Bovespa encerra janeiro com pior desempenho em quase 20 anos
Mês foi marcado pela saída de capital externo e temores sobre os efeitos das mudanças da política monetária do Fed nas economias emergentes
A BM&FBovespa largou muito mal em 2014, depois de já ter levado um tombo em 2013. Em janeiro, a bolsa de valores caminhou na contramão da tradicional performance positiva da renda variável brasileira no primeiro mês do ano e acumulou perdas de 7,51%, no pior desempenho para o mês de janeiro desde de 1995, quando caiu 10,77%, segundo levantamento da consultoria Economatica. Apesar do sinal negativo que prevaleceu no início do dia nos mercados internacionais e de uma postura defensiva dos investidores em relação aos países emergentes, o último pregão do mês conseguiu inverter a tendência de baixa e o Ibovespa subiu 0,84%, aos 47.613 pontos.
A surpresa com o mau desempenho de janeiro ocorre pelo fato de o mês ser marcado por alocação de recursos nos ativos de risco, mas, neste ano, a Bovespa não foi agraciada. O primeiro mês de 2014 foi marcado por um fraco ingresso de capital externo, diante das ameaças de rebaixamento no rating soberano do Brasil, e por uma crescente aversão ao risco dos países emergentes, em meio à desaceleração econômica na China e à retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos. Por isso, qualquer perspectiva de melhora da Bolsa doméstica passa por uma mudança em um desses cenários – se não todos. Mas o ambiente não parece muito promissor.
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O analista sênior do BB Investimentos, Hamilton Alves, destaca que o principal problema para a Bovespa continua sendo a “espada na cabeça” do país em relação à nota de risco de crédito. Segundo ele, a possibilidade de rebaixamento do rating e de revisão na perspectiva da avaliação pelas agências de classificação segura o fluxo de capital, principalmente o estrangeiro. “O investidor externo não tem confiança no avanço da economia”, pondera.
Uma das razões para isso é a questão fiscal. O governo só conseguiu fazer um superávit primário graças a recursos extraordinários, como o leilão do Campo de Libra, no pré-sal brasileiro. Mas a meta para 2014 ainda não foi conhecida e, muito mais do que um número em si, o mercado financeiro quer saber se o governo fará novamente uso de uma contabilidade criativa para cumprir o que promete.
Nesse cenário incerto, o receio do investidor estrangeiro com o Brasil é natural e pode ser refletido no saldo de investimento, com as saídas superando as entradas de recursos externos em 732 milhões de reais neste mês até o dia 28. Trata-se do pior resultado para um início de ano desde janeiro de 2010, quando o fluxo de capital estrangeiro fechou o primeiro mês negativo em pouco mais de 2 bilhões de reais.
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Cenário – Os especialistas consultados destacam que o cenário doméstico desagradável é apenas uma continuidade do que foi observado ao longo do ano passado, que culminou em perdas de 15% do Ibovespa. Tanta perda acumulada, no entanto, pode ter um viés positivo, já que o frágil desempenho da Bolsa neste início de ano deve se acomodar, com a percepção de que o “fundo do poço” está cada vez mais próximo – e dali o caminho é o de alta.
Na avaliação do analista da Empiricus Research, Rodolfo Amstalden, a Bolsa brasileira pode piorar mais ainda, antes de melhorar. Em janeiro, o Ibovespa voltou a níveis de julho do ano passado e, o mais provável, é que caia abaixo dos 47 mil pontos em breve, rumo à mínima do ano passado, ao redor dos 45 mil pontos. Ainda assim, a trajetória de baixa poderia seguir até a faixa dos 41 mil pontos, para então, iniciar uma retomada.
(com Estadão Conteúdo)