Por Tiago Pariz
BRASÍLIA, 20 Dez (Reuters) – A crise internacional já começa a pesar sobre o balanço de pagamentos brasileiros. Além de registrar o pior déficit em transações correntes da história no mês passado, o Banco Central revisou suas projeções e indicou que, pela primeira vez em uma década, os investimentos produtivos não devem cobrir o déficit em conta corrente em 2012.
O movimento vem sobretudo do desempenho da balança comercial, que mostra resultados fracos, e das maiores remessas de lucros e dividendos feitas por multinacionais instaladas no país.
Em novembro, o Brasil registrou saldo negativo nas transações correntes -que são as operações do país com o exterior, incluindo gastos com viagens internacionais, entre outros- de 6,803 bilhões de dólares, acumulando no ano 45,830 bilhões de dólares.
O resultado de novembro ficou em linha com a previsão de analistas consultados pela Reuters, de 6,8 bilhões de dólares, e é o pior resultado mensal desde o início da série histórica do BC, em 1947. Para dezembro, o déficit deve bater um novo recorde e aumentar a 7,1 bilhões de dólares, fechando ao ano em 53 bilhões de dólares.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, acredita que, apesar de os números mostrarem uma deterioração, o país está numa situação mais confortável para enfrentar a crise econômica internacional. Ele citou que, diferentemente da década de 1990 e 1970, o que pesa no déficit agora não são os juros muito elevados.
“Agora, o déficit é resultado da atividade econômica”, afirmou ele, acrescentando que o bom desempenho da atividade acaba gerando mais demanda por bens e serviços no exterior.
IED INSUFICIENTE
Em novembro, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) ficou em 4,056 bilhões de dólares no mês passado, cifra que não foi suficiente para cobrir o rombo das transações correntes no período. No acumulado do ano até novembro, no entanto, os investimentos produtivos já somaram 60,055 bilhões de dólares neste ano, e a previsão do BC é de que feche o ano em 65 bilhões de dólares. Até 20 de dezembro, o IED já somava 4,3 bilhões de dólares.
Em 2012, sobretudo com o menor comércio exterior vindo da crise internacional, o BC prevê que o IED não será suficiente para cobrir o déficit em conta corrente. Serão 50 bilhões de dólares em investimentos produtivos contra um rombo de 65 bilhões de dólares na conta corrente brasileira.
“O IED tem destaque, mas hoje o déficit é financiado por outras fontes porque hoje temos mais estabilidade econômica”, afirmou Maciel, referindo-se, entre outros, ao mercado de capitais.
Esse descompasso em um ano fechado não ocorre desde 2001, segundo dados do BC, quando o IED ficou em 22,457 bilhões de dólares e a conta corrente brasileira registrou saldo negativo de 23,215 bilhões de dólares.
Os dados mais fracos vêm, sobretudo, da balança comercial. O BC estima que o superávit comercial do ano que vem ficará em 23 bilhões de dólares, contra 28 bilhões neste ano.
“O saldo será menor com um cenário de corrente de comércio global menor, com as importações crescendo ligeiramente acima das exportações”, afirmou Maciel.
Segundo ele, haverá uma expansão maior na conta de serviços, com as viagens internacionais ditando o comportamento. Em novembro, o saldo ficou negativo em 977 milhões de dólares, com brasileiros gastando mais no exterior. A expectativa do BC para 2011 e 2012 é de 14,3 bilhões e 14,5 bilhões de dólares, respectivamente.
Com a crise internacional afetando as empresas lá fora, o BC também elevou suas contas para remessas de lucros e dividendos, passando de 38 bilhões de dólares neste ano para 39,6 bilhões de dólares em 2012.
Para Maciel, esse aumento tem relação com a crise internacional devido à demanda das sedes das empresas no exterior, requisitando mais de suas filiais instaladas no Brasil, que mostra crescimento econômico mais robusto se comparado com outras economias.
O BC verificou que a taxa de rolagem está em queda, indicando que os agentes econômicos podem estar com mais problemas para captar lá fora. A taxa de rolagem acumulada até 20 de dezembro está em 223 por cento, contra os 499 por cento vistos até novembro. Para o ano que vem, Maciel trabalha com um cenário de taxa de rolagem de 125 por cento.
“Ainda é favorável porque mostra que os desembolsos estão mais do que o dobro do que as amortizações”, argumentou ele, sustentando que não há nenhum problema de liquidez para financiamento.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, disse nesta terça-feira que está havendo impacto moderado no custo de empréstimos externos.
AÇÕES
A aplicação de estrangeiros em ações negociadas no país subiu na parcial de dezembro, saindo de 532 milhões de dólares em novembro para 2,2 bilhões de dólares neste mês até o dia 20 de dezembro. Os investidores aproveitavam a redução para zero da alíquota do Imposto sobre Operações Estrangeiras (IOF) para estrangeiros em bolsa.
O BC estima que, em 2012, os investimentos totais em ações, que inclui as negociadas em bolsas de valores do Brasil e do exterior, vai chegar 12 bilhões de dólares, contra 6 bilhões de dólares na projeção para este ano.
Por outro lado, a movimentação de ADRs (recibos de ações brasileiras negociadas nos Estados Unidos) ficou negativa em 1,75 bilhão de dólares em dezembro, até o dia 20, contra saldo positivo de 7 milhões de dólares em novembro.
Em renda fixa, o investimento estrangeiro ficou em 76 milhões de dólares, contra um saldo negativo de 8 milhões em novembro de 2010.