China critica proposta apresentada pelo Brasil na OMC
O encontro desta segunda foi convocado para abordar a proposta brasileira de que as regras da OMC incluam desajustes cambiais
Durante debate realizado nesta segunda-feira na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, a China rejeitou a proposta brasileira de utilizar normas de comércio internacional para compensar desajustes monetários e aproveitou a oportunidade para também culpar o “quantitative easing” (compra de ativos, ou QE), que os Estados Unidos têm praticado, por prejudicar economias emergentes.
“Nós, juntamente com muitos outros países, temos criticado essa política irresponsável e que empobrece seus vizinhos”, disse o vice-representante permanente da China na OMC, Zhu Hong, em referência à política de estímulo monetário conhecida como QE.
“Ela (a política) tem um impacto negativo sobre países em desenvolvimento ou emergentes, em particular”, disse Zhu durante o debate na OMC, em Genebra, sobre flutuações cambiais, de acordo com transcrição divulgada por uma autoridade chinesa.
O encontro foi convocado para abordar a proposta brasileira de que as regras da OMC incluam um sistema responsável por lidar com desajustes monetários. O embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo, que alguns diplomatas da área de comércio dizem ser um candidato a substituir o atual diretor-geral da organização, Pascal Lamy, assim que o francês deixar o cargo no próximo ano, tem gradualmente endurecido suas exigências no assunto.
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Após conseguir que os membros da OMC concordassem em analisar os conteúdos disponíveis sobre o assunto no ano passado, o Brasil fez circular uma proposta em 5 de novembro explicando que as regras da OMC abordavam distorções no comércio vinculadas ao câmbio, mas não instrumentos adequados para uma ação direta.
“A OMC parece estar sistematicamente mal equipada para lidar com os desafios oferecidos pelos efeitos macro e microeconômicos de taxas de câmbio sobre o comércio”, disse o Brasil em sua proposta. “Os membros (da OMC) podem desejar, nesse contexto, considerar a necessidade de soluções de comércio na taxa de câmbio e iniciar algum trabalho analítico para esse efeito”, acrescentou o país.
A proposta não menciona “quantitative easing” e faz um apelo explícito a uma análise “a partir de uma visão sistêmica”. O texto inclui um gráfico que mostra o desajuste estimado do real, com sobrevalorização de quase 40% em 2011. O Brasil já havia dito que o QE é egoísta, atribuindo perda de exportações de emergentes a esse mecanismo.
O chinês Zhu disse que o assunto cabia ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e não à OMC. “A questão monetária é, em essência, de política monetária. O caminho correto para se resolver esse assunto passa pelo aumento da responsabilidade e da promoção da coordenação entre os emissores de divisas de reserva internacional”, acrescentou.
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(com Reuters)