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Com inflação em alta, reajuste real de salário perde força em 2011

Estudo da consultoria LCA prevê que o ganho real (acima da inflação) dos salários será de menos de 2% – bem inferior aos 5% de 2010

Por Beatriz Ferrari
6 Maio 2011, 09h32

Maio é o mês do dissídio para 26,7% das categorias profissionais e coincide com o momento em que a inflação rompe o limite máximo da meta

Aumento real de cerca de 2% ainda é uma taxa expressiva e representará dificuldade adicional para o controle da inflação

Os trabalhadores brasileiros não conquistarão em 2011 ganhos salariais reais (acima da inflação) tão expressivos quanto os verificados nos últimos anos. Um estudo da consultoria LCA estima que, ao final do ano, os salários de admissão – ou seja, de quem entra no mercado de trabalho – terão obtido aumento real de menos de 2%. O valor é bem inferior aos mais de 5% verificados em 2010 e à média de 3,4% ao ano entre 2006 e 2009. A estimativa também serve de parâmetro para projeções de ganhos reais nos salários de todos os ocupados, e não só dos recém-contratados. As principais razões para essa desaceleração são a perda de ritmo esperada para as contratações e a própria escalada dos preços na economia – que torna mais difícil sua reposição. Ainda assim, a taxa é elevada, pois vem de uma base de comparação expressiva, e oferece novo desafio à equipe econômica da presidente Dilma. Afinal, 2% de aumento real dos salários significa mais dinheiro nas mãos das famílias a impulsionar o consumo e servir de combustível para a inflação.

Este mês será uma espécie de ‘prova de fogo’ para boa parte das negociações salariais. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos (Dieese), maio é o momento do dissídio – negociação entre sindicatos dos trabalhadores e patronais, ou individualmente com as empresas – para 26,7% das categorias profissionais (a maior taxa mensal). Este também foi o mês em que, com base nos dados do IBGE de abril, a economia brasileira rompeu o chamado ‘teto da meta de inflação’, ou seja, o limite máximo tolerável para o ano, conforme estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Pano de fundo – No atual momento, o mercado de trabalho dá sinais de acomodação. A geração de empregos, que vinha muito aquecida – foram criados 2,5 milhões de postos de trabalho com carteira assinada em 2010 -, deve começar a desacelerar frente às medidas do governo para conter a demanda e a alta dos preços, como a trajetória de aumento dos juros básicos e o encarecimento do crédito. “O ritmo menor das contratações pode mitigar a negociação salarial dos trabalhadores”, explica o economista Fábio Romão, da LCA. A consultoria estima que o número de ocupados deva terminar 2011 com um aumento acumulado de 1,8%, uma variação pequena ante os 3,5% de 2010.

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Por outro lado, fica difícil obter reajustes muito acima de uma inflação já elevada. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – indicador que, por dar peso maior a bens e serviços mais básicos, é tido como medidor da inflação da baixa renda – deve fechar o ano em torno de 6%, prevê Romão. “A inflação maior dificulta, durante as negociações salariais, a conquista de mais pontos acima do índice. É muito provável que o número de categorias a ter ganho real neste ano seja menor”, avalia. Em 2010, 88,7% das categorias ganharam aumentos maiores que a inflação medida pelo INPC.

O economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, explica que será necessário acompanhar de perto a evolução da inflação nos últimos meses de 2010. Como se espera que as medidas tomadas neste início ano e as próximas terão efeito apenas meses à frente, existe a possibilidade de o IPCA recuar a partir de setembro. “Se compararmos o ano passado com o quadro atual, vemos que hoje a taxa de desemprego é menor e a escassez de mão de obra, maior. Não duvido que algumas categorias consigam emplacar 7% de reajuste em julho e agosto, quando a inflação acumulada estará neste mesmo patamar. Se os preços recuarem bastante a partir de então, os trabalhadores podem fechar o ano com um ganho real até superior a 2%”, analisa.

O ganho real da renda proveniente do trabalho será, ainda assim, bem menor do que nos anos anteriores. A mesma ‘boa notícia’ para as categorias profissionais, no entanto, representa uma ameaça ao controle da inflação. “Um ganho em torno de 2% acima da inflação, independentemente de ser pouco mais ou pouco menos que isso, representa uma elevação significativa. Temos de lembrar que a renda já avançou muito nos últimos anos. Em resumo, com esse dinheiro todo circulando na economia, o governo terá maior dificuldade para controlar a inflação em 2012 e 2013”, alerta Camargo.

Mudanças recentes – Nos últimos anos, o aumento da renda proveniente do trabalho – cujo pico aconteceu em outubro do ano passado, com um ganho real de 6,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior – foi possível devido a uma combinação de fatores conjunturais e estruturais. Um estudo do Departamento Econômico do Bradesco (Depec), realizado pelas economistas Ana Paula Almeida e Ana Maria Bonomi, mostra que esse crescimento só foi possível graças ao forte ritmo de contratações no mercado de trabalho e aos índices de escolarização da população, que têm melhorado nos últimos anos. A pesquisa indica que o salário mínimo perdeu força como fator determinante do aumento da renda do trabalho, já que o número de pessoas que recebem até um salário mínimo caiu de 33% para 21% em cinco anos.

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