Com inflação alta, efeito do 13º salário na economia deve ser minimizado
Segundo economistas, a conjuntura de desemprego, inflação, e movimento de alta na Selic prejudicam o impulso dado pelo benefício trabalhista
O pagamento do 13º salário tradicionalmente representa um respiro para a economia, estimulando principalmente o comércio. Porém, com a alta dos preços generalizada, os efeitos desse recurso na economia devem ser minimizados. A estimativa é que, em 2021, sejam injetados 233 bilhões de reais na economia brasileira com o pagamento do benefício a trabalhadores formais, segundo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Mas, ao contrário de outros anos, metade da população pretende utilizar o recurso para poupar (34%) ou pagar dívidas (16%). Os dados são de uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em parceria com Offerwise, empresa global de pesquisas.
Apenas 33% dos entrevistados querem gastar o dinheiro para comprar presentes e 24% querem usar o dinheiro nas comemorações de fim de ano, em especial, com alimentos e bebidas ou viagens. O 13º salário é pago entre o fim de novembro e o meio de dezembro. Segundo Alexandre Almeida, economista-chefe da CM Capital, entre os que querem gastar, a prioridade da renda adicional deve ser direcionada para atender às necessidades básicas. “Gastos com alimentos, bebidas, combustíveis, e botijão de gás devem ganhar maior protagonismo em detrimento de gastos pessoais com compras no varejo ou em serviços”, diz.
Além disso, com o efeito da inflação, o poder de compra das famílias também será menor este ano. A inflação acumula alta de 10,67% em doze meses e deve encerrar o ano em 10,12%. Mas alguns itens subiram acima da inflação: alimentos 11,71%; habitação 14,77%; frangos e ovos 28,92%; e combustíveis 31,52%. “A injeção de capital do 13º não terá um impacto grande na economia, pois teremos itens sendo adquiridos em menores quantidades pela redução do poder de compra”, avalia Joni Vargas, especialista da Zahl Investimentos.
Para o comércio, o desejo dos que pretendem realizar compras não deve aliviar as perdas do setor. O varejo teve queda de 1,3% em setembro, acumulando sua segundo queda consecutiva. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o recuo é de 5,5%. As quedas vieram após a maior alta do ano em julho, quando registrou crescimento de 3,1%, com a piora do cenário inflacionário. Somando com agosto, a queda acumulada é de 5,6% nesses dois meses, segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O varejo tem esse período de sazonalidade – Black Friday e fim de ano – que beneficia o setor, mas comparado a anos anteriores, a variação será drástica com efeito negativo”, diz Alexandre Almeida, economista-chefe da CM Capital. Segundo Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, as compras de fim de ano serão em produtos de menor valor agregado em relação ao ano passado, por isso, as compras não devem gerar ganhos significativos para o comércio.
A economista ainda atenta para outro vilão: a informalidade. O Brasil possui cerca de 34,7 milhões de pessoas na informalidade, trabalhando sem carteira assinada, cerca de 40% da população que não recebem o 13º salário e ainda possuem seu poder de compra reduzido pela inflação. A injeção de 233 bilhões na economia é advinda dos 83 milhões brasileiros formais. Se o Brasil reduzisse a informalidade, o impacto do 13º na economia poderia ser, em certa medida, mais positivo.