CPI: Foco de questões a Araújo, China é o maior parceiro comercial do país
Apesar das críticas ideológicas do ex-ministro de Relações Exteriores, China passou a responder por 32% das exportações brasileiras em 2020; relembre
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia de Covid-19 ouve nesta terça-feira, 18, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Convocado via requerimento pelos senadores Marcos do Val e Alessandro Vieira, a CPI questiona Araújo sobre sua condução da política externa brasileira durante a pandemia. O foco principal é a relação do chanceler com a China. Durante o depoimento, Araújo disse que “jamais promoveu atrito com a China”, e foi alertado pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), para “não faltar com a verdade”. Tensões a parte, vale lembrar que a China é o maior parceiro comercial do país.
Um dos principais representantes da ala ideológica do governo Bolsonaro e seguidor de Olavo de Carvalho, Araújo teve um mandato marcado por discursos ácidos em críticas a países como a China, porém com pouco efeito prático e até mesmo contraditório em relação ao resultado, que aumentou a balança comercial com a China e diminuiu a relação com os Estados Unidos durante o governo Bolsonaro.
Para se ter ideia, em abril o comércio exterior brasileiro bateu recordes, com um superávit de 10,35 bilhões de dólares, maior valor desde 1997, o início da série histórica. As exportações no quadrimestre também foram a maior desde então e a China é a principal responsável por estes números. As vendas para o país asiático em abril aumentaram 55,1% em relação ao ano passado, com destaque para a indústria agropecuária brasileira, com vendas principalmente de soja, e para a indústria de transformação e extrativa.
Em janeiro de 2019, ao assumir o cargo, Araújo criticou o globalismo e defendeu a mudança da participação do Brasil em órgãos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU): “Queríamos ser um bom aluno na escola do globalismo e achávamos que isso era tudo. Éramos um país inferior […]. Nós buscaremos as parcerias e as alianças que nos permitam chegar aonde queremos. Não pediremos permissão à ordem global”.
Pandemia
Já em abril de 2020, quando a Covid-19 se espalhava pelo mundo, o então ministro chamou o coronavírus de “comunavírus”, “um parasita do parasita”, e que “aparece, de fato, como imensa oportunidade para acelerar o projeto globalista”. Enquanto desfiava críticas à China, no entanto, o gigante asiático avançava na produção da vacina CoronaVac e o governo Bolsonaro ficava para trás na negociação para trazer os imunizantes ao Brasil e para arrefecer a enorme crise sanitária que abateu o país.
Enquanto isso, o governador de São Paulo, João Dória, avançava no diálogo com a China, o que denegriu a imagem do governo federal e gerou uma disputa política entre Dória e Bolsonaro, antecipando as eleições presidenciais em 2022. Em meio a esse conflito, teve de entrar na negociação com a China pelas vacinas a ministra de Agricultura, Tereza Cristina, e o próprio presidente Jair Bolsonaro precisou mudar seu discurso, para a China liberar ao Brasil insumos para a fabricação da CoronaVac no Brasil.
Na CPI da Pandemia, Ernesto Araújo também será questionado sobre defender o “tratamento precoce” da Covid-19 e o envio de telegramas a nações solicitando o fornecimento de cloroquina ao Brasil, substância cuja eficácia no combate ao coronavírus carece de pesquisas científicas robustas. Pressionado, Araújo pediu demissão como ministro das Relações Exteriores em março deste ano. A investigação do ex-ministro na CPI da Covid-19 é mais um capítulo da derrota da ala ideológica do governo que, além de ser afastada de seus cargos no governo, agora é alvo de investigações.