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Caso Bel Pesce reaviva críticas aos ‘empreendedores de palco’

Termo indica palestrantes que cativam em suas apresentações, voltadas a empresários iniciantes, mesmo que muitas vezes baseadas apenas em frases de efeito

Por Felipe Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 set 2016, 09h10 - Publicado em 11 set 2016, 08h54

Após o fracasso da operação de financiamento coletivo para criar uma hamburgueria, a palestrante Bel Pesce – sócia na empreitada do blogueiro Zé Soares e de Leo Young, vencedor do reality show MasterChef – foi questionada publicamente sobre seu currículo. Em seguida, ela corrigiu informações sobre sua formação e experiência profissional. Esse recuo fez com que seus críticos acusassem a paulistana de ser apenas mais uma representante do chamado “empreendedorismo de palco” – e o caso fez recrudescer as críticas a esse universo de oradores profissionais.

O termo empreendedorismo de palco é usado pejorativamente para se referir a palestrantes que são bons de apresentação, emocionam e cativam o público, mas que em muitos casos não teriam conteúdo a agregar além de frases de efeito e ideias vazias. Afinal, dá para saber se a palestra deles vai ensinar ou é apenas autoajuda? Dizer se a experiência e o currículo que alguém apresenta são suficientes para garantir uma boa palestra é um julgamento muito pessoal e abstrato. Mas há pistas.

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No caso Bel Pesce, os pontos de maior controvérsia em seu currículo, e que deram argumentos aos detratores, foram o número de diplomas e o papel que teve em algumas das empresas em que trabalhou. Antes da polêmica, sua página pessoal dizia que ela possui cinco formações pelo renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT). Agora, sabe-se que são dois diplomas do tipo majors, que podem ser comparados a uma graduação, e dois minors, uma formação mais curta.

Sem citar nomes, Bob Wollheim, autor do livro Nasce um Empreendedor, diz que uma saída para identificar um empreendedor de palco é analisar se o palestrante apresenta dados de desempenho que justifiquem o sucesso que diz ter, como aumento de faturamento, vendas ou investidores. Além do aspecto motivacional, é preciso que o conteúdo seja aplicável. Não basta ter uma boa ideia, se ela não vier acompanhada de uma boa gestão. “O WhatsApp não foi o primeiro messenger, o Facebook não foi a primeira rede social”, compara.

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Sua página pessoal citava também passagens por empresas como Google e Microsoft, além de ser ela uma das fundadoras de uma empresa posteriormente vendida por mais de 50 milhões de dólares, a Lemon. O período nas duas gigantes de tecnologia foram estágios. Na Lemon, ela de fato podia ser considerada fundadora, como esclareceu Wences Casares, criador da empresa, mas só agora ficou claro que ela entrou na equipe quando o projeto já havia sido iniciado.

Procurada pelo site de VEJA, a empreendedora informou, por meio de sua assessoria, que o que ela tinha a falar sobre o assunto estava em um texto postado no site Medium. Na nota, Bel Pesce pede desculpas aos leitores que possam ter se sentido desrespeitados por não saber dos detalhes de sua carreira e deu mais informações sobre si.

Críticas e controvérsias

Assim como Bel Pesce, Luiz Marins, um veterano das palestras motivacionais voltadas a empreendedores, também já teve seu currículo questionado. Em 2001, a revista EXAME, do Grupo Abril, que edita VEJA, fez uma reportagem mostrando divergências em relação a itens da sua formação como um Phd na Austrália, que na verdade era um curso diferente daquele que equivale a um doutorado. E outro na renomada London School of Economics – que se tratava de um curso introdutório à economia feito também no país da Oceania, mas em uma instituição parceira da escola londrina. Ele dizia ter filiais da sua empresa no exterior, a Anthropos, que na verdade eram representações comerciais sem funcionários.

Os paralelos entre Marins e Pesce não se restringem à controvérsia sobre o currículo. Suas palestras são recheadas por raciocínios como “o perigo não é você pensar grande, mas pensar pequeno” e “sem entusiasmo, o sucesso é impossível”. Procurado pela reportagem, Marins disse que não poderia responder ao pedido de entrevista.

O pouco tempo de experiência ou eventuais fracassos de empreendimentos criados não são aspectos necessariamente negativos. Afinal, o palestrante pode se embasar em experiências de terceiros, ou mesmo em seus próprios erros, para ensinar o caminho das pedras à plateia. “Tem gente que tem uma capacidade analítica impressionante”, diz Wollheim .

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Durante o caso Bel Pesce, um dos nomes citados nas redes sociais pelos críticos do chamado empreendedorismo de palco foi o de Cris Franklin. Em sua página no Facebook, ela tem 1,7 milhão de seguidores – e um currículo que informa, de maneira lacônica, que ela é “empreendedora digital há mais de onze anos, especialista em vendas pela internet e criação de negócios digitais“. Sabe-se, por seus vídeos, que ela começou a empreender – não fica claro em quais atividades – quando cursava a faculdade de farmácia. E sabe-se também que seu pensamento empresarial inclui mantras como “a gente tem que acreditar que é possível – porque é” e “é preciso desenvolver o ‘mindset’ para fazer as coisas acontecerem”.

Ao site de VEJA, ela disse, por email, que recebe bem as críticas. “A minha vida toda sempre ralei muito até estabelecer um método que funcionasse redondinho”, afirma. “A faculdade dá muito conhecimento teórico, e nós queremos complementar muitas vezes o conhecimento desse aluno com conhecimento prático. Seu te contar quantas vidas que vi mudarem, dá horas de conversa.”

Tentativa e erro

O ambiente relativamente novo dos negócios na internet, campo de atuação de palestrantes como Cris Franklin, abre espaço para uma lógica mais parecida com tentativa e erro em vez de um planejamento prévio, mais tradicional. Marcelo Aidar,  coordenador adjunto do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV (FGVCenn), diz que o sucesso de empresas que tomaram caminhos não convencionais, como a Apple, pode explicar a opção pelo método mais intuitivo. Ele se aplica, no entanto, a casos específicos.

“Não tinha como o Steve Jobs fazer uma pesquisa de mercado para saber se o tablet daria certo”, compara. Mas é o sonho de fortuna e realização que move muitos dos espectadores de palestrantes motivacionais – sejam eles empreendedores de palco ou não.

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