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Caminhoneiros na contramão

É má ideia atropelar as forças de mercado

Por Da Redação Atualizado em 29 jul 2019, 15h15 - Publicado em 26 jul 2019, 07h00

Novamente os caminhoneiros voltam à carga, pondo a faca no pescoço do governo. Querem que a sua tabela do frete, um privilégio de poucos, seja ainda mais generosa. Empreendedores e trabalhadores autônomos menos privilegiados conseguem mais lucros de duas formas: sendo mais eficientes em custos e/ou ofertando melhores serviços, que aumentam a disposição a pagar dos clientes. Os caminhoneiros impulsionam seus rendimentos com uma canetada estatal: aumentando o preço da tabela.

O erro dos caminhoneiros é não entender que se trata de um mercado. O tabelamento impõe às empresas uma taxa sobre o frete rodoviário contratado. Obviamente, elas não ficarão inertes. Muitas já consideram montar frota própria de caminhões. A bagunça do frete rodoviário tem também impulsionado projetos em modais mais eficientes para longa distância, como as ferrovias. No fim, a categoria pode até conseguir um valor maior unitário para o frete, mas terá cada vez menos carga para levar. E parte da população que apoiou a sua greve no ano passado não terá mais paciência com novos desabastecimentos e aumentos de custos.

Erro similar cometem categorias profissionais que querem tabelar seus proventos. Estabelecer um piso salarial para uma profissão incentiva as empresas a empregar estagiários e prolongar sua formatura, bem como a recorrer a uma série de subterfúgios contratuais para escapar da regulação. Salários artificialmente muito altos também podem estimular o desemprego. Um interessante estudo de Claus Kreiner, Daniel Reck e Peer Skov analisou uma peculiaridade no mercado dinamarquês: o salário mínimo dá um salto de 40% quando o trabalhador completa 18 anos de idade. O resultado: queda de um terço na taxa de emprego para as pessoas que passam dessa faixa etária, justamente quando elas se tornam mais experientes e produtivas.

“Parte da população que apoiou a greve da categoria em 2018 não terá paciência com novo aumento de custos”

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Do lado dos compradores, sempre há também quem queira pressionar por preços artificialmente mais baixos. Os governos do PT estimularam a prática da “modicidade tarifária” em concessões de infraestrutura. Esperando receberem menos dinheiro de pedágio em uma rodovia ou sem terem ideia de quanto poderiam cobrar pelo frete ferroviário, os empresários se recusaram a investir. A saída foi distribuir subsídios à vontade, via empréstimos do BNDES e outros benefícios. O resultado: dívida pública crescente e baixíssimas taxas de investimento, que nos afligem até hoje. E esse tipo de política não é exclusividade dos trópicos. Nos Estados Unidos e na Europa tem voltado o debate sobre controle nos preços dos aluguéis de imóveis em grandes cidades, apesar de farta evidência de que limites como esse inibem a oferta de residências e os incentivos para manter adequadamente as unidades alugadas, entre outros efeitos colaterais.

Essas práticas que avançam contra o mercado se sustentam pelo interesse egoísta de grupos organizados e pelo ímpeto populista dos políticos. Elas podem, por algum tempo, colher alguns frutos. Mais cedo ou mais tarde, entretanto, o mercado cobra o seu preço. Muitas vezes, contra os próprios grupos que tentaram desafiar a sua força.

Publicado em VEJA de 31 de julho de 2019, edição nº 2645

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