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Cinco respostas de Niall Ferguson sobre a economia dos EUA com Biden

Relação com a China, manutenção de política monetária e a influência da Covid-19 nas eleições são pontos importantes para novo governo dos EUA

Por Luisa Purchio Atualizado em 21 jan 2021, 13h28 - Publicado em 21 jan 2021, 11h50

O historiador escocês Niall Ferguson, 56 anos, atualmente membro-sênior da Universidade Harvard e professor visitante na Universidade Tsinghua, em Pequim, é um dos mais requisitados analistas da atualidade. Ele falou a VEJA em dezembro sobre o impacto da mudança nos EUA, mas também tem previsões sobre o que definirá o governo do novo presidente americano, Joe Biden. As mais relevantes dizem respeito ao perfil moderado de Biden e ao fato de que a transição de governo não significa uma guinada de 180 graus na política econômica que vinha sendo adotada pelo republicano Donald Trump – reflexões que podem ser vistas na disparada do mercado financeiro que ocorreu no dia da posse de Biden. Nas respostas abaixo, mais algumas ideias de Ferguson indicam como o democrata conduzirá os Estados Unidos e o futuro da sua economia.

Há algumas das mudanças políticas e econômicas adotadas por Trump em seu governo que permanecerão com Biden?
Vai parecer que Biden está desfazendo muito do trabalho de Trump no que diz respeito às ordens executivas, muitas das quais vão desde a proibição de imigrantes de países de maioria muçulmana até algumas das ações de Trump na fronteira sul. Essas coisas vão avançar muito rápido, mas não acho que o governo Biden vá mudar radicalmente de direção na política fiscal e monetária. É preciso lembrar que, sob Trump, o Partido Republicano se tornou o partido dos déficits e do dinheiro solto. Trump pressionou o Fed para não apertar as taxas e venceu o argumento de que o Fed cedeu. O aperto não iria acontecer e os republicanos, com seu corte de impostos, embarcaram no financiamento de dívidas em grande escala. Em 2020, eles foram ainda mais longe em face da Covid-19. Não acho que isso vá mudar, mas acho que ele gostaria de dar mais apoio fiscal para a economia em 2021. E, claro, o Fed permanecerá como suporte no futuro previsível, independentemente de Jerome Powell permanecer na instituição ou não. Então, haverá muita continuidade na política fiscal e monetária. Onde haverá descontinuidades será na regulamentação. O governo Biden está comprometido com políticas verdes, se não com um New Deal Verde. Os EUA vão voltar ao acordo climático de Paris. Haverá um considerável reforço da regulamentação ambiental. E, claro, também haverá algum esforço para fortalecer a posição de trabalho. Salários mínimos e outras medidas pró-sindicato são prováveis.

O que mudará em relação à China?
Estamos em um mundo diferente do mundo de 2016 e, ironicamente, graças a Trump, porque ele viu muito cedo que deveria haver uma mudança de abordagem em relação à China, e no último ano, acho que tardiamente, os europeus alcançaram essa mesma visão. Agora, há uma disposição considerável na Europa para trabalhar com Biden em uma estratégia para a China. E isso vai ser fácil agora. Há um consenso de que você precisa de algum tipo de estratégia transatlântica para a China. O mesmo se aplica à Ásia.

Qual é o futuro da guerra comercial dos Estados Unidos e a China?
Acredito que a guerra comercial acabará muito rapidamente. A opinião pública foi modificada durante os quatro anos de Trump, que conseguiu persuadir os americanos de que a China era um problema. Portanto, acho que será difícil para Biden simplesmente mudar para a détente nesta Guerra Fria. Minhas expectativas são de que as medidas de segurança nacional de Biden serão realmente muito duras. Portanto, não acho que a Guerra Fria acabou. Só acho que isso mudará sua ênfase do comércio para a tecnologia e também para a geopolítica convencional. Talvez também mude a ideologia, porque os democratas serão muito mais críticos com o governo de Xi Jinping sobre os direitos humanos do que foram os republicanos, especialmente no que diz respeito a Xinjiang. 

O que fez de Biden o vencedor, em específico quanto às suas propostas econômicas?
Biden foi o candidato que o Partido Democrata escolheu porque eles achavam que tinha a melhor chance de vencer, não porque era o mais inteligente, certamente não porque ele era o mais jovem. Foi o escolhido por ser o mais seguro. Qualquer outra alternativa teria sido realmente uma proposta arriscada. E, em particular, porque a ala esquerda do partido quase que certamente teria perdido para Trump. Biden era o moderado. Essa é sua característica definidora. E, portanto, a estratégia funcionou. Mas o fato de Trump ter chegado perto demais indica que os democratas nunca ganhariam com uma vitória esmagadora. Trump obteve uma quantidade incrível de apoio em todo o país, mesmo com seus muitos fracassos. Acho que politicamente a questão econômica e de saúde pública foram o problema. Não está claro se o meio ambiente influiu. As pessoas não votaram pelas políticas de Biden. Elas votaram contra os problemas do presidente. E não foi uma derrota retumbante para Trump e principalmente para o Partido Republicano.


A reação econômica de
Trump à crise do covid-19 impediu sua reeleição?
Sim. A economia dos Estados Unidos estava indo tão bem até fevereiro do ano passado. Ele teria boas chances de reeleição, apesar das peculiaridades de sua personalidade. E, claro, a pandemia tem sido um grande golpe não só para a economia, mas para a saúde pública, com um número realmente significativo de mortes de americanos. Acho que ele poderia ter lidado melhor com isso, deveria ter agido antes. Mas não é tudo culpa dele, porque isso foi uma falha geral da burocracia da saúde pública americana. Não tenho dúvidas de que, se não tivéssemos uma pandemia, é praticamente certo que seria reeleito. Ele estava em uma posição muito forte não apenas nas pesquisas de opinião, mas, quando há força na economia, tradicionalmente, os presidentes costumam ser reeleitos. Há exceções à regra. Políticos como Jimmy Carter ou George Herbert Walker Bush tiveram recessões antes de serem reeleitos e foram derrotados. E eu acho que, se você imaginar um 2020 sem recessão, teria sido muito difícil uma derrota. Só para dar um exemplo, entre os efeitos da pandemia aconteceu uma redução do apoio republicano entre os eleitores mais velhos, que são os mais vulneráveis ​​a Covid-19. Esses eleitores teriam ficado com Trump se não fosse a pandemia.

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