Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Brasil caminha para o racionamento de energia

Petrobras recorre às federações das indústrias de São Paulo e do Rio para elaborar plano de controle do consumo de gás e energia elétrica

Por Malu Gaspar
19 dez 2012, 14h08

“Estamos na antessala do racionamento. Por isso o pedido de providências ao governo. A última coisa que queremos é que a atividade industrial seja prejudicada, afetando o crescimento da economia”, diz Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial da Firjan

A falta de chuvas e a má gestão do setor energético nacional fizeram o país chegar a uma situação limite: o Brasil está às portas de um racionamento ou mesmo de desabastecimento de energia elétrica e de gás. O alerta foi dado na última segunda-feira pela Petrobras às federações das indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e São Paulo (Fiesp). Interlocutores da presidente da estatal, Graça Foster, procuraram as duas entidades para pedir ajuda na elaboração de um plano de racionamento tanto para a energia elétrica quanto para o gás. Em reação, a Firjan está pedindo ao Ministério das Minas e Energia que esclareça quais providências está tomando para evitar o pior.

As hidrelétricas brasileiras estão gerando menos energia do que são capazes, porque há pouca água disponível. Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste estão no nível mais baixo dos últimos dez anos — apenas 29,8% do total. Essa é a região que produz 70% da energia do país. A previsão para os próximos meses é de uma quantidade de chuvas menor do que nos anos anteriores. Para evitar apagões, todas as termelétricas do país foram ligadas e estão operando a plena capacidade. Atualmente, 20% da energia gerada no Brasil vem das térmicas. Essas usinas podem ser movidas a gás, carvão ou óleo. Dos três, o gás é o insumo mais barato e mais limpo. Além do produto que vem do gasoduto Brasil-Bolívia, o país ainda importa gás liquefeito, mas a Petrobras está encontrando dificuldades em importar gás para os meses de janeiro e fevereiro, o que obrigaria a estatal a tirar gás dos consumidores industriais para continuar abastecendo as térmicas.

O gás é a fonte de energia empregada em 11,3% do parque industrial brasileiro. Os setores que mais dependem do gás para funcionar são o químico e petroquímico, o de cerâmica e vidros e o de metalurgia.Qualquer aumento de demanda, portanto, pode levar a um racionamento ou desabastecimento. Para a Firjan, a situação é “muito crítica”.

Continua após a publicidade

“Estamos na antessala do racionamento. Por isso o pedido de providencias ao governo. A última coisa que queremos é que a atividade industrial seja prejudicada, afetando o crescimento da economia”, diz Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial da Firjan. Para o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (Cbie), o mau planejamento da demanda energética agravou as consequências da conjunção climática desfavorável. “Se não tivéssemos esperado tanto para ligar as usinas térmicas a gás, possivelmente não teríamos hoje reservatórios tão baixos. O governo ficou esperando um milagre da chuva que não aconteceu”, explica Pires. Para ele, o governo deixou para acionar as térmicas mais tarde porque o custo da energia gerada nessas usinas é maior que o da fornecida por hidrelétricas. Seria, portanto, politicamente inconveniente aumentar o preço da energia em um momento em que o governo protagoniza um embate com as distribuidoras de energia elétrica por uma queda no preço das tarifas.

Petrobras – A Petrobras informou, em nota, que está cumprindo “rigorosamente seus compromissos de suprimento de gás natural aos mercados por ela atendidos e não há qualquer risco de desabastecimento aos seus clientes”. A empresa oficialmente nega ter feito contato as federações para tratar de planos de racionamento. “Adicionalmente, a Petrobras ressalta que vem atendendo integralmente ao despacho termelétrico solicitado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)”, diz a nota.

