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‘Brasil em liquidação’ atrai investidores estrangeiros

Possibilidade de mudança de governo despeja recursos na economia brasileira - e não apenas de aplicações especulativas

Por Luís Lima 16 abr 2016, 08h42

O cenário de instabilidade econômica, que levou o dólar a subir quase 50% em 2015, aliado às expectativas de mudança no comando do país transformaram as compras de ativos brasileiros em uma pechincha para investidores estrangeiros. E eles estão se fartando com o Brasil em liquidação.

Na Bovespa, por exemplo, o total de investimentos externos atingiu um recorde de 53,8% no acumulado do ano até abril. Em março, o saldo dos investimentos estrangeiros na Bolsa foi de 8,39 bilhões de reais, o maior para um só mês desde pelo menos janeiro de 2007. Em relatório divulgado no mês passado, o Instituto Internacional de Finanças (IIF) destacou o Brasil como um dos mercados mundiais que mais receberam recursos do exterior em março. O motivo foi o aumento da expectativa de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“Os últimos doze meses foram os melhores em termos de boas oportunidades de investimento e os próximos dois anos serão tão bons quanto. Investidores institucionais, sobretudo da Europa e Estados Unidos, continuando de olho no Brasil”, afirma o inglês Daniel Rummery, da Brunel Advisors, que desembarcou no Brasil atraído pelo momento de crise. Entre os tipos de ativos ele destaca os do setor imobiliário e de dívidas corporativas.

Na esfera econômica, a valorização cambial faz o preço dos ativos, em dólar, ficar menor e, portanto, mais atraente para quem está lá fora. “Após a correção no mercado de câmbio, vista em 2015, diminuíram as expectativas de uma alta adicional, o que acabou atraindo estrangeiros”, explica Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners. “Quem entrou com dólar em fevereiro, por exemplo, está ótimo. Ele pode voltar, ganhando dinheiro na Bolsa e também na troca cambial.” Entre os fundos estrangeiros que consideram oportunidades no país estão o Lone Star, Cabal, TPG, Elliott.

Oportunidades de investimento são monitoradas, minuto a minuto, por analistas de fundos que trabalham com ativos de mercados mais suscetíveis a grandes oscilações, como os de ações, câmbio e derivativos. Os desdobramentos dos cenários político e econômico estão no radar desses investidores e, em um apertar de botão, fluxos de dinheiro podem entrar ou sair do país, a depender das implicações do fato. No dia da condução coercitiva do ex-presidente Lula, por exemplo, os investidores estrangeiros injetaram 2,12 bilhões de reais na Bovespa, o maior volume para um só dia desde janeiro de 2007.

No mercado de ações, alguns dos setores mais promissores – e blindados ao cenário de crise — são o bancário, os ligados ao agronegócio e também ao mercado internacional, diz Robertson Emerenciano, especialista em direito empresarial da Emerenciano, Baggio & Associados. “Estão ganhando os fundos que apostaram na desvalorização do real e em companhias que ficaram baratas, como a Petrobras”, afirma. Emerenciano explica a dinâmica desse tipo de investidor: os fundos podem ganhar tirando dinheiro do país, direcionando-o para fora, e, em seguida, usando este montante para comprar papéis na Bovespa. O dinheiro é tirado do Brasil a uma certa taxa, e a partir de uma cidade do exterior, compra ações brasileiras, gerando ganhos em dólar.

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Bilhões de dólares entram e saem do país com um apertar de botão

Participações em empresas – A indústria de private equity (que compra participações em empresas), mais voltada a cenários de médio e longo prazos, também tem aproveitado o “Brasil em liquidação”. “Vemos o Brasil como um país em que as instituições funcionam. Acreditamos que o risco é baixo de virarmos uma Venezuela”, afirma Patrice Etlin, diretor da Advent Internacional.

No mês passado, a gestora internacional anunciou a conclusão da captação de um fundo global de 13 bilhões de dólares, que pode ter até 20% do valor investido em mercados emergentes, como o Brasil. “A crise abre oportunidades de investimento, que não existiriam em outro cenário. Temos nela acesso a transações e ativos – empresas que entram em situação de estresse – e que se colocam no mercado”, diz Etlin. Como exemplos, estão a Braskem, a BR Distribuidora, e a Sepetiba, da CSN.

“Os fundos continuam buscando oportunidades de aquisição e olhando o horizonte de médio e longo prazo. Para eles, o Brasil tem oportunidades que não se resumem ao momento de hoje ou ano que vem” endossa Reinaldo Grasson, sócio da área de Financial Advisory da Deloitte. “Vemos, neste cenário, uma série de empresas que buscam desinvestir ativos não essenciais para justamente se capitalizar momento de dificuldade no acesso ao crédito”, acrescenta.

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No setor imobiliário, a grande oferta de imóveis e a deterioração do mercado interno também têm despertado o interesse de estrangeiros. A estratégia é comprar barato em períodos de economia fraca para lucrar quando a retomada chegar. “Há três anos, quando o mercado andava de lado, não víamos as oportunidades que vemos hoje. Atualmente, é uma área que oferece ativos de qualidade, com preços atrativos, o que despertou o interesse de fora e fez com que mudássemos nossa estratégia”, afirma Flávio Ramos, sócio da DXA Investments.

Outro bom exemplo é o do americano Blackstone, que diz ter 15,8 bilhões de dólares disponíveis para aquisições no segmento. Nos últimos anos, a empresa investiu mais de 1 bilhão de dólares no país – entre os ativos, estão alguns que pertenciam à BR Properties.

Futuro – Apesar de o câmbio favorecer a barganha por certos ativos, esta variável, por si só, não explica o maior interesse de certos investidores. Outros fatores, como o risco de uma ênfase em uma política econômica expansionista e o prolongamento das crise política, podem causar o efeito rebote: colocar em compasso de espera algumas decisões de investimento.

Para Juan Carlos Félix, copresidente para a América do Sul do Carlyle — um dos maiores fundos de private equity do mundo -, o momento atual é interessante para fazer negócio, mas muitos investidores ainda estão cautelosos devido às incertezas políticas. A situação deve mudar após o possível afastamento da presidente Dilma. “O impeachment deve provocar uma injeção de otimismo muito grande, com encurtamento da crise”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo.

Ao site de VEJA, o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) Otaviano Canuto disse que os investidores estrangeiros veem oportunidades, sobretudo, após o fim da Operação Lava Jato. “Se o Brasil é visto como um país em que a lei prevalece, melhora a percepção do ambiente de negócios”, ressalta, acrescentando que a economia do país se tornaria mais transparente, eficiente e com mais concorrência após a investigação. “O desmonte dos esquemas de corrupção amplia a competição entre as empresas que atuam com o poder público.”

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