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Elas (ao menos por enquanto) não querem o Brasil

Companhias mundialmente conhecidas hesitam em adentrar o complexo mercado nacional – que, mesmo em franca expansão, ainda é preterido devido ao custo Brasil

Por Ana Clara Costa e Carolina Guerra
4 set 2011, 09h17

Em plena crise e ante a ameaça de recessão nas economias desenvolvidas, seria lógico pensar que, para lucrar, multinacionais teriam de ir aonde o dinheiro está. Hoje, este destino preferencial responde pelo nome de mercados emergentes, dentre os quais se destaca o Brasil. O próprio autor do termo BRIC, o economista do Goldman Sachs Jim O’Neill, afirma que o país é o lugar para se estar na atualidade. Porém, nem todos concordam com a afirmação. Há grandes empresas que, por razões distintas, resolveram não surfar nessa onda. O site de VEJA fez uma seleção de companhias mundialmente famosas – e que tem fãs ardorosos entre os brasileiros – que fizeram essa opção e tentou entender seus motivos. São elas: H&M, Ikea, Best Buy, Abercrombie & Fitch, Vodafone, Tesco, J.C. Penney, Metro AG, além dos hotéis Ritz-Carlton e Four Seasons.

Tais ausências, de forma isolada, não representam uma grande perda ao consumidor brasileiro, tendo em vista que a economia doméstica está bem servida quando se trata do setor de serviços. No entanto, quando se analisa comparativamente, o cenário é, no mínimo, estranho. As empresas pesquisadas pelo site de VEJA estão presentes nas demais letras dos Brics (Rússia, Índia e China) e até mesmo em regiões menos desenvolvidas, como nações do Oriente Médio e da própria América Latina.

Razões variadas – É fato que, para cada caso, há uma razão específica para não se estar no Brasil: desde a estratégia de expansão focada em outros locais até a escassez de capital para investir em tempos de crise. O problema é que o país, tampouco, facilita este cenário. No caso do varejo de vestuário, a alta carga tributária, a valorização imobiliária, o custo para importar peças da China, ou produzi-las internamente, fazem com que as empresas tenham de mobilizar um capital muito grande para entrar no mercado nacional. Para conseguirem margens satisfatórias, acabam praticando preços muito superiores aos vigentes em outras praças e correm o risco de errarem na estratégia e fecharem as portas, como ocorreu com marcas como Ralph Lauren e Miss Sixty.

Por essas e outras razões, redes populares de moda, como a sueca H&M, preferem não se arriscar. “Há vários anos, eles andaram sondando alguns fornecedores. Atualmente, as coisas esfriaram e não há o menor sinal de que venham para nosso mercado”, afirma Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis e Confecções de Blumenau. Já o consultor de varejo, Sylvio Mandel, acredita que a empresa prioriza mercados asiáticos justamente pelo fato de sua produção ser feita quase que totalmente na região. “Essa estratégia permite que a empresa atue nestes países pagando menos pelo transporte de produtos, além de a carga tributária ser muito inferior”, diz Mandel.

Setor peculiar – No caso de lojas de departamentos e hipermercados, a entrada geralmente se dá por meio da compra de uma companhia local para depois ser colocado em prática um plano de expansão. No entanto, além do chamado custo Brasil – nome usado para resumir uma confluência de fatores, como carga tributária elevada, burocracia, infraestrutura ineficiente, reduzida oferta de mão de obra qualificada, etc -, as empresas também têm de lidar com um setor cheio de peculiaridades, cujo retorno nem sempre se mostra compensatório. No Brasil, tanto o americano Walmart quanto o francês Carrefour enfrentam desafios para melhorar os resultados de suas operações de hipermercados, justamente na época em que o país vive seu melhor momento. Tais exemplos amedrontam possíveis avanços de redes como a britânica Tesco e a alemã Metro AG – terceira e quarta maiores varejistas do mundo, respectivamente – em território nacional. A Tesco, por exemplo, tem 79 lojas na China, mas jamais conseguiu iniciar operações no país.

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As dificuldades também são claras no setor hoteleiro. A dinâmica de construção de grandes hotéis prevê que investidores privados coloquem dinheiro em 100% da operação, deixando para a bandeira escolhida apenas a administração do negócio. Em países desenvolvidos, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, onde os juros são próximos de zero, investidores aplicam em redes hoteleiras e conseguem retornos próximos de 20% ao ano – ao preço de assumirem todo e qualquer risco pelo imóvel que é erguido.

O financiamento desses empreendimentos no Brasil torna-se praticamente inviável porque investidores preferem operações mais simples e rentáveis, como aplicar o dinheiro em edifícios de escritórios – investimento que consiste na compra de salas comerciais e em seu aluguel para empresas. “Como o financiamento no Brasil é caro, os hotéis são construídos com o capital próprio dos investidores. E como é preciso imobilizar muito dinheiro para uma empreitada como essa, o investimento muitas vezes se torna inviável”, afirma Diogo Canteras, da consultoria Hotel Invest. Por essa razão, bandeiras mundialmente célebres, como o Ritz-Carlton e o Four Seasons, ainda não se instalaram no país.

Uma saída seria as próprias redes investirem na construção de hotéis para não perderem mercados como o Brasil. Esse movimento, contudo, é raro – tendo em vista que os grupos hoteleiros são especializados apenas em administração, e não na construção ou na escolha dos melhores terrenos. “As redes são prestadoras de serviço. Elas não têm expertise em viabilizar todo o empreendimento”, afirma José Ernesto Marino Neto, presidente da consultoria BSH International. Ainda assim, o mercado brasileiro é tão espinhoso que obrigou grupos como Hilton e Hyatt a construírem hotéis próprios em São Paulo – um fato considerado anormal na indústria, mas que no Brasil virou algo concreto.

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