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China barra meganavios em seus portos; prejudica Vale

Por Da Redação
31 jan 2012, 14h31

Por Fayen Wong

XANGAI, 31 Jan (Reuters) – O governo chinês não permitirá mais que navios gigantes que superem a capacidade máxima aprovada de 300 mil toneladas atraquem em seus portos, informou o Ministério do Transporte do país nesta terça-feira, minando os planos da mineradora Vale de utilizar seus megacargueiros para suprir seu principal mercado de minério de ferro.

Os navios que excediam a capacidade aprovada antes eram avaliados caso a caso, mas o ministério informou em comunicado em seu website nesta terça que navios cargueiros e petroleiros gigantes estão proibidos, medida que entra em vigor imediatamente.

O comunicado surge apenas um mês depois de a Vale tentar descarregar o navio Berge Everest, que levava 388 mil toneladas de minério de ferro, no porto de Dalian – rapidamente gerando protestos da influente associação de armadores chinesa (China Shipowners Association), que tem ativamente pedido que Pequim barre os navios gigantes da Vale.

Atualmente, nenhum porto chinês tem aprovação para receber navios com mais de 300 mil toneladas e os navios da Vale podem carregar até 400 mil toneladas. Fontes da indústria disseram que a entrada do Berge Everest no porto de Dalian provavelmente ocorreu por uma falha burocrática, uma vez que estas permissões podiam ser emitidas por autoridades das províncias.

DECLÍNIO SETORIAL

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O Ministério do Transporte chinês admitiu que sua decisão de proibir navios gigantes também decorre em parte da crise que assola a indústria de navegação chinesa, assim como assuntos de segurança marítima.

Com a desaceleração econômica em importantes regiões no mundo, como a Europa, a demanda por embarcações, muitas delas construídas e operadas por companhias chinesas, caiu, levando também os valores do frete marítimo para baixo.

A frota dos megacargueiros da Vale, mais competitivos que outras embarcações, pelos ganhos de escala, está ampliando sua atuação no mercado justamente neste momento ruim do setor, alimentando o lobby contrário chinês.

A China Shipowners Association e as siderúrgicas disseram que a frota de meganavios da Vale pode ser um “Cavalo de Troia”, que permitiria à mineradora monopolizar os mercados de minério de ferro às custas da China.

O vice-presidente executivo da associação de armadores, Zhang Shouguo, é ex-vice-diretor da divisão de transporte marítimo do Ministério do Transporte.

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Com Pequim mantendo seus portos fechados aos Valemax, a mineradora terá de depender do transporte mais caro feito por embarcações que fazem o transbordo da carga em outros países na região para abastecer o maior consumidor de minério de ferro.

Até o momento, a Vale mantinha a posição de que a dificuldade de entrada de seus meganavios na China ocorria principalmente pela falta de adaptação dos portos do país, evitando reconhecer uma motivação política relacionada à crise dos armadores chineses.

Consultada nesta terça-feira sobre a decisão do governo chinês, a área de comunicação da Vale informou que não comentaria imediatamente o tema.

Uma fonte na companhia familiarizada com a situação disse à Reuters que a Vale ainda buscava uma confirmação diretamente com o governo chinês da proibição dos meganavios.

VALE DIZ QUE PORTOS NÃO ESTÃO PRONTOS

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Em nota para informar a primeira vez em que o Porto de Tubarão, no Brasil, está recebendo um dos megacargueiros da empresa, a Vale diz que os portos asiáticos ainda estão sendo preparados para que seus navios aportem em sua capacidade máxima.

A mineradora enumera os portos que já podem receber seus supercargueiros sem problemas na sua capacidade máxima, mas não cita nenhum na China. “A adaptação dos portos para receber os supercargueiros é um aspecto eminentemente técnico, que requer estudos de engenharia detalhados e muitas vezes investimentos adicionais em treinamento dos operadores, reforço dos berços de atracação e dragagem”, assinala a Vale.

“Atualmente, os supercargueiros da Vale podem aportar sem problemas na sua capacidade máxima nos portos de Ponta de Madeira, em São Luís; Sohar, em Omã; Taranto, na Itália; e Roterdã, na Holanda”, acrescentou.

Segundo a Vale, vários outros portos na Ásia estão sendo preparados para receber esses navios. Em fevereiro de 2012, a Vale iniciará a operação de sua Estação de Transferência de Minério em Subic Bay, nas Filipinas, e, em 2014, está previsto o início da operação do porto e centro de distribuição na Malásia, diz a empresa.

“A plena utilização da frota de 35 navios em construção até o final de 2013 está plenamente assegurada com as soluções já implantadas ou em fase de implantação”, disse a Vale.

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ALTERNATIVAS

A fonte ouvida pela Reuters lembrou que caso a proibição se mantenha, a alternativa será mesmo utilizar países como Filipinas e Malásia para atracar as embarcações, e repassar o minério a navios menores, que seguiriam para a China.

Um exemplo que ilustra a estratégia alternativa da Vale é a chegada, nesta segunda-feira, do maior navio de armazenagem do mundo, da mineradora, às Filipinas, onde a Vale prepara uma base para levar minério de ferro ao mercado chinês.

Segundo fontes portuárias, o navio Ore Fabrica, que ficará atracado no Subic Bay Freeport, faz parte dos planos da Vale de fazer das Filipinas um centro de distribuição diante da resistência chinesa aos supernavios, chamados Valemaxes.

O navio de apoio, capaz de receber até 280 mil toneladas, servirá como plataforma para transferir minério de ferro dos Valemaxes para navios menores, que farão a entrega a mercados asiáticos como China, Japão e Coreia do Sul.

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Além das Filipinas, a Vale prepara um centro de distribuição na Malásia. O projeto, chamado de Taluk Rubiah, ainda está em desenvolvimento e tem previsão para operar em 2014.

É um centro com capacidade de movimentar 60 milhões de toneladas/ano de minério de ferro e foi concebido para atender Japão e Australia, inicialmente, mas segundo a fonte da empresa, “poderia perfeitamente atender à China”.

ARRENDAMENTO

O diretor executivo de Ferrosos e Estratégia da Vale, José Carlos Martins, disse em dezembro que a empresa poderá vender os supernavios que encomendou na Ásia desde que feche contratos com os compradores para arrendar estas mesmas embarcações.

A companhia, segundo ele, afirmou que manterá a estratégia de fugir dos elevados preços à vista de frete no mercado internacional, garantindo contratos de longo prazo para transporte de minério. O executivo reiterou que a Vale prefere contratos de longo prazo para transporte a ter uma frota própria.

“Só partimos para construir esses navios quando não conseguimos a opção do armador”, afirmou.

A Vale já possui contratos de arrendamento para um total de 16 navios gigantes. Outros 19 navios gigantes foram encomendados para serem inicialmente da própria Vale, num total de 35 embarcações do mesmo porte.

Dos que a Vale decidiu construir diretamente, 12 serão construídos na China e outros sete na Coreia.

As ações da Vale subiam 1,8 por cento nesta terça-feira, enquanto o principal índice da Bovespa ganhava 0,3 por cento.

(Reportagem adicional de Leila Coimbra e Sabrina Lorenzi, no Rio de Janeiro, Manolo Serapio Jr e Randy Fabi, em Cingapura)

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