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Cameron cresce com veto à UE, mas coalizão pode ruir

Premiê britânico ganha pontos no Partido Conservador, contrário à participação da Grã-Bretanha na União Europeia, mas irrita aliados liberais democratas

Por Roberto Almeida, de Londres
18 dez 2011, 05h36

Acusado nos últimos meses por membros de seu próprio partido de promover um governo “em cima do muro” e insosso, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, 45 anos, decidiu reagir e presenteou seus pares com o maior rompimento da história da relação entre a Grã-Bretanha e a União Europeia. O resultado, à primeira vista, é um premiê com força política robusta e renovada no país. Contudo, essa popularidade é localizada, pode durar pouco e ter efeitos negativos no longo prazo.

Em 9 de dezembro, em reunião fechada durante a cúpula da UE, Cameron resolveu fazer um afago aos conversadores britânicos. Peitou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, sob o argumento da “defesa dos interesses” do Reino Unido. Depois do bate-boca, veio a decisão de vetar o acordo de aperto fiscal na zona do euro. Como resultado, o premiê foi tratado durante a semana como o “novo buldogue inglês” – um grande elogio a um líder que precisava marcar terreno para ganhar aprovação interna, sobretudo de membros de seu partido, o Conservador.

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O movimento de Cameron abriu espaço, no entanto, para uma batalha campal dentro do governo de coalizão. Os liberais democratas ficaram enfurecidos com o súbito rompimento com o bloco econômico europeu, sem que antes o premiê tivesse buscado uma saída diplomática. “Eu diria que Cameron decidiu pelo veto na base da política partidária. E a decisão causou todo tipo de problema aos liberais democratas – o partido mais pró-Europa da Câmara dos Comuns”, explica o professor de política da Universidade de Londres, Simon Griffiths.

Não à toa, o vice-primeiro-ministro Nick Clegg, um liberal democrata, não tem escondido sua insatisfação com a atuação de Cameron, dizendo-se “amargamente desapontado” – o que só adiciona combustível à já turbulenta política interna britânica. “O acordo de coalizão com os liberais democratas está menos garantido hoje – e menos propenso a sobreviver os cinco anos até a próxima eleição geral – do que já esteve”, prevê Griffiths.

Repaginação – Antes de romper politicamente com a União Europeia, Cameron era visto com desconfiança por setores mais à direita do conservadorismo britânico e estava com sua liderança ameaçada no próprio partido. Sua ascensão a primeiro-ministro, em 2010, foi feita à base de uma repaginação quase completa da agenda conservadora. A lista de temas que passou a defender incluía defesa do meio ambiente, campanhas de inclusão social, como o “hug a hoodie” (abrace um encapuzado, em referência aos jovens ingleses marginalizados), e apoio ao movimento gay.

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Relações públicas de formação aristocrática e laços familiares com a realeza, Cameron emprestou sua imagem ao que se propunha ser um novo conservadorismo. A escolha teve seu preço. Sua vida foi devassada por três documentários da BBC, que mostraram seus estudos em Eton – uma das escolas mais caras e exclusivas da Grã-Bretanha – e sua falta de engajamento político na Universidade Oxford, onde estudou filosofia, política e economia.

Sua carreira meteórica, de relações públicas a político profissional, foi vista como uma necessidade dentro dos quadros conservadores, abatidos após 13 anos no poder do New Labour, ou novos trabalhistas, do qual faziam parte os ex-premiês Tony Blair e Gordon Brown. O partido conservador, que precisava de uma cara nova e de um discurso atualizado, encontrou em Cameron um ponto de mudança. Ele se tornou líder em 2005.

Cameron fez o conservadorismo renascer das cinzas com uma campanha midiática, que chegou a incluir uma webcam que acompanhava seu dia a dia em casa – apelidada de webcameron – e uma viagem de trenó ao Ártico, com direito a equipe de TV para gravar suas reações ante os sinais do aquecimento global.

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O veto ao tratado da União Europeia foi sua maior guinada à direita até agora, superando a cartilha do conservadorismo britânico dos ex-primeiros-ministros Margaret Thatcher (1979-1990) e John Major (1990-1997), que primaram pela diplomacia com o bloco em vez do rompimento – apesar de toda ambiguidade de sentimento dos britânicos em relação à Europa.

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