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‘Dúvida’ e ‘incerteza’, os termos mais frequentes nas análises econômicas sobre o Brexit

Ineditismo da decisão do Reino Unido, que optou sair da UE, deixa nubladas as projeções sobre o futuro - para o mundo e para o Brasil

Por Teo Cury e Luís Lima
25 jun 2016, 18h57

O mundo ainda está digerindo a inesperada vitória do Brexit, a opção dos britânicos de deixar a União Europeia, no referendo realizado na última quinta-feira. As interrogações sobre as consequências práticas do desembarque do Reino Unido do bloco também afligem os economistas – e não por acaso as palavras “dúvida” e “incerteza” foram as mais frequentes nas análises feitas ao longo da semana, especialmente nesta sexta, quando o resultado do plebiscito foi divulgado.

Em relatório, o Goldman Sachs afirma que o Brexit “impõe incertezas nas políticas macroeconômicas”. O banco disse que vai revisar suas previsões para o médio prazo – e não apenas para a economia britânica, já que o resultado do referendo, na avaliação do Goldman, pode ter impacto sobre a política monetária também de outros países. Mas não há pistas sobre para onde apontarão as novas projeções.

A Economist Intelligence Unit (EIU), braço de pesquisas do grupo britânico The Economist, foi mais assertiva ao menos em alguns tópicos. Segundo a instituição, o Brexit reduzirá o PIB britânico em 6% em termos reais (descontada a inflação) até 2020. “Esse baque econômico deve vir acompanhado de instabilidade política, com crescentes dúvidas sobre a coesão do governo”, diz relatório da EIU. Mais uma vez, “dúvida” surge para definir o quadro.

A incógnita está igualmente presente nas avaliações feitas sobre impacto que a saída do Reino Unido da União Europeia terá sobre o Brasil. Os economistas têm feito leituras por vezes até antagônicas entre si, o que dá mostras de que o esforço de análise ainda está nublado pelo ineditismo da decisão dos britânicos.

Veja algumas análises colhidas pelo site de VEJA:

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Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics

“Para o Brasil, há quem diga que os reflexos podem ser bons, já que podem levar o Fed, banco central americano, a não aumentar os juros logo. Mas esse é um ponto menor. O mais significativo é que teremos um elemento de volatilidade externa adicional. Se antes a volatilidade era toda interna, agora tem um elemento de extra, de fora – e não tem como o Brasil estar blindado contra isso.”

“A saída do Reino Unido da UE é um deslocamento tectônico, que faz com que grandes empresas de todo o mundo reavaliem suas estratégias de investimentos. Os investimentos produtivos podem demorar mais para vir para o Brasil, já que o sentimento é de cautela redobrada. Pensando em investimento produtivo, que é o que país precisa – e não de entrada e saída de dinheiro especulativo -, agora temos um quadro mais complicado.”

“Outro elemento é o comércio. O país estava começando a fazer um movimento de abertura para o mundo, de reengajamento nas discussões internacionais, aproximação com os EUA e a UE. Isso será inevitavelmente afetado.”

“Da mesma forma que o muro de Berlim marcou uma era, que delimitou o isolacionismo que havia de um pedaço importante no mundo e foi-se para uma era de globalização acelerada, o Brexit, a campanha eleitoral nos EUA, os movimentos de extrema direita na Europa, a ascensão de Marine Le Pen na França, e de outros políticos de extrema direita. Tudo isso revela um movimento contra a globalização e o livre comércio, de retrocesso nessas áreas que, fatalmente, nos afetará no pior momento possível. Justo no momento em que o Brasil saiu do isolacionismo. Bem nessa hora, o Brasil é solapado por uma situação global, a mais hostil possível a esse tipo de movimentação.”

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Yann Duzert, professor de Negociação e Resolução de Conflitos da Fundação Getulio Vargas

“Vai começar um jogo das nações para ganhar força nas negociações internacionais, aumentando a competitividade. Nesse cenário, o Brasil vai ganhar uma força de barganha com a Inglaterra porque, sozinha, ela vai ter menos peso. Dessa forma, o Brasil não vai ter dificuldade com as barreiras europeias. A competitividade vai ser nivelada. Com a Inglaterra isolada, o acesso será facilitado.”

“Há mais capacidade de acordos bilaterais, entre Mercosul e Inglaterra, por exemplo. E como o peso brasileiro no Mercosul é maior, isso pode influenciar os negócios.”

“Trabalhador europeu vai precisar de visto para trabalhar na Inglaterra, assim como o brasileiro. Ou seja, a competitividade vai ser mais igual do profissional brasileiro para o europeu, o que vai nivelar o acesso ao mercado de trabalho de lá para os brasileiros.”

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“Se o Brasil se estabilizar, o país vai ser um lugar atrativo para os capitais mundiais.”

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Celina Ramalho, economista e conselheira do Conselho Federal de Economia

“A saída é prejudicial, já que o Brasil fazia acordos comerciais com a União Europeia e o Reino Unido conjuntamente. Em termos de facilidade de negociação, era mais fácil quando o Reino Unido estava com a Europa. Isso porque o volume dos negócios tinha uma abrangência maior. Os acordos atendiam à comunidade econômica europeia como um todo. Fazíamos de uma vez as negociações com a Inglaterra, por exemplo. Agora, vamos ter que fazer mais de uma, em separado.”

“Os maiores impactos serão comercial e populacional, de movimentação das pessoas. Além disso, para cidadãos brasileiros e de outros países que estão na Inglaterra e que já se fixaram, o passaporte dessas pessoas mudou. Europeus agora são imigrantes no Reino Unido.”

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Renato Flôres, professor da Fundação Getulio Vargas

“O Reino Unido vai estar pré-disposto a parcerias e negócios. O Brasil, sem querer, é ganhador de médio a longo prazo com essa situação. Com o Brexit, os britânicos vão precisar de mais parcerias fora da UE porque passam a ter um novo status – de potência econômica menor por estar fora do bloco.”

“A partir dessa separação, veremos uma atuação do Reino Unido mais intensa aqui: procurando parcerias, financiando projetos, estreitando relações do passado com o Brasil que acabaram sendo desfeitas.”

“Estamos negociando um tratado de livre comércio entre a UE e o Mercosul há mais de dez anos. Nesse processo, o Reino Unido sempre se manteve indiferente. As negociações vêm sendo retomadas e a saída do Reino Unido, que era indiferente, aumenta a chance de fecharmos esse tratado.”

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“O bloco europeu vai ser liderado pela Alemanha. Ironicamente, esse quadro realça nossa imagem de ‘noiva cobiçada’. Nossa atratividade vai aumentar – e os pretendentes vão ficar mais nervosos. Não vejo impactos negativos para o Brasil, não.”

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