Cinco sedes da Copa podem seguir com aeroportos velhos
Obras que deveriam ter começado há dois anos estão paradas à espera do processo de licitação. Proximidade do evento de futebol aumenta o risco de puxadinhos e de reformas mal feitas
A Copa do Mundo era a motivação perfeita para o país reduzir os gargalos de infraestrutura em pouco tempo. Mas, no setor aéreo, os especialistas são céticos em apontar as mudanças
O bordão “imagina na Copa” foi a maneira bem-humorada que o brasileiro encontrou para falar dos gargalos e dos atrasos nas obras de infraestrutura para o Mundial de 2014. A brincadeira deveria ter saído de moda à medida que as mudanças começassem a acontecer. Agora, a menos de 500 dias do jogo de abertura da Copa do Mundo, não há como fugir da constatação de que aquela expressão pessimista mostra-se cada vez mais verdadeira. Ao contrário dos estádios, que serão construídos e entregues como exigiu a Fifa, as transformações urbanas para a população foram colocadas em segundo plano. O tão esperado legado – o conjunto de benefícios que fica para o país que recebe um grande evento global – tem grandes chances de ser bola murcha. No aeroportos, onde todo o temor começou em forma de piada, o risco é continuar com as velhas estruturas precárias para receber um excedente de 500.000 turistas estrangeiros que virão para o torneio.
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Dos 13 aeroportos que servirão as 12 cidades-sede, 10 estão sob a responsabilidade da Infraero – o aeroporto de Natal estava em reforma desde 2004 e foi entregue a um grupo privado no segundo semestre de 2011. Metade deles, porém, continua à espera do início das obras. O compromisso da Infraero para a Copa do Mundo era realizar 30 grandes mudanças na infraestrutura de todos os aeroportos, como a expansão do terminal de passageiros, a construção de edifícios-garagem e a ampliação das pistas de pousos e decolagens. A decisão para a maioria das reformas aconteceu entre 2011 e o ano passado, com mais de dois anos de atraso para obras de infraestrutura desse porte. O risco é a entrega de obras mal executadas ou a necessidade de mais dinheiro público para cumprir o prazo. De acordo com relatório do Tribunal de Contas da União de dezembro do ano passado, o governo investirá 3,7 bilhões de reais de 7,33 bilhões de reais que serão investidos nos aeroportos. “Dificilmente as obras que estão sob a gestão da Infraero serão concluídas a tempo de atender a demanda do mundial”, diz Renato Poltronieri, sócio especialista em infraestrutura e aviação do escritório Demarest e Almeida.
Improviso – Até o início deste ano, 14 projetos estavam em andamento, nove foram concluídos – sendo quatro mudanças provisórias – e sete ainda esperavam os processos de licitação. Em Porto Alegre, uma das cinco cidades onde a situação é mais crítica – as outras são Belo Horizonte, Salvador, Curitiba e Recife – o projeto de transformação permanente do aeroporto ainda nem saiu do papel. Para tentar se adaptar ao curto espaço de tempo até a Copa, a nova pista do aeroporto da capital do Rio Grande do Sul foi excluída. O problema é que nem a ampliação do terminal de passageiros entrou em processo de licitação. O atraso parece sob controle. Um novo cronograma para Porto Alegre prevê a entrega do aeroporto em maio do ano que vem, poucos dias antes do começo do torneio. Mas, dentro do governo, há quem discorde desses prazos apertados e arriscados. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) utilizou uma pesquisa própria que identificou que 14 dos 20 maiores aeroportos brasileiros já operam acima do limite de capacidade para cobrar do governo a execução de um plano B. A sugestão é que sejam construídos terminais temporários para receber o evento. A proposta corrobora o receio dos improvisos e da proliferação dos chamados “puxadinhos”, que não resolvem a carência de infraestrutura. “É inevitável”, diz Claudio Jorge Alves, professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). “Acredito que teremos os ajustes emergenciais na Copa e os puxadinhos.”
Concessionários – A situação parece mudar de figura quando a responsabilidade está com a iniciativa privada. Três dos 13 aeroportos foram entregues à empresas concessionárias em leilão realizado em fevereiro de 2012. Os dois aeroportos de São Paulo, em Guarulhos e Campinas, e o de Brasília estão com as reformas em ritmo acelerado. Em Viracopos, o consórcio Aeroportos Brasil, formado pela Triunfo Participações, pela UTC e pela francesa Egis, colocou 1,8 mil pessoas para trabalhar em dois turnos e cumprir os prazos previstos de conclusão. A pressa se justifica: é preciso ficar dentro do cronograma para ter o retorno do investimento. Embora esteja em cima da hora para a Copa, o governo planeja conceder os aeroportos de Confins, em Belo Horizonte, e do Galeão, no Rio de Janeiro, para empresas privadas no segundo semestre deste ano. A busca, nesses dois casos, é ganhar qualidade no serviço, como agilidade no check in, no embarque de passageiros e na entrega de bagagens. “Mesmo recente, já é perceptível uma mudança nos serviços dos três aeroportos que foram entregues à iniciativa privada”, afirma Poltronieri.
A Copa do Mundo era a motivação perfeita para o país reduzir os gargalos de infraestrutura em pouco tempo. Mas, no setor aéreo, os especialistas ouvidos pelo site de VEJA são céticos em apontar as mudanças. Todos destacam que a expectativa era diminuir o atraso de uma década que existe nos aeroportos brasileiros. Mas o balanço das reformas, até aqui, são de obras pontuais e muito pequenas para resolver um problema que é urgente para o Brasil. “Havia dinheiro, necessidade e boa intenção, mas a sensação é que uma oportunidade foi desperdiçada”, diz Erivelton Guedes, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea. A torcida é para que a falta de soluções não transforme o bordão no pesadelo de brasileiros e estrangeiros.