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Dólar se firma em R$ 2 e mercado vê pressão inflacionária para 2013

Economistas divergem quanto ao efeito do real mais desvalorizado na inflação deste ano. Para 2013, contudo, a situação é mais preocupante

Por Anna Carolina Rodrigues e Nathan Fernandes
18 Maio 2012, 18h07

A moeda americana avançou 3,20% sobre o real nesta semana e marcou seu retorno à faixa de R$ 2 – algo que não se verificava desde 8 de julho de 2009. Nesta sexta-feira, mesmo com o Banco Central vendendo 13 mil contratos de swap cambial, o dólar encerrou o pregão com alta de 0,62%, cotado a 2,0185 real. O comportamento da divisa nos últimos dias confirma, portanto, seu novo patamar. Economistas ouvidos pelo site de VEJA acreditam que cotações em torno deste valor devem se manter ao menos até o final de 2012 graças ao cenário de forte incerteza nos mercados internacionais. A rápida depreciação do real nos últimos meses – de 19,5% se considerado o piso atingido no ano, de 1,69 real, em fevereiro – suscitou temores renovados de que a inflação possa ganhar força, haja vista que parcela não desprezível do consumo doméstico é hoje atendida por importados. Os analistas divergem quanto a um possível impacto nos preços neste ano. Para 2013, contudo, a avaliação é que a situação é preocupante.

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2013 – Uma preocupação maior do mercado com o ano que vem deve-se ao fato de que o efeito do câmbio nos preços não é sentido imediatamente. Esse impacto costuma ganhar força só com o passar dos meses em função de um fenômeno típico da economia brasileira: a inércia inflacionária – processo em que preços são reajustados com base na inflação passada. Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citibank, estima que o impacto do dólar no IPCA é de 10% após um ano. Por este raciocínio, se o câmbio subir dez centavos, por exemplo, o índice sobe 0,2%.

Os economistas ouvidos por VEJA afirmam que o momento requer um acompanhamento cauteloso da economia brasileira e mundial. Ainda que pela inércia dos preços fosse possível esperar um impulso adicional no processo de elevação do IPCA no país, o Palácio do Planalto pode ser “salvo pelo congo”. Uma eventual deterioração expressiva da economia global – decorrente, por exemplo, da saída da Grécia da zona do euro e do contágio da crise em outros países do continente – tenderia a promover forte retração da demanda por bens e serviços no planeta. Em outras palavras, commodities e industrializados ficariam mais baratos em dólares. Neste quadro, uma deflação externa poderia anular os efeitos de um dólar mais caro na economia brasileira.

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2012 – Para este ano, como a alta do dólar é muito recente, há divergência sobre o impacto a ser esperado. Kfoury acredita que as empresas brasileiras possuem condições de absorver no médio prazo custos mais elevados – esse sacrifício por parte das companhias é especialmente provável naqueles segmentos em que há concorrência elevada. Diante disso, o banco mantém em 5,3% sua estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no final do ano. “Em condições normais, a gente vê que o repasse da valorização do dólar para o IPCA é de uns 4%. O que não é muito comparado ao que era no início do regime de metas, em 1999. Esse valor é hoje metade do que era naquela época”, pondera. Já o economista-chefe da MCM Consultores Associados, Fernando Genta, vê impacto do dólar mais caro sobre os preços já em 2012. Ele estima que o IPCA deve ganhar meio ponto adicional até dezembro. “É um número que o Banco Central enxerga também porque usamos o mesmo modelo de projeção deles”, afirma.

Condicionantes – Alguns fatores fazem a diferença para que uma consultoria ou banco seja mais ou menos pessimista quanto ao efeito da moeda americana sobre o IPCA. Essa estimativa depende, por exemplo, de como a entidade imagina que se comportará a demanda no mercado interno; a configuração de cada setor; a capitalização das empresas etc. Se as empresas estiverem com folga financeira, esse repasse pode levar mais tempo para acontecer. Outro fator que influencia esse ritmo de contágio são as cotações do dólar válidas nos momentos de compra dos estoques das indústrias. “Se o material foi comprado a 1,85 real, por exemplo, não haverá necessidade imediata de repassar esse custo de maneira tão forte ao consumidor”, avalia Kfoury.

