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Conheça as redes que podem transformar a indignação em solução

Iniciativas empreendedoras que aproximam o cidadão do poder público, como o Colab e o ReclameAQUI Cidades, podem transformar a ira contra os governos em cidadania atuante e eficiente

Por Talita Fernandes
14 jul 2013, 09h10

Um grupo de cinco jovens do Recife viu num hábito corriqueiro – o de usar as redes sociais para reclamar dos problemas das cidades ou da má administração pública – a oportunidade de incentivar a cidadania e, ao mesmo tempo, os próprios negócios. Eles desenvolveram o Colab, uma rede social que permite que os cidadãos façam propostas, críticas e fiscalizem as ações do poder público. Já o site Reclame Aqui desenvolveu o núcleo ‘Cidades’, com o mesmo propósito de servir de ponte entre as demandas da sociedade e o trabalho do setor público. Na esteira dos protestos que movimentaram o Brasil no mês de junho, esse tipo de iniciativa pode fazer com que os jovens canalizem sua indignação de forma mais eficiente.

A ideia de criar o Colab surgiu em maio de 2012, quando os sócios de duas empresas do Porto Digital, polo de tecnologia do Recife (PE), perceberam a oportunidade durante o período de eleições municipais. “Falamos com o poder público e percebemos que as redes sociais não eram monitoradas”, explica Gustavo Maia, fundador da Quick, empresa de marketing digital e tecnologia que desenvolveu a rede social junto com a agência 30 Ideias. À época, Maia trabalhava com marketing digital para campanhas eleitorais.

O Colab oferece uma ferramenta gratuita para que cidadãos postem imagens e textos de problemas encontrados em suas cidades, como buracos nas ruas, postes sem luz e ônibus em más condições. O mesmo site permite que prefeituras e governos consigam receber as informações postadas pelos cidadãos. “Víamos que as pessoas usavam as redes sociais para falar de coisas da cidade, como o trânsito, por exemplo. Só que toda essa informação que é jogada nas redes é perdida”, conta Maia.

A ferramenta começou a ser desenvolvida em novembro do ano passado e foi colocada no ar no final de março, no Recife. Cerca de 20 dias depois ela foi ampliada para a cidade de São Paulo e, em junho, data que coincide com as manifestações que se espalharam pelo Brasil, foi aberta para as demais cidades do país. Atualmente, o aplicativo para smartphone do Colab foi baixado por 16 mil usuários – e mais de 20 mil se cadastraram no site.

No início de junho, a ferramenta conquistou a segunda edição do prêmio AppMyCity!, da New Cities Foundation, que avalia aplicativos criados para trazer melhorias às cidades. “Para que as cidades do Brasil e do mundo se tornem melhores, é preciso duas coisas: encorajar o surgimento de ideias inovadoras e criar um diálogo entre os setores público e privado, a sociedade e as universidades em prol dessa melhora”, afirma Naureen Kabir, diretora da New Cities Foundation.

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A prefeitura de Boston, nos Estados Unidos, é um exemplo prático de como a interação entre governos e setor privado podem funcionar para dar luz a projetos que melhorem a vida das pessoas. A cidade americana criou o programa Boston About Results, que reúne informações sobre os serviços municipais e as atividades que vêm sendo desenvolvidas pelas agências de gestão da cidade. Em Boston, os cidadãos podem usar ferramentas como o Citizen Insight, que funciona como canal entre a população e o poder público. A iniciativa de criar o programa surgiu de uma aliança entre empresas e governo.

Para o especialista em gestão governamental e diretor da Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ANESP) Ricardo Vidal, um cenário semelhante ainda está longe de acontecer no Brasil. “O poder público brasileiro tem muito a aprender com a iniciativa privada em termos de gestão e atendimento. Os governos precisam entender que a disponibilização de canais efetivos de comunicação também é sinônimo de transparência. Não basta só mostrar os gastos públicos”, diz Vidal.

Conhecido por dar voz aos consumidores em suas reclamações contra empresas, o site ReclameAQUI também encontrou na indignação dos usuários uma oportunidade. Lançou, em janeiro deste ano, o ReclameAQUI Cidades. O site segue os mesmos moldes do que foi criado para os consumidores – mas a adesão dos usuários ainda é tímida, se comparada à do site inicial. Até o momento, foram registradas 5.993 reclamações e 11.724 usuários cadastrados. No sistema, 503 prefeituras se inscreveram para o recebimento das informações. “Fizemos isso porque acreditamos que dentro de dois ou três anos, as prefeituras também terão de responder ao cidadão, assim como as empresas respondem ao consumidor”, explica Maurício Vargas, idealizador do projeto.

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Especialistas acreditam que iniciativas como essa podem, no futuro, substituir a figura do ouvidor. “Na maioria dos casos, ele não é realmente independente do governo municipal e acaba por não realizar um trabalho bastante aprofundado de investigação. Um ouvidor nomeado pelo poder público raramente será independente”, explica o professor de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), Rafael Alcadipani. O uso da tecnologia e o estímulo à inovação terão somente a agregar no que se refere à melhora de serviços para o cidadão. “Podemos pensar em dois exemplos: o Poupatempo e o sistema para tirar passaporte. Em ambos os casos, o que temos é o uso de tecnologias ligadas à internet como forma de fazer agendamentos e evitar filas”, explica o professor.

Tanto o Colab quanto o ReclameAQUI têm sua atuação baseada na comunicação. Em resumo, canalizam mensagens ao destinatário certo e disponibilizam filtros para que essas mensagens sejam vistas por milhares de usuários. Tal dinâmica pode ser vista no funcionamento do site Catraca Livre, que aglutina todas as informações sobre programas culturais, educacionais e sociais gratuitos em um portal acessível a todos. Apesar de não interagir com o poder público, a rede – que também se baseia na colaboração de usuários – funciona como meio agregador e de estímulo à cidadania. Por isso, tornou-se, em 2013, um estudo de caso da Escola de Negócios da Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas dos Estados Unidos.

Prêmio Jovens Inspiradores – Os jovens que querem usar conhecimento em qualquer área para transformar o Brasil podem buscar apoio no Prêmio Jovens Inspiradores 2013. Ao longo de oito meses, o concurso vai selecionar estudantes ou recém-formados com espírito de liderança e compromisso permanente com a busca da excelência. A triagem será feita pela análise de depoimento em vídeo e ficha de inscrição. Os vencedores ganharão bolsas de estudo no exterior, um ano de orientação profissional com nomes de destaque do meio empresarial e político (mentoring), um troféu e ingresso na Comunidade Fundação Estudar. Inscreva-se no PJI 2013.

Por trás do prémio está a visão de que, para se tornar um país mais justo, desenvolvido e bem administrado, o Brasil precisa formar líderes capazes de desatar os nós que ainda tolhem os setores público e privado. O PJI é promovido por uma parceria entre VEJA.com e Fundação Estudar.

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