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China confirma hegemonia no G20

País conseguiu se beneficiar em todos os aspectos; Estados Unidos continuam sem apoio na tarefa de pressionar Pequim por uma desvalorização do yuan

Por Ana Clara Costa, de Paris
19 fev 2011, 18h55

A reunião dos ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do G20 – o grupo dos dezenove países mais ricos do mundo e a União Europeia – terminou em Paris neste sábado com um avanço em relação à edição anterior, realizada em novembro em Seul. Enquanto em 2010 não houve negociação e a principal conquista foi o apoio a medidas de controle cambial por parte dos países, o encontro em solo francês trouxe resoluções pontuais e decisões práticas – como a criação de indicadores para medir os desequilíbrios econômicos no mundo. Se anteriormente o poder político do G20 estava polarizado entre China e Estados Unidos, a reunião atual serviu para mostrar que Pequim, desta vez, deu as cartas. Sinal de que a balança de influências também pende para a Ásia.

O principal pleito suscitado e mantido pelo governo americano ao longo de meses, de que os países têm de pressionar para que a China flexibilize sua política de manter o yuan ‘artificialmente’ desvalorizado, foi solenemente ignorado. De maneira diplomática, todos os governos concordaram em um fortalecimento do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas sem fixar nenhuma medida específica para amenizar os impactos da guerra cambial travada entre China e Estados Unidos.

Outras propostas que contrariavam os interesses chineses, como o estabelecimento de limites para a geração de superávits comerciais – ideia inicial de França e Estados Unidos – e a redução das reservas internacionais que os países mantém em dólar, também foram desconsideradas ao longo da reunião. Nunca a voz americana soou tão suave (quase imperceptível) na história do G20.

Já a China conseguiu se beneficiar nos três principais pontos discutidos em Paris. Primeiramente, aprovou um artifício que dificulta que seu saldo de conta corrente seja visto como sinal de desequilíbrio econômico. Tudo porque os juros que o país paga para manter suas reservas (as maiores do mundo) não entrarão neste indicador, conforme era previsto. Depois, também teve sucesso na questão das commodities. Enquanto a ideia inicial defendida pela anfitriã Christine Largarde, ministra das Finanças da França, era a de colocar um limite nos preços, os BRICs conseguiram negociar para vetar o plano. O cenário deixa claro que a França cedeu em troca da aprovação dos indicadores. Em terceiro, não houve nenhuma menção no documento final da reunião para que a China deixasse de controlar o yuan. O presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, reiterou, inclusive, seu apoio para que a moeda chinesa tenha maior participação na cesta de divisas do fundo.

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Brasil à sombra – O Brasil, nesse aspecto, ficou à sombra do governo chinês e não teve sua ideia de estabelecer a conta de bens e serviços – em vez do saldo em conta corrente – como indicador de medição de desequilíbrios macroeconômicos bem aceita pelos países. Além disso, repetiu o que se tornou tradição nos últimos encontros: mostrou-se muito atuante antes das reuniões e, depois das decisões tomadas, preferiu se calar. Após o final dos trabalhos, o ministro Guido Mantega cancelou a coletiva prevista – enquanto os principais membros do G20 receberam a imprensa para perguntas no Ministério das Finanças. No entanto, Mantega acabou se pronunciando brevemente em seu hotel, horas depois. Ironicamente, afirmou que “estava satisfeito com o acordo” – como se pudesse dizer o contrário. Já do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não se ouviu sequer menção. Discreto e mudo, passou praticamente invisível pelo encontro.

A França, como país anfitrião, mostrou-se disposta a ouvir – e também a se impor – com o tom cordato da ministra Lagarde. Uma das poucas mulheres da delegação, ela conseguiu se fazer ouvir de forma mais séria e sensata que o presidente do país, Nicolas Sarkozy. Não é à toa que seu nome seja cogitado nos corredores do Ministério como provável substituta do líder francês na presidência. Especulações à parte, Lagarde finalizou o encontro dando o tom do que deverá ser retomado em abril, durante a reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, nos EUA. “Sabemos que as coisas não irão mudar em um dia. Mas o essencial é termos boa vontade de todas as partes. Precisamos estar cientes de que, se as coisas continuarem como estão, uma grande crise pode voltar a ocorrer”, disse a ministra.

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