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Crise na Rússia: o que está em jogo e como o Brasil pode ser afetado

Queda do preço do barril de petróleo e sanções comerciais colocam a economia russa em alerta máximo; analistas falam em risco de contágio

Por Da Redação
16 dez 2014, 18h22

Em busca de novos motores de crescimento, os países emergentes, e alguns deles afetados pela queda do preço do petróleo, podem ser vítimas indiretas da crise na Rússia e da crescente desconfiança dos mercados.

Grande exportadora de hidrocarbonetos, a Rússia pode ver sua economia recuar entre 4% e 5% em 2015 se os preços se mantiverem em 60 dólares, segundo alertou o banco central russo. As estimativas de queda ainda maior do preço do barril agravaram a desconfiança em relação ao país europeu, o que motivou uma forte fuga de capitais. O dólar teve valorização de 106% este ano em relação ao rublo, a moeda russa.

Num intento de conter a saída de capital, o governo russo elevou os juros de 10% para 17% ao ano, numa reunião de emergência na noite de segunda-feira. Tal medida, tomada com o intuito de tornar os títulos russos mais atrativos para os investidores. Não funcionou. Apenas nesta segunda, o dólar subiu 20%.

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Tudo isso acontece em um contexto de grande tensão política com o Ocidente. Além de a Rússia ter 50% de suas receitas provenientes do petróleo e seus derivados, há ainda o impacto das sanções econômicas implementadas pelos Estados Unidos e a União Europeia devido ao papel de Moscou na crise ucraniana – tendo anexado a Crimeia, a Rússia mantém forte apoio a milícias separatistas no Leste da Ucrânia.

Economistas argumentam que o mundo pode estar assistindo a uma crise semelhante à de 1998, em que a queda do rublo tragou não só a Rússia, como também o Brasil e outros emergentes. Segundo o economista Tony Volpon, do banco Nomura, há um elemento de contágio no cenário econômico hoje que não se via desde a crise de 2008. “A reação do mercado às notícias vindas da Rússia lembram muito como os emergentes responderam durante os anos 1990. Risco de contágio, algo que muitos achavam ter ficado para trás, parece estar de volta”, afirma.

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A economia mundial segue altamente dependente do setor de energia, que é controlado, seja onde for, por uma elite. Qualquer sinal de instabilidade pode colocar o mundo em alerta. Como, coincidentemente, muitos emergentes são também expoentes do setor petroleiro, a mira está sobre eles.

Em novembro, a revista The Economist afirmou que uma crise profunda poderia se instalar no país antes do que se imaginava. “A artilharia da Rússia é mais fraca do que parece e ela pode ser testada em muitas oportunidades, como uma nova queda do preço do petróleo, uma renegociação de dívida por empresas russas, além de novas sanções do Ocidente”, previa a Economist. E o presidente dos EUA, Barack Obama, acaba de anunciar que novas sanções serão impostas ao país europeu.

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Emergentes – A queda do preço do barril do petróleo tem o potencial de afetar drasticamente todos os governos que se valem de suas reservas para financiar programas de transferência de renda. E a Rússia é o principal deles. A exemplo de outros líderes de países emergentes, Vladimir Putin centra toda a sua política no aumento do consumo, justamente com o intuito de manter a popularidade. Se a receita com petróleo cair a um nível preocupante, o presidente pode se ver obrigado a abrir mão de programas de estímulo ao crédito.

A agência de classificação de risco Fitch cita que os países que correm mais riscos são Venezuela, Bahrein e Nigéria. O país latino-americano encabeça a lista porque 96% de suas receitas vêm do petróleo. A Fitch aponta ainda que os demais países exportadores, como a Arábia Saudita e o Kuwait, têm reservas acumuladas suficientes para enfrentar a queda acentuada das cotações.

No caso do Brasil, apesar de não ser um grande exportador, há reflexos evidentes sendo notados, sobretudo no mercado de capitais. O país é alvo de incertezas tanto no campo macroeconômico quanto na condução de sua estatal petrolífera, a Petrobras. Diante de um cenário de aversão ao risco, investidores fogem de ativos incertos, em especial os que estão relacionados ao setor de óleo e gás. Ainda que a arrecadação federal não advenha da venda de petróleo, a Petrobras deve ser fortemente afetada pela queda do barril.

As denúncias de corrupção na estatal, que é a empresa brasileira mais conhecida pelo investidor estrangeiro, também tem ajudado a corroborar o cenário de mau humor em relação ao mercado brasileiro.

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Diante disso, ao menor sinal de instabilidade – e o sinal russo foi, digamos, enorme – a tendência é que os países “frágeis” sintam o baque mais forte. O Brasil, nesse sentido, se mostra mais suscetível que os demais emergentes. Enquanto o dólar se valorizou apenas 3% em relação à rúpia indiana em 2014, a alta em relação ao real supera 16%.

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Fator político – Em Moscou, enquanto Putin permanece calado, o chefe de governo Dimitri Medvedev organizou uma reunião de ministros do setor econômico. Os ministros não falaram, entretanto, na possibilidade de restringir os movimentos de capitais, limitando, por exemplo, as compras de divisas, como faz a Argentina. Esse é, aliás, um dos maiores temores de investidores, já que a população, cada vez mais, vem trocando suas economias em rublo por dólar.

Para a população, as consequências da queda do rublo são muito concretas: o aumento dos preços chega perto dos 10% ao ano e pode subir ainda mais.

Os economistas da consultoria Capital Economics alertaram que a estratégia do banco central russo de subir juros tem um preço: “um novo encarecimento do crédito para as famílias e as empresas, e um retrocesso ainda mais forte da economia real em 2015”. Com uma taxa de juros a 17%, os juros do crédito imobiliário devem ficar em torno de 22%, porcentual dificilmente sustentável para os russos, cujo poder aquisitivo já está seriamente corroído pela inflação.

O papel da China, segundo consumidor mundial de petróleo, é fundamental para equilibrar o cenário: se a economia do país se mantiver em ritmo de desaceleração, o consumo de petróleo tende a diminuir – o que impulsionará a queda dos preços, afetando os emergentes frágeis. Em tempos de crise, investidores querem vender tudo que tenha o mínimo de risco. O Brasil, que antes era um contraponto à Rússia dentro dos Brics (sobretudo por sua estabilidade política), começa a ser considerado pelo mercado como um igual.

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