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PIB forte aumenta apostas de alta da Selic na próxima reunião do Copom

Atividade aquecida reacende risco de inflação, e profissionais de mercado já se prepararam para Selic maior

Por Juliana Machado Atualizado em 3 set 2024, 15h05 - Publicado em 3 set 2024, 12h58

A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre não apenas surpreendeu o mercado como também já está motivando uma série de revisões de cenário. Entre as mudanças mais importantes, economistas, gestores e analistas já começam a esperar uma alta de juros no Brasil já a partir da reunião do Banco Central de setembro, diante dos riscos inflacionários que uma atividade mais aquecida traz.

Daqui para frente, a atividade brasileira deve continuar se beneficiando do estímulo fiscal pró-cíclico do governo, com transferência de renda para famílias de baixa renda com propensão ao consumo, além dos aumentos de salários, da mudança no ciclo de crédito e do sólido crescimento real da renda das famílias, afirma Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, em nota em que revisa sua projeção para o PIB deste ano de 2,5% para 3%.

“Os dados muito fortes de hoje sobre a demanda interna aumentam significativamente as chances de um aumento das taxas na reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] de setembro”, diz Ramos, na nota. “Na nossa avaliação, houve uma clara deterioração do cenário de inflação interna. As expectativas de inflação estão visivelmente acima da meta e o real tem estado sob intensa pressão, forçando o Banco Central a intervir na semana passada. Por último, destacamos que a trajetória de inflação projetada pelo BC ao longo do horizonte relevante permanece acima da meta de 3%.”

O resultado da formação bruta de capital fixo (FBCF), como são chamados os investimentos, também chama a atenção. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de investimento, medida pela razão entre a FBCF e o PIB, ficou em 16,8% e foi destacada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como um ponto relevante por ter ficado acima do ano passado.

“Mas temos que olhar com cuidado”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. “Quando fazemos uma média para os últimos 25 anos, esse número fica em 17,5%. Ou seja, estamos operando abaixo da média quando falamos em investimentos.” O crescimento da FBCF é relevante porque a atividade pautada pelo consumo tem características mais inflacionárias do que os investimentos.

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A economista destaca que, desde 2022, a FBCF está em níveis mais baixos. Embora o PIB tenha trazido um quadro de otimismo ao mostrar um mercado de trabalho aquecido, quem responde pela atividade aquecida é a política fiscal expansionista, que vem contribuindo para a recomposição do poder de compra da população. “Temos uma fotografia positiva e uma perspectiva que parece trazer entusiasmo, mas, quando olhamos para FBCF, não tem tantos motivos para comemorar.”

O resultado do PIB deve contribuir para uma nova onda de revisão das projeções, para próximo de 3% no fim deste ano, segundo Cristiane Quartaroli economista do Ouribank. Ela destaca as boas surpresas no segmento de indústria e serviços, mas também pondera o risco do lado da política monetária daqui em diante. “Entendemos que o número [do PIB], apesar de ser uma foto do passado, corrobora a nossa visão de que o BC já deverá começar a elevar a Selic em setembro, mesmo que através de um incremento gradual, de 0,25 ponto percentual”, concorda a Guide Investimentos, em relatório.

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, após o crescimento forte do PIB no segundo trimestre, a atividade deve perder fôlego ao longo do segundo semestre. “Acreditamos que os fatores que impulsionaram a economia na primeira metade do ano, como safra recorde de grãos, reajuste do salário mínimo e pagamento de precatórios, devem perder força”, diz a economista, em nota, destacando que deverá revisar para perto de 3% a sua projeção do PIB para 2024.

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