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Cresce a presença de mulher piloto no mercado aéreo brasileiro

Número de licenças femininas para voar como piloto comercial de avião subiu 64% em três anos, segundo a Anac; comandantes relatam diminuição do preconceito

Por Clara Valdiviezo Atualizado em 1 Maio 2019, 16h27 - Publicado em 1 Maio 2019, 14h43

O crescimento das mulheres na aeronáutica tem sido significativo nos últimos anos. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o número de mulheres com licença para voar como piloto comercial de avião subiu 64% de 2015 a 2018, passando de 261 para 428 no ano passado.

Apesar do crescimento, as mulheres ainda são minoria na classe dos pilotos. Enquanto elas são 428 (3%) com licença para voar, eles somam 13.952 (97%). O setor de aviação brasileiro ainda é muito masculinizado. Na categoria de piloto de linha aérea, considerado o topo da carreira, as mulheres são menos de 1%, apenas 49 do total de 5.211 licenças.

“O número de pilotos homens é nitidamente maior, mas existe uma tendência e um crescimento na participação das mulheres”, afirma o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Ondino Dutra.  

A piloto Marcela Fernandes vê sua profissão, e a entrada de mulheres no ramo, de forma otimista. Ela voa como piloto há sete anos pela companhia aérea Azul e conta que nunca passou por nenhum problema por ser mulher. “Alguns clientes estranham. Às vezes, quando chegamos no destino, algum fala: ‘Nossa! Foi você quem trouxe a gente?!’. Mas isso não me machuca, é só falta de costume”, diz a piloto.

Marcela afirma que o meio aeronáutico está aberto para mulheres, e que a presença delas, dia após dia, quebra um paradigma que vai deixar de existir. “É um trabalho de formiguinha, as coisas vão se desmistificando com o tempo.”

Para a comandante da Avianca, Paula Babinski, a maior parte do preconceito vem dos passageiros que não estão acostumados a ver uma mulher comandando uma aeronave. Ela conta que o pouco de preconceito que sofreu no meio foi quando tirava as licenças, mas afirma que nunca se abalou. “As piadas sempre serviram de combustível. Eu queria mostrar para eles que eu poderia ser o que eu quisesse”, diz a comandante.

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Paula relata um momento marcante da sua trajetória de nove anos de voo como piloto. Um passageiro pediu para descer do avião ao ouvir a voz dela. Na época, ela era a copiloto da aeronave, estava em seu período de treinamento, e seu instrutor insistiu para que ela desse as boas vindas no auto-falante. Ao deduzir que uma mulher estaria pilotando a aeronave, o passageiro fez o avião voltar à posição de embarque para que ele pudesse descer. “Os passageiros são pessoas de diferentes culturas, que trazem suas bagagens, e não posso jamais julgar. O que eu posso fazer é convidá-los a experimentar o voo com mulheres.”

A falta de divulgação sobre como mulheres podem ser piloto é o principal impeditivo para elas entrarem na profissão, de acordo com a diretora do SNA, Luciana Carpena. “As pessoas ainda tratam a aviação com muito glamour, mas, na verdade, é uma profissão como qualquer outra.” Para a comandante, a profissão ausenta a profissional de casa como qualquer outra. “O necessário é administração do tempo.”   

A Avianca formou a primeira equipe inteiramente composta por pilotos mulheres em 2018, por meio do Programa Donas do Ar. Com a crise financeira da companhia aérea, o projeto, que promovia treinamento e contratação, além da divulgação da profissão, foi colocado em stand-by.  

A única classe aeronáutica na qual as mulheres são maioria é a dos comissários, que comporta 7.005 mulheres (66%) e 3.637 homens (34%).  A presença de comissários homens vêm crescendo levemente.

Padrões estéticos

A existência de um código de vestimenta e de padrões estéticos de elegância são marcas da aviação, mas perpetuam estereótipos de gênero. Com a entrada e consolidação das mulheres no mercado aéreo, as regras têm mudado.

A empresa aérea britânica Virgin Atlantic aboliu a necessidade de maquiagem para a sua tripulação feminina, e permitiu também o uso de calças. De acordo com a empresa, a escolha foi feita para que as comissárias tenham mais conforto ao trabalhar e também para que elas se sintam mais livres para “se expressar no trabalho”. No Brasil, a calça já fazia parte do uniforme feminino nas principais empresas aéreas atuantes no país, mas a maquiagem segue sendo recomendada na maioria das companhias.

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No mercado brasileiro, a tripulação segue normas de apresentação e de tratos com os cabelos e unhas. Os uniformes dos tripulantes são escolhidos pelas companhias de acordo com o grau de formalidade que eles desejam apresentar. “São tendências. Se uma se formalizar, provavelmente outras podem fazer o mesmo em relação aos uniformes”, diz o comandante Dutra.

 

A comandante Kalina Milani pilota uma aeronave modelo B737-300 (AMAB/Divulgação)

As principais companhias aéreas do país permitem que as comissárias escolham entre calça, vestido e saia para portar o uniforme. De acordo com a comandante de Boeing 777 da Emirates, Kalina Milani, o uso de saia está longe de ser a melhor opção. A comandante conta que na profissão a prioridade deve ser o conforto e a eficiência. “A quantidade de horas que elas passam no trabalho pede que o uniforme não incomode nem as distraia, já que precisam estar prontas para assumir uma posição de risco a qualquer momento. O cuidado com a aparência é importante,  todas devem se cuidar, afinal são profissionais da empresa que representam. Mas o mais importante na profissão de piloto de linha aérea não é a beleza nem a maquiagem, e sim a competência e o profissionalismo.

Milani afirma que as portas da aviação, e de qualquer mercado com ausência de mulheres como trabalhadoras,  estarão abertas quando elas deixarem de lado a preocupação com a aparência e demonstrarem seu profissionalismo. “Quando você passa a imagem de competência e seriedade, mesmo com feminilidade, as pessoas vão te respeitar pela profissional que você é”, afirma.

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