
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO, 6 Mar (Reuters) – A economia brasileira cresceu 0,3 por cento no quarto trimestre de 2011 em comparação com o terceiro, levando a expansão acumulada no ano a 2,7 por cento. O desempenho indica que a atividade econômica começou a melhorar no fim do ano passado, apesar de o setor industrial continuar patinando bastante.
“O que está puxando esse crescimento para baixo é claramente a indústria… ela simplesmente não consegue se beneficiar do mercado que está crescendo”, afirmou o economista-chefe do J. Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também informou nesta terça-feira que o Produto Interno Bruto (PIB) teve expansão de 1,4 por cento no último trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.
Pesquisa da Reuters mostrou que a mediana de previsões de 29 analistas consultados mostrava que o PIB brasileiro cresceria 0,2 por cento no quarto trimestre de 2011 ante o período anterior. No ano, as contas apontavam expansão de 2,8 por cento.
No quatro trimestre, o destaque positivo ficou para o consumo das famílias, com crescimento de 1,1 por cento sobre o trimestre anterior, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, cresceu apenas 0,2 por cento.
Já o setor agropecuário teve expansão de 0,9 por cento, enquanto o setor de serviços cresceu 0,6 por cento. Na ponta oposta, a indústria teve queda de 0,5 por cento no período.
No ano fechado, a FBCF cresceu 4,7 por cento, seguido pelo consumo das famílias, com expansão de 4,1 por cento. O consumo do governo se expandiu em 1,9 por cento.
Nos setores, o pior desempenho ficou com a indústria, que cresceu 1,6 por cento, enquanto serviços teve expansão de 2,7 por cento e a agropecuária, de 3,9 por cento.
O desempenho de 2011 veio abaixo do esperado pelo governo. O Banco Central trabalhava com a previsão de que o PIB cresceria 3 por cento no ano passado mas o seu próprio indicador de atividade, o IBC-Br, que registrou crescimento de apenas 2,79 por cento no ano, já havia mostrado que o avanço seria menor.
O IBC-Br, por outro lado, indicou a recuperação no fim do ano. Só em dezembro, foi 0,57 por cento sobre novembro.
Para 2012, a previsão oficial do governo é de um crescimento de 4,5 por cento, mas o BC é mais comedido e aponta apenas 3,5 por cento.
Com o resultado, os agentes econômicos continuam esperando mais cortes na Selic -hoje em 10,50 por cento ao ano- daqui para frente, inclusive na reunião desta quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne novamente. A expectativa é de um corte de 0,50 ponto percentual, mas há algumas apostas em 0,75 ponto.
O mercado futuro de juros trabalhava com fortes quedas nesta terça-feira, com o DI para janeiro de 2014 apontando 9,52 por cento, ante 9,590 no último ajuste.�
QUEDA NO 3o TRI
O IBGE também revisou, e para pior, o desempenho do terceiro trimestre de 2011, com queda de 0,1 por cento sobre o segundo, em relação ao crescimento zero anunciado anteriormente.
O crescimento do segundo trimestre de 2011 sobre o primeiro também foi revisado, para uma expansão de 0,5 por cento, ante o 0,7 por cento divulgado antes.
Sobre o desempenho de 2010 todo, o IBGE manteve o crescimento de 7,5 por cento.
ESFORÇO PARA OTIMISMO
O recuo do crescimento em 2011, quando comparado com o ano anterior, veio sobretudo da crise internacional, cujo epicentro está na zona do euro, mas também pelo esforço do governo entre o final de 2010 até meados de 2011 para esfriar a economia, que estava aquecida e pressionava a inflação.
Em dezembro DE 2010, o governo anunciou medidas macroprudenciais que desestimularam o consumo e em janeiro do ano passado começou um processo de elevação da Selic que somou 1,75 ponto percentual e a levou a 12,50 por cento ao ano em julho.
Com a piora do cenário externo, o governo fez uma volta de 180 graus e passou a estimular a economia novamente voltando a reduzir o juro básico da economia, entre outras medidas. Também deve pesar agora o crescimento menor esperado para a China neste ano.
Apesar do resultado mais fraco do que o governo esperava, ele já tem na ponta da língua o discurso para impedir que o otimismo diminua: o argumento de que a economia já apresenta um desempenho ascendente e dará sinais de atividade mais robusta a partir do final do segundo trimestre.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini, mostram o discurso afiado nessa tese, argumentando que o país vai inclusive crescer mais no segundo semestre. “É uma trajetória de aceleração da economia, um pouco mais moderada no primeiro semestre e uma boa acelerada no segundo semestre. No segundo semestre devemos estar com um crescimento acima de 5 por cento”, chegou a afirmar Mantega em meados de fevereiro.
(Reportagem adicional de Diogo Ferreira Gomes e Jeb Blount)