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Crise vira oportunidade para ferrovias

Cresce demanda pelo meio de transporte no mercado por causa dos custos menores; trens passam a transportar, inclusive, produtos industrializados

Por Da Redação
6 jul 2015, 10h03

O revés da economia brasileira tem rendido bons negócios para as companhias ferroviárias. Tradicionalmente bancadas pelo transporte de granéis, como minério de ferro e grãos, elas abriram espaço para novas cargas transportadas em contêineres. As companhias nem precisaram se esforçar muito para conquistar novos clientes. Eles vieram até elas na busca por redução de custos. A lista de produtos transportados nas grandes “caixas” de aço vão de milho, soja, açúcar e celulose a produtos industrializados, como TVs de plasma.

Se antes da crise a prioridade do setor produtivo era entregar a mercadoria no menor tempo possível, agora com a demanda mais fraca e margens reduzidas, o que importa é diminuir as despesas e garantir a rentabilidade. O movimento pode ser percebido no aumento do transporte de contêineres pelos trilhos. De janeiro a maio deste ano, seis das oito principais ferrovias que fazem esse tipo de transporte no país registraram aumentos entre 8,9% e 154% em relação a igual período do ano passado, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Na MRS Logística, operadora que administra uma malha de 1.643 quilômetros nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, o volume transportado para o Porto de Santos – o maior da América do Sul – cresceu 57% entre janeiro e maio deste ano. Em toda a concessão, o aumento da movimentação de contêiner foi de 22%. “A crise econômica abriu a cabeça de muitas empresas, que deixaram de lado uma série de preciosismos em favor de uma redução de custos mesmo que seja de 1 real”, afirma o gerente geral de Negócios da ferrovia, Guilherme Alvisi.

O aumento da participação dos contêineres na movimentação total da MRS – embora ainda pequena – é uma novidade. O forte da empresa, formada por CSN, Vale, Usiminas, Gerdau, Namisa e Minerações Brasileiras Reunidas, é o transporte de commodities minerais. Mas o objetivo da companhia é ampliar os horizontes, afirma Alvisi. Segundo ele, nos últimos meses, 70% de seu tempo tem sido dedicado a negócios no segmento de contêineres. “Todos os dias recebemos a visita de potenciais clientes. Hoje já estou no quarto encontro”, afirma o executivo.

Foi numa dessas reuniões, que a empresa conquistou o transporte de TVs de plasma da coreana LG. Os aparelhos saem de Manaus e descem até o Porto Santos em navios de cabotagem (navegação apenas no litoral brasileiro). Ali são transferidos para trens que levam a mercadoria até Cajamar, na Região Metropolitana de São Paulo. Somente nessa operação são cerca de 1.000 contêineres por mês. “Com a vantagem de risco zero de roubo de carga em relação ao transporte por caminhão”, afirma Alvisi.

Segundo ele, a empresa está fazendo um mapeamento dos potenciais mercados que podem ser explorados. “Há uma infinidade de empresas que podem se tornar nossos clientes, mas queremos um direcionamento para ganharmos tempo.”

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Na Brado Logística, braço da Rumo Logística (ALL) na movimentação de contêiner, além de novos contratos, clientes antigos aumentaram o volume transportado por contêiner. Pelos dados da ANTT, as malhas Norte, Sul e Paulista da ALL registraram crescimento nesse segmento de 27,59%, 56,47% e 8,92%, respectivamente, entre janeiro e maio deste ano comparado a igual período do ano passado.

“Nesse momento de crise, as companhias olham mais para as ferrovias como solução para a redução de custos (na média, o transporte por ferrovia é 15% mais barato que o rodoviário). Nós estamos aproveitando a oportunidade para expandir a atividade”, afirma o diretor comercial da empresa, Angelo Baptista.

Segundo ele, desde o fim do ano passado, a empresa passou a fazer o transporte de celulose em contêiner para os portos de Santos e Paranaguá. Normalmente esse tipo de produto é transportado a granel. Um dos fortes da ferrovia é a movimentação de cargas “frigorificadas”, que exigem contêineres especiais para transportar especialmente carnes. “Esse é um nicho que deve crescer bastante nos próximos anos. O Brasil precisará agregar valor aos seus produtos, não só exportar a soja em grão, mas em forma de produto industrializado.”

Menor ferrovia – Os efeitos da crise também chegaram aos trilhos da Ferrovia Tereza Cristina, o menor corredor ferroviário do país, com 164 quilômetros em Santa Catarina. Do ano passado para cá, a movimentação de contêiner da empresa teve um salto de 154%.

Nesse caso, a redução de gargalos no Porto de Imbituba também ajudou a incrementar a movimentação de carga da empresa, que tem transportado produtos cerâmicos, mel e arroz. Boa parte das mercadorias fica no mercado interno. O arroz, por exemplo, segue de ferrovia até o Porto de Imbituba e depois vai para o Nordeste em navios de cabotagem.

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Em todos os casos, o desafio é conseguir fidelizar os novos clientes para que continuem nas ferrovias mesmo quando a economia se recuperar e o tempo de transporte voltar a ser um fator primordial para os clientes. “A diversificação é saudável para as ferrovias, pois em situação de crise elas não ficam muito expostas”, afirma o superintendente da ANTT, Alexandre Porto, referindo-se à volatilidade do mercado de commodities que interfere no volume transportado das ferrovias.

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