Leia também:

Apagões colocam em xeque segurança do sistema elétrico

Sistema elétrico está perdendo confiabilidade, diz ministro

Desligamento de geradoras provocou apagão de sábado

Continua após a publicidade

Dilma – A presidente Dilma Rousseff usou o tema do racionamento em várias oportunidades para atingir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ela, que foi ministra de Minas e Energia na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, atacou o tucanato durante a campanha presidencial de 2010 argumentando ter sido a responsável por reestruturar o setor elétrico do país e impedir a volta do apagão. Em setembro deste ano, o assunto voltou à baila. No anúncio da redução das tarifas de energia elétrica, Dilma voltou a lembrar dos apagões de 2001. naquele ano, foi necessário o racionamento para evitar a falta de luz. “O novo momento exige que o País faça redução de custos e a redução das tarifas decorre do modelo hidrelétrico que implementamos em 2003. Lembro quando o mercado de energia não funcionava, mas esse País mudou, hoje respeitamos os contratos. Contratos venceram, não se pode tergiversar quanto a isso”, afirmou a presidente, referindo-se ao ano em que ela assumiu a pasta da Energia.

Na mesma ocasião, Dilma fez a seguinte declaração: “Tínhamos um país com sérios problemas de abastecimento e distribuição de energia, que amargaram oito meses de racionamento, que resultaram em grandes prejuízos para as empresas e impuseram restrições à qualidade de vida da população. Tivemos que reconstruir esse setor”, declarou.

Dois dias depois, o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o Brasil não passaria por novos apagões. O que houve no período anterior ao governo Lula foi um racionamento de energia que durou oito meses e que não voltará a acontecer no Brasil. Hoje temos um sistema interligado de Norte a Sul, de Leste a Oeste no País”, afirmou.

Continua após a publicidade

Fiesp – Procurada pela reportagem do site de VEJA, a Fiesp negou que tenha sido comunicada formalmente sobre o alerta da Petrobras. “Para o presidente Paulo Skaf ou para mim, ninguém ligou para falar de escassez de energia elétrica. Formalmente a Fiesp não recebeu nenhum comunicado da Petrobras”, afirmou Carlos Cavalcanti, diretor de infraestrutura da Fiesp responsável pela área de energia. O diretor comentou ainda que falar em racionamento é “alarmismo”.

Na tarde desta quarta-feira, a diretoria do Sistema Firjan emitiu um comunicado às empresas associadas sobre o “agravamento das condições de oferta de energia elétrica e gás no país”. Diz a nota: “A água retida nos reservatórios das usinas hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde se concentra a maior parte dos reservatórios do país, representa atualmente apenas 29% da capacidade total de armazenamento. Para evitar que a redução dos reservatórios atinja níveis críticos de risco praticamente todas as termelétricas disponíveis já estão em operação, não havendo mais, portanto, margem para aumento significativo da geração térmica. Além disso, a logística de abastecimento dessas usinas, em especial as operadas a óleo combustível e a diesel, também não é trivial e tem enfrentado dificuldades. Soma-se a isso a previsão de chuvas para o futuro próximo estar abaixo da média histórica, o que poderá levar à continuidade de redução da capacidade dos reservatórios. Diante desse quadro, a possibilidade de ocorrência de eventos de desabastecimento temporário de energia para o fim do ano e início de 2013 aumentou substancialmente, alcançando níveis preocupantes. Concomitantemente, a elevada demanda de gás natural para suprimento das térmicas poderá levar as distribuidoras estaduais a exercer junto aos seus clientes industriais as cláusulas de flexibilidade e de interruptibilidade dos contratos. Qualquer um dos eventos terá impactos negativos inequívocos sobre a atividade industrial.”

A Firjan informa que solicitou ao Ministério de Minas e Energia e à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do estado do Rio de Janeiro esclarecimentos sobre medidas que possam garantir o “fornecimento adequado desses insumos energéticos, essenciais para a atividade industrial e para todo o país”.

Continua após a publicidade

LEIA TAMBÉM:

Apagão atinge parte dos estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais

Apagão atinge estados do Nordeste e parte do Norte

Lobão convoca reunião de emergência sobre apagão no NE

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.