Campos Neto diz que BC precisa defender decisões técnicas, e não políticas
Presidente da autoridade monetária afirmou que critério técnico é importante 'para que ninguém seja julgado pela cor da camisa que veste'
O Banco Central (BC) precisa passar a mensagem de que as decisões tomadas pelo colegiado são de ordem técnica, e não política, e essa mensagem deve ser transmitida de forma coesa e organizada entre todos os diretores, afirmou o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. O presidente do BC, que tem mandato até o fim deste ano, afirmou que está concentrado em fazer “uma transição suave” do seu cargo para o próximo indicado.
O presidente Lula deve indicar em breve ao Senado Federal qual o nome do governo para a presidência da autoridade monetária — Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC, é o nome mais provável. “Essa transição tem que ser bem-feita para que as pessoas entendam que há continuidade no trabalho e que vamos melhorar a instituição depois de mim”, disse.
Ele defendeu que o debate em torno da atuação do BC “está em amadurecimento” e que os diretores devem ter liberdade e individualidade para tecer comentários publicamente. Ele endossou, no entanto, que isso seja feito respeitando a tecnicidade. “Isso é importante para que ninguém seja julgado pela cor da camisa que veste, ou se foi a alguma festa, e sim pelas decisões que foram tomadas. Espero que isso seja cada vez mais parte da cultura do BC.”
Desde o início do terceiro mandato de Lula, o presidente da República tece críticas públicas a Campos Neto, não apenas sobre a condução da política monetária. O presidente coloca a pecha de bolsonarista em Campos Neto. Recentemente, questionou a participação do executivo em um jantar oferecido por Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, com a independência do BC aprovada em 2021, que tornou o mandato do BC não concomitante ao da Presidência, Lula não pode indicar um chefe para a autarquia.
Em entrevista ao jornal O Globo nesta terça, o presidente do BC, que votou na eleição de 2022 usando uma camiseta amarela da seleção brasileira, disse que hoje “teria feito diferente”. “O voto é um ato privado. Não acho que seria surpresa, as pessoas não achariam que eu não ia votar desta forma. Teria feito diferente, mas acho que, no fim das contas, a autonomia e a independência se fazem pelo que eu fiz ao longo do tempo no Banco Central”, disse.
Rumos da Selic
Durante o evento do BTG, o presidente do BC teceu comentários a respeito da recente pressão nos mercados globais, gerada pela perspectiva de “pouso forçado” da economia dos Estados Unidos, após uma sequência de indicadores piores do que o esperado no intervalo de apenas uma semana. Passados os impactos, porém, o cenário de risco está “bem melhor”.
“O risco está bem menor. O cenário de um pouso suave nos Estados Unidos é o que prevalece, então houve melhora. Existem questões inflacionárias de médio prazo no meio, como a China, a fragmentação do comércio, geopolítica, mas essa parte externa melhorou porque o principal risco era não ter a queda de juros americanos”, afirmou. “Ter juros altos em uma dívida que já é grande extrai liquidez do mercado em volume muito elevado e em rápida velocidade, com movimentos disruptivos em países mais pobres.”