, destaca Gouveia.

O Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) diz que ainda aguarda a divulgação da lista oficial pela autoridade sanitária da UE com o nome dos frigoríficos para mensurar reflexos no setor. “As consequências são inevitáveis, já que esses países são destinos importantes para os produtos avícolas do estado e do país”, informa a entidade. O Paraná concentra 33,46% dos abates nacionais, seguido por Santa Catarina (16,06%) e Rio Grande do Sul (14,11%).

Nesta terça-feira, a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos do Estado de São Paulo (Fetiasp) realizou um protesto em frente à sede da BRF, uma das mais afetadas pelo embargo europeu. “Há um transtorno grande para o produtor rural e também muita apreensão entre os trabalhadores da área administrativa e dos centros de distribuição”, diz o presidente da entidade, Antonio Vitor. “Fizemos esse primeiro ato e agora vamos nos reunir para definir os próximos passos em defesa dos empregos”, complementa o sindicalista.

O governo brasileiro e as entidades de classe defendem que a restrição europeia é uma questão comercial e não sanitária. “Estão aproveitando para nos tirar do mercado em nome da sanidade, o que não é verdadeiro”, afirmou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, na semana passada ao anunciar que irá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a restrição europeia.

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Ajuda ao produtor rural

Para tentar minimizar o impacto ao produtor rural, a CNA negociou com o Banco do Brasil a prorrogação do prazo para o pagamento das parcelas de custeio (crédito que é concedido anualmente ao agricultor para financiar despesas com a produção) e de investimentos (recursos aplicados no patrimônio). “As parcelas que estão para vencer ao longo de 2018 podem ser renegociadas com pagamento no ano que vem, no caso do custeio. No financiamento, que é um prazo mais longo, o valor deste ano ficará para o fim do contrato”, diz Lucchi.

“Estamos tentando ainda uma linha de crédito especial que funcionaria como capital de giro neste ano que, pois o produtor já sofreu com a alta no preço do milho”, complementa  o representante da CNA.

“Hoje já temos agricultores que estão complementando sua renda com outras atividades”, diz Lucchi. Essa alternativa, no entanto, não é uma saída tão simples, conforme explica Gouveia. “A produção de aves é muito específica, tem que ter toda uma estrutura para ela e não dá para simplesmente mudar o espaço para outra cultura.”

 

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