Brasil despenca para o sexto lugar em ranking de atração de investimentos
Há dois anos, país era o que mais recebia capital de fundos de private equity, mas preços altos dos ativos e intervencionismo político frearam os investidores
O Brasil já não é mais o país preferido de investidores de fundos de private equity – especializados em investir em empresas que ainda não estão listadas na bolsa de valores – e de pensão. Em dois anos, o país era líder na atração de investimentos, mas despencou para a sexta posição neste ano, de acordo com um estudo da Empea, uma associação com sede em Washington e formada por 320 fundos, que atuam em países emergentes e administram um trilhão de dólares em recursos.
Em 2011, o Brasil ficou em primeiro lugar no levantamento anual. Em 2012, caiu para o segundo lugar. Neste ano, passou para a sexta posição. Os países da África Subsaariana, que ocupavam o quinto lugar no ano passado, viraram os queridinhos dos investidores e agora aparecem no topo do ranking.
Na pesquisa, os investidores apontam alguns motivos que levaram o Brasil a deixar de ser um dos países mais atrativos para investimento. Aumento da competição de fundos no mercado brasileiro, preços altos dos ativos e risco político são os três principais. Já a África é citada como uma região com perspectiva de crescimento econômico acelerado e de maiores retornos, embora com maior instabilidade política.
No mês passado, em painel de discussões sobre mercados emergentes promovido pela Universidade de St Gallen, na Suíça, o megainvestidor Arif Naqvi, presidente do fundo de private equity Abraaj Capital, disse, sem hesitar, que o Brasil é considerado por ele um país pouco atraente para investimentos. Segundo o paquistanês, o intervencionismo econômico e o ego do governo brasileiro espantam qualquer tentativa de se obter ganhos satisfatórios em operações no país.
A diretora sênior da Empea, Nadiya Satyamurthy, diz que, apesar de não estar mais no topo do ranking, o Brasil ainda é um destino importante para os fundos de private equity e outros investidores institucionais, como seguradoras, fundos de pensão e empresas de gestão de fortuna.
Segundo ela, 40% dos gestores entrevistados na pesquisa planejam iniciar novos investimentos no Brasil ou expandir os atuais projetos nos próximos dois anos – só 2% dos entrevistados afirmaram que planejam reduzir ou parar com suas apostas no mercado brasileiro. “O interesse maior pela África agora é visto mais como uma forma de diversificar os investimentos”, disse Nadiya.
Leia ainda: Megainvestidor faz alerta preocupante: “Não invistam no Brasil”
Indústria de private equity movimentou R$ 80 bi em 2012
Brics – O Brasil não é o único grande país emergente a perder posições no ranking, mas foi o que teve a queda mais acentuada em 2013. Este foi o primeiro ano, desde que a associação começou a fazer o ranking, há nove anos, que nenhum país da sigla Brics (grupo que também inclui Rússia, Índia e China e África do Sul) ficou nas três primeiras posições.
Antes de o Brasil ser o líder, a China era a preferida dos investidores nos anos anteriores. Neste ano, o país caiu para a quarta posição. O segundo lugar no levantamento de 2013 é ocupado pelos países do Sudeste Asiático e o terceiro pela América Latina, excluindo o Brasil. A Turquia também vem ganhando posições, passando do sétimo lugar para a quinta posição. Já a Índia despencou para a nona posição.
Os mercados emergentes devem continuar oferecendo maiores retornos do que os países do primeiro mundo. Dos entrevistados, 61% esperam rentabilidade líquida anual acima de 16% nos emergentes. O Brasil, porém, é considerado um mercado caro: 26% dos gestores disseram que os preços dos ativos no país estão altos e que preferem aplicar em outros mercados da América Latina. O encarecimento dos ativos é reflexo do aumento da competição dos fundos no mercado brasileiro.
Em 2012, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), os fundos de private equity movimentaram 83 bilhões de reais em investimentos no país. Cifra é 27% superior à verificada em 2011 – na época, os aportes atingiram 63 bilhões de reais.
(com Estadão Conteúdo)