Copom: Com pressão da inflação, mercado aposta em alta de 1 ponto na Selic
A expectativa é que o Comitê de Política Monetária continue com a política contracionista; taxa deve chegar a 6,25% ao ano, quarta alta seguida
A taxa básica de juros, a Selic, passou a ser um dos temas mais falados no mercado ultimamente. Isso porque, neste ano, ela voltou a seguir uma trajetória de altas consecutivas. Após atingir o patamar de 14,25% ao ano em 2015, a Selic passou por reduções graduais, chegando a 2% em 2020, seu menor patamar histórico. Mas o atual cenário inflacionário tem obrigado o Banco Central a revisar os juros na tentativa de controlar os preços.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os rumos da Selic será divulgada no fim da tarde desta quarta-feira, 22. A expectativa é unânime entre os economistas ouvidos pela VEJA de que a autoridade mantenha a mesma linha das últimas reuniões e aumente em um ponto percentual a taxa, de 5,25% para 6,25%. “Nós acreditamos que essa magnitude de alta é o mínimo que o BC precisa fazer em vista das pressões inflacionárias e deterioração das expectativas que estamos observando”, diz Sérgio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital.
O IPCA, índice oficial de inflação do país, acumula altas de 5,67% no ano e de 9,68% nos últimos 12 meses terminados em agosto. “O melhor cenário para a economia é elevar a taxa de juros, dado que estamos acompanhando há mais de vinte semanas consecutivas as expectativas de alta na inflação”, comenta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Com a taxa básica mais cara, há um desestimulo no crédito e no consumo, impactando nos preços.
Após justamente o resultado do IPCA de agosto, o mercado projetava uma alta maior, de 1,25 a 1,50 pontos percentuais, para esta reunião. No entanto, a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na semana passada de que o BC não iria alterar o plano da política monetária, arrefeceu as projeções mais ousadas.
Apesar de ser consenso entre os economistas a necessidade de elevação da taxa de juros em decorrência do cenário inflacionário, a política monetária pode pressionar bastante o crescimento do país, que vem em recuperação após o impacto inicial da pandemia de Covid-19 na economia brasileira. “O grande problema é que essa inflação está muito mais ligada aos choques, no começo de alimentos, depois do câmbio, combustíveis e agora a crise hídrica. E a elevação da taxa de juros não é eficaz para controlar choques, porque acaba desaquecendo toda a economia, algo muito ruim para a recuperação da atividade econômica em um cenário de pós-pandemia”, avalia Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research.
Embora a inflação hoje seja um fenômeno global devido aos choques causados pela pandemia na oferta e demanda, muitos desses países — em especial, os desenvolvidos — não estão atuando por meio de política monetária para controlar os preços. No caso brasileiro, Fontes explica que a economia do País ainda é bastante indexada e esses choques se propagam, então o BC é obrigado a lançar mão de altas na Selic para controlar esses efeitos secundários.
No Brasil, a elevação dos juros pode trazer dois cenários: crescimento menor do PIB ou até mesmo uma retração formal, ou seja, uma recessão. “Não acho que o cenário mais provável seja de recessão, mas é possível que tenhamos desaceleração do crescimento no próximo ano”, diz Mauro Morelli, estrategista chefe da Davos Investimentos.
Sequência de altas
O Copom tem mais duas reuniões agendadas até o fim do ano, em 26 e 27 de outubro e em 7 e 8 de dezembro. As projeções do Boletim Focus apontam a Selic em 8,25% em 2021, de acordo com o Boletim Focus. Enquanto isso, a projeção é de uma inflação a 8,35% ao final do ano, bem acima da meta estabelecida pelo BC, de 3,75%.
“O Banco Central trabalha com uma meta de inflação como alvo principal do seu mandato. Infelizmente, o ciclo de alta de juros ainda será extenso, o que causa um impacto contracionista na economia principalmente a partir do momento que a taxa de juro real se encontra acima do nível estimado neutro, de 3% pelo próprio BC”, diz Zanini, da Galapagos Capital.
Para o próximo ano, o mercado projeta a Selic em 8,50% e a inflação em 4,10%. “Se inflação em 2022 for maior, de 5%, a Selic precisará subir até 9%, resultando em um juro real de 4%, ou seja, 1% acima do nível neutro, e ficar nesse patamar para esfriar a economia e derrubar a inflação”, avalia Zanini.
Como a Selic é a referência das demais taxas de juros do mercado nacional, a elevação tende a provocar o aumento dos juros cobrados em operações de crédito, como empréstimos e financiamentos, o que impacta diretamente o consumo das famílias e os investimentos das empresas. As projeções para o PIB em 2022 caíram de 2% em agosto para 1,63% na última semana, de acordo com o Boletim Focus. “Visando conter o avanço da inflação, é necessário que o Copom mantenha a postura mais hawkish (contracionista), mas a tendência é que a aceleração da taxa básica de juros nacional contribua para a desacelerar a retomada da economia brasileira”, diz Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos.