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Os três Cs: os fatores que devem orientar o preço dos alimentos

Inflação das commodities é provocada pelo clima, pelo câmbio, e pela China, diz ex-ministro Roberto Rodrigues

Por Diego Gimenes
Atualizado em 15 set 2021, 21h28 - Publicado em 29 Maio 2021, 08h00

Ir ao supermercado não tem sido das tarefas mais prazerosas nos últimos meses. Não bastasse o comprometimento da renda de boa parte dos brasileiros em função da pandemia, os consumidores tiveram de lidar com um aumento exorbitante de itens imprescindíveis da cesta básica. Apenas o preço do óleo de soja disparou 82,34% no último ano, segundo o IBGE. O arroz, que chegou a ter brusca redução de oferta, subiu 56,67% no período. Uma combinação de múltiplos fatores formou a tempestade perfeita, que culminou na disparada das commodities em meio a um dos momentos mais complexos da história contemporânea. E eles podem, segundo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e atual coordenador do Centro de Agronegócios da FGV, ser resumidos em três Cs: clima, câmbio e China.

O primeiro aspecto a ser analisado é de ordem climática, uma vez que a anomalia no volume de chuvas e as mudanças decorrentes do aquecimento global comprometem as safras dos produtores. “Entre os meses de março e abril, a quebra da produção de milho foi enorme, cerca de 15 milhões de toneladas a menos na safra de inverno. Isso significa mais inflação”, analisa Rodrigues. O problema é tamanho que o Sistema Nacional de Meteorologia emitiu um alerta de emergência hídrica para o período entre junho e setembro de 2021, na Bacia do Rio Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

O segundo componente da lista é o câmbio. As commodities que o país costuma exportar acabam pesando no bolso do brasileiro por serem cotadas em dólar. Com o real desvalorizado e os preços em alta devido ao aumento do consumo global, principalmente da China, o produtor brasileiro passou a priorizar a venda para o exterior, como informou VEJA em reportagem. Crises circunstanciais como a da falta de oferta de arroz são exemplos cristalinos de quando a oferta para o mercado interno é menor, o preço sobe.

Como parte dos insumos para a produção é importada, a desvalorização do real frente ao dólar também encarece os custos, em vista que 80% dos fertilizantes usados na agricultura são importados e aparelhos como máquinas e veículos agrícolas também são fabricados fora do país. Ainda que no ápice da crise do arroz o caminho da importação sem tarifas tenha sido uma alternativa sancionada pelo governo, o câmbio valorizado impossibilitava acordos vantajosos.

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O terceiro fator que deve orientar o preço dos alimentos no Brasil nos próximos meses é a supracitada China. A combinação entre a valorização do dólar e o aumento do consumo global, alavancado sobretudo pelos chineses, estimulou a exportação das commodities brasileiras e prejudicou o abastecimento do mercado interno. No último mês de março, a China importou 38,1% a mais em relação a 2020. Para se ter uma ideia do impacto desse movimento na inflação, a importação de óleo alimentar brasileiro — um dos maiores vilões da cesta básica — pelos chineses cresceu 66,1%. Das 13,4 milhões de toneladas de soja exportadas pelo Brasil em março, cerca de 10 milhões de toneladas foram compradas apenas pela China.

Para conter o avanço exponencial dos preços e controlar a inflação, que foi a maior para maio em cinco anos pela prévia divulgada pelo IBGE, uma das ações adotadas foi o aumento da taxa básica de juros, hoje em 3,5%. Segundo o Boletim Focus, economistas estimam que a taxa ainda suba para 5,5% até o final do ano, retornando a patamares de 2019. “Os preços tendem a baixar no curto e médio prazo pelo aumento da taxa de juros. Mas eu acredito que a relação entre oferta e demanda terá mais peso do que a taxa de juros. Por outro lado, a inflação pode subir mais um pouco e reduzir a procura”, projeta Rodrigues. Ademais, o cenário é de manutenção da cotação do câmbio a taxas elevadas, o que propicia a exportação das commodities brasileiras.

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