Decisão do governo Kirchner pode tirar Latam da Argentina
Administrador do aeroporto de Buenos Aires deu prazo de dez dias para que a filial argentina da companhia desocupe o hangar; empresa alerta que saída pode prejudicar operações
Depois de meses de conflito entre a aérea LAN Argentina e o governo de Cristina Kirchner, a companhia confirmou, nesta quarta-feira, que poderá deixar de operar no país. A decisão é uma resposta à ordem oficial para que a empresa desocupe, dentro de um prazo de 10 dias, o hangar no qual concentra seu trabalho de manutenção no aeroporto metropolitano Jorge Newbery (Aeroparque). A LAN Argentina pertence à Latam Airlines, que controla desde o ano passado a brasileira TAM.
A informação foi dada pelo diretor de Assuntos Corporativos da LAN, Agustín Agraz, à agência local de notícias Diarios y Noticias. Ele disse que a operação de LAN Argentina é inviável sem o hangar, porque elevaria os custos. “Se tiram a gente do hangar, seremos obrigados a deixar de voar aos 14 destinos da Argentina”, alertou. O executivo lamentou que, nos últimos meses, nenhum funcionário do governo responsável pela política de transporte aeroportuário da Argentina tenha atendido às ligações telefônicas da companhia.
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Agraz disse que a companhia recebeu a ordem de despejo na terça-feira, emitida pelo Organismo Regulador do Sistema Nacional Aeroportuário (Orsna) e que vai apresentar recurso legal contra a medida. “Recorreremos à justiça para fazer valer nossos direitos. Temos um contrato assinado até 2023 pelo hangar e nossa base de manutenção até o ano 2023, com um investimento de 5 milhões de dólares e royalties mensais de 20 mil dólares”, afirmou.
Histórico – O conflito entre a companhia e o governo começou em dezembro, em diferentes autarquias. A primeira foi com a Intercargo, estatal que presta serviços de manuseio de bagagens e distribuição das pontes de embarque nos aeroportos, que reclamou uma dívida milionária da LAN. Durante o embate, a LAN foi obrigada a cancelar uma série de voos por falta dos serviços.
A LAN é a principal rival da Aerolíneas Argentinas, controlada pelo estado argentino.
O Orsna não quis comentar a intimação da companhia aérea. Contudo, o vice-presidente de planejamento, gestão e estudos da Latam, Roberto Alvo, disse que o órgão controlador justificou sua decisão porque a filial argentina da Latam não pertence ao estado e não opera voos domésticos e internacionais a partir do terminal. A LAN Argentina oferece voos ao exterior do aeroporto de Ezeiza, nos arredores de Buenos Aires, com uma frota de aviões Boeing 767-300. “Nós acreditamos que a decisão é ilegítima e estudaremos tomar todas as ações legais necessárias para reafirmar nosso contrato”, disse Alvo.
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Bolsa – As ações da Latam chegaram a cair quase 6% na tarde desta quarta-feira, na bolsa chilena, pressionadas pela intimação do regulador argentino e pelo prejuízo do segundo trimestre anunciado na noite de terça-feira.
Alvo acrescentou que a decisão do Orsna não é uma ação isolada. “Parece estar em linha com o aumento do nível de ações contra nós e que prejudicam nossas operações na Argentina”, afirmou, sem dar mais detalhes.
(com Estadão Conteúdo e Reuters)