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Dificuldades de Paulo Guedes no Senado deixam investidores em alerta

As sucessivas derrotas e a falta de articulação política do ministro com a base do governo preocupam os profissionais das finanças

Por Machado da Costa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 out 2019, 10h52 - Publicado em 11 out 2019, 06h00

O mercado financeiro entrou em “modo desespero” na segunda-feira 7. O Ibovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo, afundou 1,9% e, além do cenário internacional adverso, chamou atenção um componente local na derrocada: a notícia publicada por um colunista político de Brasília de que o ministro Paulo Guedes deixaria o cargo em fevereiro. A coluna circulou pelos e-mails e celulares de quase todos os investidores e acabou sendo citada em uma reportagem da agência de notícias Reuters que continha o devido desmentido do Ministério da Economia. Com isso, chegou ao exterior em um despacho em inglês, o que ampliou o frenesi. O episódio reflete a tensão que envolve a possibilidade de Guedes sair do governo. Atentos a sinais de toda espécie, os profissionais das finanças seguem a movimentação no ambiente político — e estão preocupados.

Desde a demissão de Marcos Cintra da Secretaria da Receita Federal, no início de setembro, em decorrência do episódio da criação da CPMF, não são raras as demonstrações de desgaste do “Posto Ipiranga” na equipe de Jair Bolsonaro. O ponto crítico foi atingido há duas semanas, no dia 30, quando o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), convocou uma reunião para discutir os últimos detalhes da reforma da Previdência. Foram convidados governadores e senadores das regiões Norte e Nordeste para o encontro, marcado na residência oficial de Alcolumbre. No mesmo pacote, seria abordada a divisão da receita do megaleilão de petróleo previsto para novembro. A foto que ilustra esta reportagem dá o tom do que aconteceu no encontro, ao retratar o grupo dos chefes de Executivo estaduais, emissários do Palácio do Planalto, como Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, e técnicos do Ministério da Economia. Todos em torno de uma cadeira vazia à cabeceira — a destinada a Guedes.

NO PALÁCIO – Paulo Guedes em visita ao Planalto: sinais de desgaste (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ministro da Economia não apareceu na reunião e designou o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues, para representá-lo. Sua atitude foi considerada um desrespeito. Os governadores desejavam defender diante do ministro critérios que beneficiariam seus estados com a venda da chamada cessão onerosa, campos imensos de petróleo que foram subdimensionados em 2010 e agora terão o excedente comercializado em leilão. A equipe econômica era a favor de uma premiação dos estados que apresentarem medidas de equilíbrio fiscal, o que implica substanciais diferenças na divisão do dinheiro, com desvantagens para os estados cujos governadores estavam na reunião. Houve gritos, troca de acusações e bate-bocas. Conhecedor do que estava em jogo, Guedes justificou sua ausência a membros de sua equipe. “Não serei o ministro a ficar exposto”, disse ele a um interlocutor ouvido por VEJA. Ele sabia que também seria cobrado pela redefinição do pacto federativo e pela reforma tributária, e, por fim, confrontado com a espinhosa nomeação de Eduardo Bolsonaro para embaixador em Washington, nos Estados Unidos.

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Em resposta a Guedes, os dias seguintes trouxeram uma sucessão de derrotas para sua Pasta, como a alteração da PEC da Previdência (com a redução em 76 bilhões de reais do montante a ser economizado em dez anos) e o adiamento da votação em segundo turno para 22 de outubro. Na quarta-feira 9, ele sofreu outro revés: a proposta para a cessão onerosa a ser enviada pelo governo ao Congresso seguirá os critérios definidos pelos governadores, e não pelo ministério, que exigia contrapartidas fiscais. Sem uma proposição própria de reforma tributária, Guedes assiste ainda à proliferação de projetos paralelos, como o que foi apresentado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-­RJ). Implacável com o silêncio ministerial, um número crescente de políticos em Brasília tem se divertido perguntando, em tom de piada, se o gás do Posto Ipiranga já acabou. O Brasil torce para que a resposta seja negativa.

Publicado em VEJA de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656

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