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Catorze anos de chavismo deixam economia da Venezuela em frangalhos

Morte de Hugo Chávez pode representar um novo começo para a economia venezuelana, que foi dilacerada por mais de uma década de sucateamento da indústria, deterioração fiscal, inflação e corrupção

Por Da Redação
5 mar 2013, 21h24

O legado de 14 anos de governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, declarado morto na tarde desta terça-feira após uma longa batalha contra o câncer, será um fardo difícil de ser revertido – ao menos no campo econômico. O caudilho iniciou sua gestão em fevereiro de 1999 e desde então levou a cabo um processo doloroso de estatização, sucateamento da indústria e descontrole de gastos públicos. Ao longo de mais de uma década, a economia sobreviveu graças à receita proveniente do petróleo e ao setor de serviços. O consumo se manteve impulsionado, sobretudo, pelos programas assistencialistas – o que fez a inflação se manter acima de 20% durante todo o seu governo, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na avaliação do economista Moisés Naím, Chávez deixa o país em uma situação dramática. “Nunca um líder latino-americano perdeu tanto dinheiro, gastou tão mal os recursos e usou de maneira tão incorreta o poder que lhe foi dado”, disse Naím ao Wall Street Journal. Chávez deixa um país politicamente dividido, dependente das importações – sobretudo dos Estados Unidos -, e com a menor média de crescimento per capita do Produto Interno Bruto (PIB) e maior inflação do que qualquer outro país da América Latina, exceto o Haiti, de acordo com um estudo feito pelo departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard.

Apesar de contar com as maiores reservas de petróleo do mundo, a participação da Venezuela no total produzido pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) caiu de 4,8% para 3% durante o governo Chávez. O caudilho falhou em diversificar a economia venezuelana – ou melhor, nem ao menos tentou. O petróleo é, hoje, responsável por 50% das receitas do governo – e a fonte desses recursos é, quase que inteiramente, a estatal PDVSA. “A PDVSA se tornou uma empresa solitária na Venezuela. E isso aconteceu porque o estado se tornou o principal motor econômico, tirando o setor privado do jogo. E nada, nem na Venezuela, e menos ainda na PDVSA, é muito transparente”, afirma o economista Federico Barriga, da Economist Intelligence Unit (EIU).

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Em 2003, o governo venezuelano demitiu 40% dos funcionários da companhia após uma greve geral. Desde então, a PDVSA deixou de cumprir todas as suas metas de investimento e a produção estagnou. Hoje, o país produz menos de 3 milhões de barris por dia – número que representa a metade do que a empresa pretendia produzir quando traçou seu novo plano de investimentos, em 2007. A estatal anunciou, em 2012, que produzirá 5,8 milhões de barris por dia em 2018. Para isso, terá de investir 206 bilhões de dólares nos próximos anos – missão considerada impossível por economistas, devido ao seu alto endividamento. A utilização de recursos provenientes do caixa da estatal para financiar, deliberadamente, projetos políticos era prática comum nos quatro mandatos do presidente Chávez.

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Alta dos preços – A economia venezuelana tem um histórico de inflação alta, desde antes da entrada do caudilho no poder. Contudo, a gastança pública aliada a uma política expansionista e estatizante fez com que a alta dos preços atingisse níveis preocupantes. A inflação anual venezuelana, segundo o FMI, fechou 2012 a 26,3% – número que poderia ser muito maior não fosse o controle de preços exercido por Caracas. Trata-se do pior legado de Chávez, na avaliação de economistas. “A inflação se mantém acima de 20% ao ano há seis anos consecutivos. Em 2012, por ser ano eleitoral, houve um controle de preços muito severo por parte do governo. Se considerarmos a desvalorização do bolívar, a tendência é que a alta dos preços ultrapasse facilmente a casa dos 30%, devido ao encarecimento dos preços dos importados. Por fim, esse cenário terá efeito recessivo na economia já a partir do segundo semestre de 2013 e há uma séria possibilidade de contração do PIB no médio prazo”, afirmou ao site de VEJA Pedro Palma, economista venezuelano que é PhD em Wharton, na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

O endividamento do governo venezuelano subiu de 37% para 51% do PIB durante a era Chávez. Esse aumento não compromete a solidez fiscal do país no curto prazo, mas representa mais um desafio para o governante que assumir o poder na ausência do caudilho – seja o aliado Nicolás Maduro, ou Henrique Capriles, candidato da oposição que teve 45% dos votos nas últimas eleições. Segundo Pedro Palma, a dívida pública externa oficial está em 107 bilhões de dólares. A ela somam-se outros compromissos do estado, como a dívida da PDVSA com fornecedores e sócios e os débitos do governo com empresas expropriadas que estão em processo de arbitragem em Washington. No total, o endividamento chega a 140 bilhões de dólares, nas contas do economista.

Diante desse cenário pouco animador – e após as circunstâncias pouco transparentes que contornaram a morte de Hugo Chávez – os economistas ouvidos pelo site de VEJA não aguardam mudanças estruturais para o os próximos meses. Acreditam que um possível governo de oposição possa tranquilizar os mercados – mas isso não significa que solucionará os problemas econômicos criados ao longo dos últimos 14 anos. Para Federico Barriga, da EIU, uma virada econômica poderá começar a ocorrer se o novo governante souber como atrair investidores externos para a PDVSA – na intenção de livrá-la da mão pesada do estado. “Sempre vai haver interesse externo no setor petrolífero da Venezuela. Todos sabem que é um país difícil, mas Nigéria e Angola também são. E a Venezuela ainda tem as maiores reservas do mundo. Quem souber aproveitar o setor da forma que Chávez não soube poderá mudar as coisas”, diz.

Sob descontrole

Os programas de incentivo social do governo Chávez contribuíram para a alta pressão inflacionária na Venezuela. Nos últimos seis anos, o índice ficou próximo de 30% ao ano

  • 1999

    23,6%

  • 2000

    16,2%

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  • 2001

    12,5%

  • 2002

    22,4%

  • 2003

    31,1%

  • 2004

    21,8%

  • 2005

    16,0%

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  • 2006

    13,6%

  • 2007

    18,7%

  • 2008

    30,4%

  • 2009

    27,1%

  • 2010

    28,2%

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  • 2011

    26,1%

  • 2012

    26,3%

  • 2013*

    28,9%

Fonte: FMI *projeção

Gastos em expansão

A dívida do governo Chávez cresceu 18,3 pontos porcentuais em 14 anos

  • 1999

    38,1%

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  • 2000

    31,9%

  • 2001

    34,5%

  • 2002

    46,4%

  • 2003

    49,3%

  • 2004

    42,9%

  • 2005

    33,7%

  • 2006

    28,4%

  • 2007

    29,9%

  • 2008

    26,3%

  • 2009

    33,8%

  • 2010

    40,2%

  • 2011

    46,8%

  • 2012

    51,3%

  • 2013*

    56,4%

Fonte: FMI *projeção

Altos e baixos

A desequilibrada economia da Venezuela teve muitas oscilações nos 14 anos de governo Chávez, com expansão de quase 20% e recessão de 6%

Fonte: FMI *projeção

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