Detroit, terra arrasada
Como a cidade se tornou um dos piores lugares para viver nos Estados Unidos

Qualquer pessoa que caminhar pelas ruas de Detroit duvidará que esta cidade tenha sido um dia uma das mais prósperas da América. Segundo dados do último censo populacional americano, de 2010, 79.725 de suas casas estão abandonadas – um em cada cinco imóveis por lá está vazio. Nos seus tempos de ouro, quando a gasolina barata banhava o desenvolvimento do planeta, a cidade produzia sem parar, e chegou a ser a quinta maior metrópole do país, com 1,8 milhão de habitantes. Hoje não vive ali um milhão de pessoas, mesma quantidade de gente que Detroit teve há 90 anos.
Pior do que a atmosfera quase sempre cinzenta e os dias de inverno rigoroso, quando a temperatura fica abaixo de 0º Celsius, o marasmo em Detroit foi a obra dos homens que mandaram na cidade que sofreu com a miopia dos dirigentes das três grandes montadoras instaladas ali. Eles não viram que seus produtos estavam ficando antiquados e ficaram sob a pressão dos sindicatos, a começar pelo que concentra os metalúrgicos das montadoras. Assim nasceu ali um esquema que não podia se sustentar. De um lado, pagamentos de salários e pensões vitalícias cada vez mais vorazes, do outro carros bebedores de combustível. Para completar, houve a inépcia das autoridades locais para lidar com o crime.
Tantos problemas juntos fizeram a cidade encolher. Afinal, quem escolheria morar num dos piores locais para se viver nos quase 9 milhões de quilômetros quadrados dos Estados Unidos? Detroit tem uma das taxas mais altas de violência do pais: 1.111 crimes violentos por 100.000 habitantes em 2010, segundo dados do FBI.
Registrou 345 assassinatos em 2009 (358% a mais que a média de grandes cidades americanas, segundo dados do site cityrating.com) e 30.372 roubos no ano, segundo a mesma fonte). Na proporção é, respectivamente, seis vezes mais e o dobro do que acontece em Nova York).

“Em Detroit proliferam e competem quadrilhas de todos os tamanhos”, diz Megan Wofram, analista da empresa de avaliação de riscos iJet Intelligent. E tem, claro, a crise econômica. Em novembro de 2011, 28% dos moradores de Detroit estavam sem emprego. Cerca de 50.000 famílias foram despejadas de suas casas por não conseguirem pagar as hipotecas, um dos maiores índices no pais. Apenas 58% dos estudantes conseguem terminar o segundo grau. Quase 10% das famílias atualmente vivem abaixo da linha da pobreza. Com o resultado de tanta pressão, mais gente morre do coração ali por mil habitantes do que em Los Angeles ou Atlanta.
Como se tanta notícia ruim não fosse suficiente, falta dinheiro para a cidade dar jeito nos problemas. Em novembro de 2011, David Bing, um ex-astro do basquete americano que se tornou prefeito de Detroit, subiu à tribuna e anunciou um rombo de 150 milhões de dólares por ano nos cofres municipais: “A prefeitura está quebrada.” Para tentar dar um jeito na situação, restou a ele cortar 10% nos salários dos funcionários municipais e cortar 2.000 vagas. É uma crise crônica, mas Detroit aposta no renascimento das montadoras para reencontrar o seu caminho.
