Por Aluísio Alves
SÃO PAULO, 19 Dez (Reuters) – Tradicionalmente cheio de projeções ambiciosas para o ano seguinte, este dezembro tem mostrado especialistas do mercado financeiro com estimativas bem mais modestas.
Escaldados com a série de revezes no exterior dos últimos anos e seus reflexos sobre Brasil, profissionais da área preveem para 2012, no melhor das hipóteses, um cenário parecido com o deste ano.
“Eu me surpreenderia se tivéssemos um ano muito melhor que em 2011”, resumiu o corresponsavel pelas operações de banco de investimentos do Credit Suisse no Brasil José Olympio Pereira.
A avaliação predominante é de que a economia e as empresas brasileiras estão mais saudáveis do que a média internacional. Assim, para captações, investimentos e fusões, a perspectiva é até otimista se levada em conta apenas a realidade brasileira.
Porém, há pouco que o governo Dilma Rousseff possa fazer para que o mercado doméstico se sobressaia diante de um quadro externo preocupante. A saída é torcer para que não aconteça o pior na Europa, que os Estados Unidos firmem a recuperação econômica e que a Ásia não desacelere.
“No mais, não tem muito o que fazer além de cortar juros”, disse o sócio da Cultinvest Walter Mendes. Desde setembro, a taxa básica de juro Selic caiu 1,5 ponto percentual, para 11 por cento. A expectativa média do mercado é de que caia a 9,5 por cento até o fim de 2012.
Referência do mercado de renda variável, o Ibovespa-índice que reúne as principais ações brasileiras- está perto de fechar 2011 com queda de quase 20 por cento.
O saldo das aplicações dos estrangeiros na bolsa no ano está negativo em 1,2 bilhão de reais.
O volume de captações no mercado local caiu quase à metade no ano até novembro, ante mesma etapa de 2010, para 151,5 bilhões de reais, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Os 19 bilhões de reais levantados em 23 ofertas de ações até agora foram o menor volume do setor no país desde 2005.
As fusões, em volume financeiro, caíram 35 por cento no ano até setembro, segundo dados da Thomson Reuters.
Há alguma expectativa de melhora, até porque, mesmo temerosos com os desdobramentos da crise europeia, os juros baixos ou em queda quase no mundo todo já estão deixando muitos investidores preocupados com a baixa rentabilidade e em algum momento tendem a buscar mais risco, disse o responsável pela área de gestão de ativos da Credit Suisse Hedging-Griffo, Luis Stuhlberger.
Para o diretor-executivo do Bradesco e responsável pelo Bradesco BBI, Sérgio Clemente, há várias operações de captação “no forno”, só esperando uma janela de calmaria se abrir.
“Mas a coisa só tende a melhorar depois do primeiro trimestre, caso as coisas na Europa se acalmem”, afirmou.
CAUTELA COM IBOVESPA
No caso de bolsa, mais do que nos últimos anos, a ordem é ter cuidado ao tomar o Ibovespa como referência de desempenho. Devido ao grande peso das commodities, o índice vai refletir mais a economia mundial.
O estrategista da corretora Santander, Leonardo Milani, prevê que o Ibovespa chegue aos 70 mil pontos em dezembro de 2012, movimento que dependeria em parte da estabilização internacional, o que liberaria fluxos externos para o Brasil.
De todo modo, a principal aposta dos estrategistas é o bom desempenho de empresas ligadas ao mercado doméstico, sobretudo varejistas e prestadoras de serviços públicos.
“Para as ligadas a commodities, a única chance de melhora é se houver sinais mais consistentes de recuperação norte-americana e que não aconteça o pior na Europa”, disse Milani.
De acordo com Mendes, da Cultinvest, também pode contribuir para o cenário positivo um fortalecimento da economia doméstica chinesa, como resposta ao enfraquecimento global que esfriou suas exportações. Isso ajudaria grandes exportadoras brasileiras de commodities.
Pesquisa Reuters feita no início de dezembro mostrou que a mediana das estimativas aponta para Ibovespa a 61.500 pontos na metade de 2012 e a 70 mil pontos no encerramento do ano que vem.
As previsões para o final de 2012, colhidas de 22 analistas, estrategistas e gestores de fundos, variaram de 50 mil a 80 mil pontos.(Edição de Cesar Bianconi)