Candidato francês de extrema esquerda quer nacionalizar Total

Por Daniel Flynn
PARIS, 20 Abr (Reuters) – O candidato de extrema esquerda à Presidência da França, Jean-Luc Melenchon, disse nesta sexta-feira que o país deve se inspirar nas revoluções de esquerda da América Latina e nacionalizar a gigante de petróleo Total, assim como a Argentina está fazendo com a YPF.
Melenchon, cujo aumento no apoio a ponto de entrar na luta pelo terceiro lugar foi a principal surpresa da campanha, disse em entrevista coletiva antes do primeiro turno, no domingo, que a austeridade imposta pelo FMI estava empurrando a Europa ainda mais para a crise e causando pobreza intolerável, assim como aconteceu na América Latina.
O candidato, que diz que o Partido Socialista está mais mole, tem atraído dezenas de milhares de pessoas a comícios ao ar livre e conta com 14 por cento da intenção dos votos.
Seus partidários, irritados com o desemprego e as disparidades entre ricos e pobres, devem apoiar o candidato socialista François Hollande no segundo turno em 6 de maio contra o presidente conservador, Nicolas Sarkozy. Pesquisas mostram que Hollande deve vencer o segundo turno por uma margem confortável.
Melenchon elogiou as “revoluções dos cidadãos” lideradas por líderes latino-americanos, tais como o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e a presidente argentina, Cristina Kirchner, que nesta semana anunciou um plano para tomar o controle da YPF detido pela espanhola Repsol, iniciando um coro de críticas internacionais .
“As revoluções na América Latina são uma fonte de inspiração para nós”, disse Melenchon na reunião com a imprensa estrangeira em sua base em uma fábrica abandonada nos subúrbios de Paris.
“A nacionalização da YPF é a prova de que a revolução dos cidadãos ainda está ativa. Se conquistarmos o poder, poderíamos nacionalizar a Total exatamente da mesma maneira”, disse ele, sob cartazes vermelhos de campanha convidando os eleitores franceses a “tomar o poder!”.
DERRUBEM O EIXO “MERKOZY”
Melenchon está em quarto lugar nas pesquisas antes da votação de domingo, ligeiramente atrás da candidata de extrema-direita Marine Le Pen. Embora esteja muito longe de chegar ao segundo turno, ele agitou a corrida eleitoral com sua oratória impetuosa e capacidade de mobilizar grandes multidões nostálgicas pelas barricadas.
Nos últimos meses, o apoio ao professor de 60 anos aumentou, em meio à frustração popular com o índice de desemprego mais alto em 12 anos e a estagnação econômica.
Melenchon deixou claro que vai apoiar o candidato socialista Hollande após o primeiro turno, mas não chegou a informar quais condições ele pode exigir.
“Faremos tudo ao nosso alcance para fazer Sarkozy perder”, disse ele, dizendo que seria um exemplo para outros países da Europa, notadamente a Alemanha, onde a conservadora Angela Merkel enfrentará eleições em outubro do próximo ano.
“Ao fazer Sarkozy perder, vamos derrubar o eixo ‘Merkozy’: o eixo Merkel-Sarkozy. Um dos parceiros vai cair e, em seguida, só teremos o outro para eliminar. Dentro de um ano, poderíamos desmontar tudo o que eles alcançaram.”
Hollande, que prometeu elevar os impostos sobre grandes empresas e o imposto de renda para os que ganham mais de 1 milhão de euros por ano, disse que suas políticas não serão roubadas por ninguém e se comprometeu a manter o compromisso da França com a UE de equilibrar seu orçamento.
Melenchon, que deixou os socialistas em 2008 para fundar seu próprio Partido de Esquerda, disse que a abordagem de Hollande era muito mole.
Melenchon disse também que o euro tinha favorecido a união do continente, mas estava muito forte devido à insistência de Berlim. O Banco Central Europeu deve enfraquecê-lo, defendeu ele, repetindo apelos semelhantes de Sarkozy e Hollande.
“Precisamos fazer com que o valor do euro caia para que possamos recuperar uma parte dos mercados globais para os nossos produtos”, afirmou.