O economista do Citibank pondera que os preços de eletrodomésticos e carros – que possuem maior número de componentes importados – têm caído recentemente devido ao desaquecimento do mercado. Nas divulgações do IPCA de março e de abril, os artigos de residência – componente do IPCA que inclui eletrodomésticos – tiveram redução de 0,4% e 0,79% nestes meses, respectivamente. A redução é atribuída à isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Para Kfoury, se o dólar se mantiver em dois reais, o repasse não deve acontecer.

O jornal inglês Financial Times publicou nesta semana matéria em que relata a celebração pelo Planalto da desvalorização do real (“Brasilia cheers the real’s decline“). O FT questionou até que ponto o governo brasileiro deixará sua moeda se depreciar. “Enquanto uma cotação menor deixa as indústrias brasileiras mais competitivas, depreciar a moeda em excesso pode reacender a inflação e forçar o país a elevar suas taxas de juros novamente”. A reportagem cita relatório do francês Crédit Agricole que externaliza a preocupação do mercado – principalmente se a depreciação perdurar. O banco destaca o fato de que o mercado doméstico segue aquecido, com salários em alta e forte demanda por bens e serviços. Neste quadro, famílias e empresas podem chancelar intenções do setor produtivo de repassar a alta dos custos aos preços. Para a instituição financeira, a cotação ideal do dólar para o Brasil fica entre 1,85 e 2 reais.

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Taxa de juros – Elemento adicional é conter uma eventual valorização do real é o fato de que os juros estão em queda – e devem permanecer assim. Com aplicações menos rentáveis no país, a vinda de capitais externos perde força. A Selic está agora em 9% ao ano. A projeção do Citibank é que haja mais dois cortes até dezembro, com a taxa básica fechando 2012 em 7,75%.

Como juro baixo é sinônimo de combustível para o consumo e, consequentemente, para a inflação, a recente política do governo de incentivar os bancos públicos a reduzirem o custo dos empréstimos agrega mais preocupação com 2013. Há também, é claro, a própria perspectiva de declínio da taxa Selic. Com isso, o banco americano acredita que, se houver recuperação do crédito e de investimento no segundo semestre, a inflação para o ano que vem deva ser de 5% ou 6%.

A Gradual Investimentos prevê um cenário ainda mais agressivo, com taxa de juros de 6% em dezembro de 2012. Para a corretora, o IPCA não deve subir muito nos próximos meses visto que o cenário atual assemelha-se ao de agosto do ano passado. “Se você perguntasse a qualquer economista em setembro de 2011 qual seria a inflação no início de 2012, nove entre dez diriam que os preços iriam explodir na esteira do reajuste do salário mínimo. Cadê esta inflação? Simplesmente não se concretizou, mostrando, mais uma vez, que o cenário do BC estava mais correto que o do mercado”, diz.

Nesta quinta-feira, a última negociação do dólar ficou muito próxima dos dois reais atingidos nesta terça. A despreocupação do governo com o valor da moeda americana e a não intervenção do Banco Central até o momento levam a crer que seu valor deve continuar em torno disso. Para o Planalto, aparentemente a crise nos mercados internacionais faz o trabalho de amenizar as pressões inflacionárias. O mercado só agora começa a ‘comprar’ essa avaliação. A depender do agravamento das turbulências externas, que poderia dar força a um movimento de queda dos preços de commmodities e produtos industrializados, o mercado internacional faria o “trabalho sujo” de controlar a inflação para o Brasil. O problema é o risco de que o PIB nacional também saia chamuscado.

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