Como pensa o economista usado pelo PT para dialogar com a Faria Lima
Ex-CEO do Banco Fator, Gabriel Galípolo tem sido uma espécie de interlocutor para conectar as ideias do PT com o empresariado
O economista Gabriel Galípolo, ex-CEO do Banco Fator, ganhou notoriedade na última semana quando acompanhou a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, em um jantar com empresários e investidores em São Paulo. Galípolo recebeu o convite a partir de Gleisi, dado o seu bom trânsito junto ao empresariado brasileiro, mas petistas garantem que ele não faz parte do grupo de assessores que está elaborando o plano econômico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A exposição excessiva de seu nome pós-evento, inclusive, é algo que tem lhe desagradado, segundo fontes próximas.
Há um grupo de dezenas de consultores econômicos do qual fazem parte nomes como Aloizio Mercadante, Ricardo Carneiro, Guilherme Mello, Nelson Barbosa e Pedro Rossi. Esse grupo está à frente da elaboração de um plano econômico para ser apresentado junto à campanha de Lula. De fato, Galípolo não faz parte dele. Talvez, por isso, queira manter discrição perante aos outros economistas. Apesar disso, ele mantém conversas sobre soluções para os entraves do país com o ex-presidente, a quem conhece há cerca de um ano, assim como com integrantes do partido.
Mestre em política econômica, Galípolo é coautor de três estudos escritos em parceria com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e integra o núcleo de economia política do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) que é coordenado pelo economista André Lara Resende, ex-diretor do Banco Central e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).
Em entrevista recente a VEJA, Galípolo disse que o mercado havia entendido que uma terceira via dificilmente iria decolar e que, por isso, havia uma “ansiedade” em entender as propostas de um eventual terceiro mandato de Lula. “O mercado sofre com a ansiedade de querer que os candidatos, especialmente o Lula, explicitem seus programas econômicos, os interlocutores envolvidos, para identificar eventuais riscos em cima disso”, afirmou ele, em janeiro. “Mas, na minha visão, não existem elementos para o mercado temer o Lula. Sua passagem enquanto presidente, inclusive, foi altamente exitosa para o mercado financeiro.”
Ele acredita que o próximo presidente terá o desafio de promover crescimento econômico por meio de parcerias público-privadas e se disse favorável ao aperfeiçoamento da reforma trabalhista e da discussão sobre a reforma tributária. “Há uma mudança cultural em curso, que passa por discutir desde o vínculo de um motorista com a Uber, como o entregador de um aplicativo de comida, ao agente autônomo do mercado financeiro. É uma relação mais complexa do que simplesmente estabelecer um vínculo empregatício a partir dos moldes da antiga legislação”, afirmou, sobre um dos pontos mais temerosos por parte dos empresários em relação ao ex-presidente Lula. “A proposta de uma nova visita à questão da reforma trabalhista não significa desfazer com tudo que foi feito, que me parece ser o maior receio do mercado, mas sim olhar para frente.”
Na ocasião, Galípolo também defendeu que haja uma abertura à discussão sobre o teto de gastos. “O teto, como é hoje, claramente apresentou problemas por não se fazer uma diferenciação qualitativa das despesas do governo, colocando todas as despesas sob uma mesma régua”, disse. “Vários custos que têm um crescimento orgânico, com reajustes muitas vezes acima da inflação, foram crescendo e expulsando das despesas o que nós chamamos de recursos discricionários, que muitas vezes são os mais essenciais. O teto transformou essas despesas nas únicas possíveis de serem cortadas. O investimento que há hoje em infraestrutura, por exemplo, não cobre nem a depreciação”, completou.
Por acaso, os temas foram amplamente debatidos no jantar promovido pelo Grupo Esfera entre o PT e os empresários. Um novo jantar de Gleisi com representantes do mercado financeiro está agendado para o próximo dia 18, no restaurante Fasano, em São Paulo. Ainda não se sabe qual assessor econômico será o acompanhante da presidente do PT na ocasião.